Depois dos golos de Carole Costa e Glódís Viggósdóttir, no play-off final, os quase 5600 espectadores tiveram de roer as unhas mais um bocadinho naquela fresca terça-feira de outubro, no Estádio Capital do Móvel. Os golpes certeiros de Diana Silva, Tatiana Pinto e Kika Nazareth inauguraram imediatamente o final feliz daquele Portugal-Islândia e autorizaram o sonho maior.
“Fizemos um jogo do outro mundo, que eu não via sequer a seleção masculina fazer”, celebra, tanto tempo depois, Paula Cristina, uma ex-futebolista com 102 internacionalizações. “Estive na bancada com algumas colegas, estavam também a Carla Couto e a Alfredina [Silva], que é mais antiga. As lágrimas vieram-nos aos olhos com a emoção. Não interessa se sou eu, a Maria, a Carla, a Dolores ou a Kika Nazareth, o importante é que é Portugal.” A seleção portuguesa de futebol feminino disputa na próxima madrugada o derradeiro jogo que poderá significar a presença no Campeonato do Mundo, a primeira da história.
Por isso mesmo, a Tribuna Expresso puxou a fita atrás e tentou perceber que mundo era aquele em que Paula Cristina e outras jogadoras tentaram fazer exatamente o mesmo que Jéssica Silva, Tatiana Pinto e companhia tentam agora. A qualificação para o Mundial de 1999 foi a primeira com um formato condizente com os nossos dias. Para o Campeonato do Mundo de 1995 as seleções apuradas dependiam da prestação no Campeonato da Europa (na fase prematura do torneio Portugal só ganhou à Escócia). Antes, no primeiro dos primeiros Mundiais, em 1991, a seleção portuguesa nem existia, pois foi extinta entre 1983 e 1993. Nesse interregno que parece eterno perdeu-se tempo, talento e sonhos.