O Chelsea derreteu 611 milhões de euros em 18 futebolistas. Trata-se de um clube que há apenas ano e meio conquistou a Liga dos Campeões. Estas movimentações dos novos proprietários, que agarraram no clube na sequência da sanção a Roman Abramovich por causa da guerra na Ucrânia, têm surpreendido, embasbacado e confundido alguns atores que funcionam nos bastidores da Premier League.
E não só. Jurgen Klopp, o treinador do Liverpool que vai visitar o campo do Wolves, foi questionado sobre o assunto. Primeiro, brincou: “Não digo nada sem o meu advogado”. Depois, falou a sério: “Eu não percebo esta parte do negócio, o que se pode fazer e o que não se pode fazer. Eles são todos muito bons jogadores, por isso, desse ponto de vista, parabéns.”
O mercado de janeiro dos blues foi algo nunca visto e os 329,5 milhões de euros pagos nesta janela de transferências superou as faturas apresentas por Serie A, La Liga, Ligue 1 e Bundesliga. Juntos. Os nomes mais vistosos e pagos como se fossem a relíquia mais importante do mundo, neste fresquinho primeiro mês de 2023, foram Mykhaylo Mudryk (70m) e Enzo Fernández, o jovem médio do Benfica que supostamente não deixou Rui Costa muito contente. O Chelsea pagou 121 milhões pelo campeão do mundo, que, não fosse uma eliminação improvável do River na Libertadores, poderia estar apenas a chegar agora ao Estádio da Luz.
Pep Guardiola tem sido, desde que chegou a Inglaterra, acusado de gastar milhões e milhões em bons futebolistas. Não é surpreendente vê-lo a puxar essa cartada neste momento surreal do Chelsea, mencionando até quando a concorrência tentou a penalização do Manchester City quando este não respeitou, em 2020, o fair-play financeiro (algo contornado agora graças à longa duração dos contratos dos jogadores).
“O que o Chelsea faz não é da minha conta. Há regulação e regras. Eu não esqueço que oito ou nove equipas enviaram uma carta à Premier League para sermos banidos”, disse o catalão. O City, já se sabe, gastou muito nos últimos anos, nomeadamente mais de 100, 65 e 62 milhões só em Jack Grealish, Rúben Dias e Rodri.
CRAIG BROUGH/Reuters
E se fosse o City a gastar o que o Chelsea gastou agora?, perguntaram ao treinador. “Eu sei o que aconteceria”, comentou, lembrando depois que os cityzens são o “quinto ou sexto” clube da Premier League em termos de despesa líquida. Segundo a Sky Sports, que coloca o City em quarto nessa lista, o Chelsea foi quem mais gastou desde 2016: 1.7 mil milhões de euros. Em vendas, os londrinos meteram ao bolso 770 milhões de euros. Ou seja, os cofres sangraram 932 milhões de euros.
Neste tipo de contas o City vem apenas na tal quarta posição: gastou 1.2 mil milhões de euros, mas, como vendeu jogadores no valor de 633 milhões, a conta final não é tão assombrosa (nos padrões ingleses): 637 milhões negativos desde o verão de 2016, quando Pep Guardiola chegou ao clube.
“Ganhámos 11 troféus, quatro Premier League em cinco anos”, lembrou. “Isso é o que conta para nós. O que o Chelsea fez, o que outros clubes fizeram, não me diz respeito. Sabemos exatamente no que estamos a trabalhar.”
E continuou: “Claro que nós precisamos de bons jogadores, como o Chelsea, Arsenal, Liverpool e United acreditam nisso. Sem bons jogadores não podes competir, não só aqui na Premier League, como na Europa. Tens de gastar. O mercado agora está wow, é muito”.
Fechando o capítulo das contas e balanços, os clubes que estacionam na segunda e terceira posição são Manchester United e Arsenal. Enquanto os primeiros pagaram 1.2 mil milhões de euros por jogadores, os segundos torraram 925 milhões desde esse verão de 2016 que prometia mudanças com a chegada de Guardiola. Ambos os clubes, com um palmarés magrinho desde então, receberam apenas em troca 269 e 287 milhões de euros, o que ajuda a explicar a posição nesta lista milionária. Contas feitas, no tal balanço entre compras e vendas, das contas bancárias de United e Arsenal voaram 920 e 637 milhões de euros.
“Eu não percebo como isto é possível”, comentou ainda Klopp, antes de mais um fim de semana de futebol na Liga Inglesa. “Mas obviamente que não sou eu que tenho de explicar como funciona. A certa altura eles vão jogar bem juntos, mas quão rápido isso vai acontecer não sei…”
Na jornada 22 já se jogou o Chelsea-Fulham, um jogo que terminou sem golos. Enzo Fernández estreou-se como titular, com a camisola 5. O Arsenal, líder do campeonato, visita o campo do Everton (12h30, Eleven Sports 1), que tem um novo treinador, e o Manchester United recebe o Crystal Palace (15h, Eleven Sports 2). Finalmente, o Liverpool vai ao campo do aflito Wolves (15h00, Eleven Sports 1) e o prato forte da jornada joga-se no domingo: Tottenham-City (16h30, Eleven Sports 1).