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Futebol feminino

“Treinávamos e jogávamos em pelado. Era muito amor ao futebol”: uma viagem até ao apuramento para o Mundial feminino de 1999

Extinta entre 1983 e 1993, a seleção portuguesa disputou a qualificação para o Campeonato do Mundo de 1999 contra Dinamarca, Rússia e Bélgica. Carla Couto, Edite Fernandes, Paula Cristina e Anabela Silva recordam à Tribuna Expresso aquela caminhada com tiros de metralhadora e gatos que desapareciam ao barulho, e confessam também as agruras e as esperanças de uma geração que teve de “partir pedra". Na véspera do Portugal-Camarões, que poderá colocar as portuguesas num Mundial pela primeira vez, estas ex-futebolistas explicam como era o futebol feminino no fim do século XX

Hugo Tavares da Silva

FPF

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Depois dos golos de Carole Costa e Glódís Viggósdóttir, no play-off final, os quase 5600 espectadores tiveram de roer as unhas mais um bocadinho naquela fresca terça-feira de outubro, no Estádio Capital do Móvel. Os golpes certeiros de Diana Silva, Tatiana Pinto e Kika Nazareth inauguraram imediatamente o final feliz daquele Portugal-Islândia e autorizaram o sonho maior.

“Fizemos um jogo do outro mundo, que eu não via sequer a seleção masculina fazer”, celebra, tanto tempo depois, Paula Cristina, uma ex-futebolista com 102 internacionalizações. “Estive na bancada com algumas colegas, estavam também a Carla Couto e a Alfredina [Silva], que é mais antiga. As lágrimas vieram-nos aos olhos com a emoção. Não interessa se sou eu, a Maria, a Carla, a Dolores ou a Kika Nazareth, o importante é que é Portugal.” A seleção portuguesa de futebol feminino disputa na próxima madrugada o derradeiro jogo que poderá significar a presença no Campeonato do Mundo, a primeira da história.

Por isso mesmo, a Tribuna Expresso puxou a fita atrás e tentou perceber que mundo era aquele em que Paula Cristina e outras jogadoras tentaram fazer exatamente o mesmo que Jéssica Silva, Tatiana Pinto e companhia tentam agora. A qualificação para o Mundial de 1999 foi a primeira com um formato condizente com os nossos dias. Para o Campeonato do Mundo de 1995 as seleções apuradas dependiam da prestação no Campeonato da Europa (na fase prematura do torneio Portugal só ganhou à Escócia). Antes, no primeiro dos primeiros Mundiais, em 1991, a seleção portuguesa nem existia, pois foi extinta entre 1983 e 1993. Nesse interregno que parece eterno perdeu-se tempo, talento e sonhos.

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