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Ao primeiro scudetto sem Diego, Nápoles “celebra a vida e exagera-a”. Por isso se entrega também aos mortos (reportagem na cidade em festa)

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Entre o fogo de artifício e as buzinas, parece que soou o alarme do fim do mundo. Mas é o oposto: em Nápoles, o scudetto purifica. Renasce a vida. Esta é uma viagem ao dia em que os napolitanos voltaram a festejar 33 anos depois, mas também à alma de uma cidade. Um sítio que muitos não entendem, mas que nada esconde: nem as suas misérias, nem a sua exuberância. O quotidiano em Nápoles é fascinante, imaginem a festa

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Pipe Olcina, em Nápoles

Quando o Nápoles ganhou o primeiro scudetto da sua história, a 10 de maio de 1987, uma das tarjas que se viam no vetusto San Paolo rezava: “A história quis uma data”. Depois do empate contra a Salernitana no passado domingo, a festa foi adiada mas, imediatamente, sobre o Castel dell'Ovo apareceu uma mensagem: “A história quis outra data”. Assim se pode entender uma cidade que passou meia vida esperando.

Tão caótica como passional, para avançar por la tangenziale, apanhar o comboio ou o autocarro ou até para cozinhar o ragú, um dos pratos mais típicos da cozinha napolitana, é preciso mais que um par de minutos e muita paciência. Inclusivamente, quando acaba o verão e a vida se reinicia, todos estão à espera do 19 de setembro para ver se se cumpre o milagre de San Gennaro. Se o sangue do patrono se liquefazer será um bom ano. Não é preciso dizer se este ano se liquefez…

Isso sim, o scudetto estava há dias como o café: sospeso. Nos cafés de Nápoles, há um costume filantrópico digno de contar. Quando alguém pede um caffé sospeso, paga dois cafés. O seu e o outro que deixa pendente para alguém que o possa necessitar. Entre todas as cidades de Itália, nenhuma desejou tanto este scudetto como a rainha do sul. Por uma questão de relato, Nápoles precisava de acreditar em si mesma sem ter que olhar para o passado.

Depois de 33 anos de espera, depois de falhar o primeiro match point, o clube teve de pedir através das redes sociais o mesmo de sempre: paciência e espera. “Sabemos que esperaram muito tempo, só vos pedimos que aguentem um pouco mais”. Trinta e três anos e quatro dias depois, às 22h37 do dia 4 de maio de 2023, o Nápoles foi campeão e fê-lo à jornada 33. Na cidade da superstição, nada é casualidade.

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