Dobrou-se o ano com o interesse do Chelsea num certo argentino a pairar nos ares da Luz, viu-se como tal se repercutiu na sua cabeça que, depois, serenou-se, “quase esfumou” até aos dois últimos dias do mercado de transferências de inverno, o 30 e 31 de janeiro, quando surgiu “a outra proposta”. Enzo Fernández aí virou “intransigente” e “nunca mostrou sequer abertura para continuar no Benfica” - nem Rui Costa manteve a vontade de carregar na “solução” de o campeão do mundo ficar no clube até ao final da época “sem perder um tostão” e “com o contrato com o Chelsea seguro”.
Espremido o conteúdo, o sumo da entrevista de Rui Costa esteve na venda do médio argentino ao Chelsea por €121 milhões, formalizada a meros minutos da meia-noite, pela qual o presidente do Benfica se afirmou “tão triste como qualquer benfiquista por ter perdido o jogador, mas contente pelas linhas do processo”. Durante quase uma hora, o líder do clube esteve no estúdio da “BTV” e só para lá do equador da conversa surgiram as perguntas sobre o caso do futebolista que, garantiu, “desde o princípio mostrou vontade de não ficar no Benfica”.
Alongando-se bastante no tema, Rui Costa contou que “tudo” fez para “mitigar a perda do Enzo”, tentando mantê-lo até ao final da temporada e propondo até um aumento salarial a quem tinha somente cinco meses de clube. “Tentámos explicar-lhe, o Enzo é um jogador extraordinário, não iria perder valor no Benfica até ao final da época, tentámos mostrar que no final iria aparecer o Chelsea e muitos mais clubes”, revelou, admitindo que a oferta de um ordenado melhorado nem chegou “a metade” do que os ingleses ofereceram ao argentino - “era completamente inviável”.
A solução foi propor ao Chelsea, “por volta da hora de almoço” de terça-feira, que Enzo ficasse no Benfica até ao final da época “reduzindo substancialmente o valor da venda” e a Enzo “a possibilidade de não perder 1€”. Foi à hora da refeição que “a coisa muda”, assegurou Rui Costa, visivelmente descontente com o “nenhum compromisso” mostrado pelo melhor jogador jovem do último Mundial: “Uma coisa é respeitar que o jogador está a perder um contrato enorme, outra é eu não o fazer perder 1€ e o jogador continuar a não querer ficar no Benfica”.

Chelsea Football Club
O presidente dos encarnados lembrou ter assumido, em tempos, “que não venderia um jogador abaixo do valor da cláusula” apesar de, pelo que disse, ter proposto ao Chelsea uma venda de Enzo abaixo dos €120 milhões estipulados no contrato com do argentino. Rui Costa reforçou, repetiu e insistiu na postura que lhe atribuiu - “a partir do momento em que teve esse valor [os €120 milhões da cláusula], praticamente não deu chance nenhuma de alterar a sua cabeça”. E explicou como “entre o adepto” que é, “o presidente que tem de gerir o clube” e o “homem de balneário” que sempre diz ter sido, Enzo Fernández passou a ser “um jogador que não queria mais no Benfica a partir do momento em que ficou claro que não estava comprometido”.
Postura que também vincou, com insistência: “Este jogador nunca mais iria entrar no balneário, mostrou-se completamente descomprometido com o projeto, não é a bater no peito, isso qualquer jogador pode fazer. É aí que tomo a decisão. Acho que o Enzo foi bem tratado por toda a gente, tive sempre a esperança de que ao Enzo também desse gosto e prazer lutar pelo título de campeão até ao final da época”.
Frisando que “não [vai] ficar a chorar por um jogador que não quer ficar” no clube e apelando o mesmo aos benfiquistas, Rui Costa sublinhou que “o caminho é para a frente, não para trás”, desdobrando-se ainda a falar de outras novidades recentes do Benfica depois de “explicar que razões levaram o Benfica não a vender” Enzo, “mas a perder o jogador”.
Argumentou que não foi contratado um médio centro porque “não iria trazer nenhum jogador só para mostrar que era para o lugar do Enzo”, além de que o clube sofreria sempre as consequência de aparentar urgência - “não só os clubes não os libertaram, como o jogador que valesse €10 milhões, passaria a valer €50 milhões ou o valor da cláusula”. Depois, elogiou Gonçalo Guedes sem freios, que “a partir do momento em que soube da nossa vontade, não hesitou, quis voltar a casa”. E confirmou a rescisão por mútuo acordo com André Almeida, o agora ex-capitão que “merece o maior respeito” e esteve nos últimos 15 títulos do Benfica, que face “à muito pouca utilização”, foi-lhe “dada” a rescisão “para ser um jogador livre e escolher o melhor rumo para a carreira”.
Não o disse a fechar, mas até a abrir, quando a conversa ainda sumarizava os €128,3 milhões lucrados com transferências neste mercado contra os €16 milhões gastos, na maioria, no norueguês Andreas Schjelderup e o dinamarquês Casper Tengstedt, "dois jogadores de enorme qualidade, muito talentosos, jogadores de presente e de futuro”:
“Não gastámos de forma exagerada, estamos a usar todos os critérios necessários para termos um equilíbrio financeiro sempre apontando à parte desportiva. Não sou nenhum louco para levar o Benfica a uma falência financeira, sabemos a estrada que temos pela frente, acima de tudo [está] o projeto desportivo, sempre à frente do financeiro.”