Entra uma barulheira pelo ouvido, mixórdia de música a conceder melodia a gritos femininos que improvisam a entoação possível de uma canção das Doce, extinta girls band portuguesa. Os telemóveis são espertos, mas não são capazes de nos avisar de um vindouro arraial festivo antes de lhes encostarmos a orelha. Do outro lado, Francisco Neto atende e um perdão é pedido por o desviarmos da merecida farra. “Tranquilo, a festa é delas”, responde com uma voz com tom de sorriso.
O selecionador nacional parece descobrir uma acalmia exterior. O silêncio ambiente lá o rodeia, só o estridor de um grilo se escuta, às tantas, no recato onde repete estar “muito feliz”. Acabou de qualificar Portugal para uma presença inédita no Mundial feminino, num jogo contra os Camarões em que se fartou de gritar e gesticular. Há fotos dele côncavo, a berrar curvado sobre si próprio, punhos fechados no alegre esgar a que se dedica num intervalo dos abraços às jogadoras. A sua quase década no cargo (desde 2014) já estava dourada com história pelas qualificações para os Europeus de 2017 e 2022.
Para quem, há um par de horas, rejubilou de novo com a participação garantida ao apogeu da bola, Francisco Neto soa inesperadamente calmo. “Especial, especial, vai ser ouvir o hino no primeiro dia, isso é que é sempre especial, olhar para a nossa bandeira nesse dia”, antecipa, sobre a estreia que virá a 23 de julho contra os Países Baixos, uma das gordas favas saídas a Portugal - depois das vice-campeãs mundiais, defrontará os EUA, terra das rainhas do futebol (1 de agosto), com um mais simpático duelo com o Vietname pelo meio. Serem “altamente competentes” nas três partidas é o seu desejo dito assim, a quente, para o que virá daqui por cinco meses.