Desde que, no ano passado, assumiu publicamente ser homossexual, Josh Cavallo tem recebido uma onda de reações positivas. Tanto da parte dos colegas de profissão - sendo que houve já quem se inspirasse no jogador e seguisse o seu exemplo - como da parte dos adeptos. Mas nem tudo é bom. O jogador australiano enfrenta agora um dilema: para realizar o sonho de jogar um Mundial ao serviço do seu país, terá que se deslocar a um lugar onde os homossexuais continuam a ser vítimas de discriminação.
A Amnistia Internacional diz que as mulheres e as pessoas da comunidade LGBTQ+ continuam a enfrentar discriminação no Catar e que a censura só aumentou nestes meses de preparação para o Campeonato do Mundo. Questionado, em entrevista à Sky Sports, se estaria disposto a participar do torneio, Cavallo disse: “Eu iria ao Campeonato do Mundo, sim. Quero mostrar que está tudo bem para todos. Não é só para o Josh Cavallo porque ele é um futebolista e está protegido, quero que seja ok para aquela pessoa comum”.
Ainda assim, não iria de ânimo leve e, na realidade, ainda tem algumas questões que o deixam de pé atrás.
“Mas isso preocupa-me. Se eu representar a Austrália no Campeonato do Mundo, e estou a fazer por isso, seria uma honra mas, ao mesmo tempo, as leis entram em conflito. Quero fazer algo realmente bom na minha carreira, sempre sonhei em jogar pelo meu país no Campeonato do Mundo, mas será que quero que a minha vida esteja em perigo?", questionou.
O jogador já vestiu a camisola australiana pela equipa de sub-19, mas ainda não conseguiu chegar à seleção principal. Caso seja este ano, no Mundial, vai jogar num país onde ser homossexual é ilegal e punível por lei. Cavallo considera “triste” ter que chegar a este ponto em que poderá ter de fazer uma escolha.
“É difícil e um pouco triste. É difícil escolher qual se quer fazer. Mas em todas as minhas mensagens há muitas pessoas desses países que têm de escapar só para poderem viver livremente e serem elas próprias. Espero que isto mude no futuro, porque não está bem como está a acontecer agora. É algo a que definitivamente podemos dar a volta”, disse.
Ainda assim, o australiano não deixa de olhar para o lado bom. Na mesma entrevista lembrou as mensagens que tem recebido desde que fez o anúncio público e o carinho com que foi acolhido por todos. Principalmente aqueles que sempre gostou de ver jogar.
“Obviamente as mensagens das estrelas do futebol, ícones como Zlatan Ibrahimovic, [Antoine] Griezmann e [Jesse] Lingard. Quando era mais novo, acordava para os ver jogar de manhã cedo, por isso é bom ver estes atletas heterossexuais a estender a mão e a dizer: 'Hey Josh, está tudo bem'”, afirmou.
Mas o que mais destaca destes últimos meses é a possibilidade de ajudar várias pessoas e de se tornar o exemplo a seguir que não tive: “Sim, eu tinha Justin Fashanu. Obviamente acabou numa história triste. Mas eu quero que aqueles miúdos, aquele pequeno Josh que está a ver, diga, 'Olha o Josh Cavallo, ele é gay e está confortável na sua própria pele'. Esta é a mensagem que quero transmitir”, concluiu.