Os ecos da uma provável desistência da Ucrânia da candidatura tripartida com Portugal e Espanha ao Mundial de Futebol de 2030 têm vindo a ganhar cada vez maior dimensão, para o qual contribuem o prolongar da guerra, o progressivo grau de destruição do país e a detenção, em novembro passado, de Andriy Pavelko, presidente da Federação Ucraniana de Futebol, acusado de desviar fundos destinados à construção de uma fábrica de relvados artificiais para campos de futebol.
Perante estes factos, há meia dúzia de dias os jornais “AS” e “The Athletic” avançaram que é Marrocos quem deverá substituir a Ucrânia na candidatura que já conta com Portugal e Espanha à organização do Campeonato do Mundo de 2030. Na corrida já está outra proposta, vinda do quarteto Uruguai, Argentina, Chile e Paraguai, pairando no ar a ideia de que Arábia Saudita, Egito e Grécia podem também apresentar-se em conjunto.
Mesmo sem uma confirmação oficial, a Associação Amizade Portugal Sahara-Ocidental (AAPSO) reagiu de imediato à possibilidade de Marrocos juntar-se à candidatura ibérica e escreveu uma carta a Fernando Gomes, onde começa por enfatizar o facto de as mais importantes competições desportivas não serem alheias ao respeito dos Direitos Humanos e à sua promoção.
Lembrando que “Marrocos ocupa ilegalmente desde 1975 o Sahara Ocidental que, segundo as Nações Unidas, de acordo com um sem número de resoluções e com o parecer do Tribunal Internacional de Justiça, é um território não autónomo, pendente de um processo de descolonização”. A AAPSO sublinha que, devido à resistência do povo saharaui, “sucedem-se as violações dos Direitos Humanos no Sahara Ocidental”, conhecida como a “última colónia de África”.
Na carta que termina com um pedido de reunião, “o mais brevemente possível”, a AAPSO questiona: “Que credibilidade tem Marrocos para acolher um evento desportivo desta natureza quando, para alcançar os seus fins políticos, exerce chantagem sobre outros países utilizando rotas de migrantes e drogas, se socorre de subornos a parlamentares e funcionários europeus (como o demonstra o caso Marrocosgate) e deporta sumariamente todas as pessoas que querem visitar o Sahara Ocidental por não lhe convir que vejam o que aí se passa?”.
Num apelo à FPF - que ainda nada disse sobre a eventual entrada de Marrocos na candidatura conjunta -, pede para que reconsidere a proposta de concorrer com Marrocos “sob pena de o Campeonato Mundial de Futebol se transformar numa ocasião privilegiada de encobrimento das violações dos Direitos Humanos cometidas pelo regime marroquino e daqueles que, conhecendo a situação, lhe dão cobertura”.
De realçar que, em julho passado, quase 680 personalidades portuguesas, entre músicos, escritores e militares de abril, enviaram uma carta ao Governo para que ajude o Saara Ocidental.
Já se sabe que o Mundial 2026 será realizado nos EUA, México e Canadá e em junho próximo a FIFA deverá anunciar quem pode ou não avançar com uma candidatura final ao Mundial de 2030, sendo a decisão final sobre o organizador só será conhecida em setembro de 2024.