Futebol feminino

FiFPro vai estudar a ‘pandemia’ das lesões nos joelhos nas mulheres e investigação pode ser replicada em Portugal

FiFPro vai estudar a ‘pandemia’ das lesões nos joelhos nas mulheres e investigação pode ser replicada em Portugal
Gualter Fatia

Em Inglaterra, foi lançado um estudo aprofundado sobre lesões no ligamento cruzado anterior que muito tem afetado o futebol feminino - as mulheres têm até seis vezes mais hipóteses de sofrer este tipo de mazela. O Sindicato dos Jogadores diz que em Portugal se vai aguardar para replicar este projeto a nível nacional. Concussões cerebrais, adequação dos ciclos de treino ao período menstrual, nutrição, suplementação necessárias e maternidade são outros tópicos em discussão entre quem defende os interesses das jogadoras no panorama internacional

A pandemia das lesões relacionadas com o ligamento cruzado anterior (LCA) afastou várias das maiores estrelas do futebol feminino do último Mundial. Ainda que a prudência seja sempre obrigatória no tratamento de assuntos médicos, o historial faz pairar algum pânico quando uma jogadora cai ao chão e se agarra ao joelho.

Inglaterra foi um dos países cuja exposição conquistada por algumas jogadoras levou a que o problema tenha conseguido maior destaque. Leah Williamson, a capitã da seleção inglesa, foi uma das vítimas que viu o Mundial da bancada por conta deste tipo de lesão no joelho. “Foi como se alguém tivesse cortado o meu joelho e batido com um martelo no meio”, disse a jogadora do Arsenal numa entrevista ao “The Telegraph” depois de ter regressado aos relvados. “Quando a FIFA e a UEFA estão a fazer o calendário [da época], a prioridade devia ser o descanso”, denunciou Leah Williamson, que considera “insustentável” a sobrecarga de jogos.

Para responder a este e a outros casos, a FIFPro, organização que representa jogadores a nível mundial, a Professional Footballers Association, associação que zela pelos interesses dos futebolistas ingleses, lançaram um programa de três anos para aprofundar conhecimentos sobre as lesões relacionadas com o LCA. O estudo conta ainda com a colaboração da Nike e da Universidade de Leeds Beckett.

De acordo com a nota da FIFPro na qual foi anunciado o lançamento do programa, “as mulheres têm duas a seis vezes mais probabilidade de sofrerem lesões no LCA e cerca de dois terços das lesões no LCA que ocorrem no futebol feminino ocorrem quando não há contacto físico”. O “Project ACL”, como foi designada a pesquisa que vai envolver jogadoras e clubes da liga inglesa, procura “um melhor entendimento do seu ambiente de trabalho, identificar as melhores práticas e providenciar soluções para apoiar e reduzir as lesões no LCA”.

Apesar do estudo se focar em Inglaterra, o problema é mais amplo. Para já, em Portugal, não se equaciona uma investigação semelhante. João Oliveira esclareceu à Tribuna Expresso que foi “pelo facto de não haver informação sistematizada em nenhum país sobre a ‘suspeita’ de uma maior tendência para lesões no LCA, especialmente se compararmos competições com a mesma sobrecarga de jogos - no feminino e no masculino - que se decidiu avançar com um estudo piloto”. O responsável pelo gabinete jurídico do Sindicato dos Jogadores, membro do FIFPro, não exclui que seja possível “replicar, posteriormente, este estudo [da FIFPro] a nível nacional, acompanhando as recomendações que irão, certamente, resultar”.

O Sindicato dos Jogadores está inserido no projeto Raising Our Game 25, que visa estabelecer áreas prioritárias para o desenvolvimento do futebol feminino, junto de Eslovénia, Chipre, França, Itália, Holanda, Dinamarca, Escócia, Grécia, Inglaterra, Espanha e Suécia.

João Oliveira aponta que “todos os países reconhecem que não existe ainda uma verdadeira especialização dos protocolos para prevenção e tratamento de lesões, com referências às necessidades e características fisiológicas das jogadoras”. As concussões cerebrais, a adequação dos ciclos de treino ao período menstrual, a nutrição e suplementação necessárias e a maternidade são os tópicos em debate.

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