Perfil

Futebol feminino

Como é a vida sem a dona da Bola de Ouro e a 2.ª jogadora mais votada nessa eleição? A seleção de Espanha está prestes a descobrir

O nível de dificuldade aumentou, é certo. A Espanha perdeu a atual vencedora da Bola de Ouro e a jogadora que ficou em segundo lugar na votação. O favoritismo que carregou durante muito tempo diminuiu, mas nem por isso a equipa deixou de ter formas de responder ao desafio. Experiência, talento e até o fator surpresa podem levar esta seleção longe no Euro 2022. O primeiro desafio é frente à Finlândia

Rita Meireles

Michael Regan - UEFA

Partilhar

A seleção de futebol feminino espanhola chega ao Euro 2022, em Inglaterra, com um historial que não assusta muitas adversárias. Não conseguiram qualificar-se para três dos últimos cinco europeus e as suas duas últimas aparições terminaram em derrotas nos ‘quartos’. Se olharmos para o Mundial, os registos continuam a ser pouco emocionantes. Os primeiros seis Campeonatos do Mundo começaram e terminaram sem a Espanha aparecer e, quando a equipa finalmente se classificou, em 2015, voltou a casa sem ganhar. Quatro anos depois, em França, registaram a primeira e única vitória num Mundial, mas foram eliminadas nos oitavos-de-final pelos Estados Unidos.

Mas nada disto impede a seleção espanhola de chegar ao Euro 2022 como uma das favoritas à vitória. A evolução dos últimos anos é inquestionável e está à vista de todos. Desde a saída do Mundial, a Espanha só perdeu uma vez, num jogo contra os Estados Unidos. A derrota por 1-0 na "She Believes Cup" aconteceu em março de 2020.

Não foram derrotadas desde então. São já 23 jogos.

"É a equipa que joga o melhor futebol do mundo. A um nível conceptual, são muito superiores às outras. A Espanha ainda precisa de dar esse próximo passo, chegar a uma final e ganhá-la. Mas a nível conceptual, é possível ver o que são capazes de fazer em qualquer jogo", disse Pedro Martinez Losa, o espanhol que treina a seleção feminina da Escócia, à “BBC”.

Grande parte dessa expetativa tem um nome. Em Espanha, os adeptos chamam-lhe “La Reina”. O que por si só já demonstra a dificuldade de responder à questão: como é que se substitui a rainha?

A seleção à qual muitos atribuem o favoritismo perdeu a sua maior estrela a poucos dias do primeiro jogo no Europeu, devido a uma rotura do ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo. Chama-se Alexia Putellas e é a melhor jogadora de futebol do mundo.

A notícia chocou os espanhóis, mas também os adeptos que gostam de futebol. Até porque surgiu numa altura em que os adeptos ainda estavam a tentar aceitar a perda de Jenni Hermoso, que também está ausente do Euro 2022 com um problema no joelho. Hermoso é a melhor marcadora do Barcelona e da seleção espanhola. Na última cerimónia de entrega da Bola de Ouro, que Putellas venceu, Hermoso ficou em segundo.

NurPhoto

Entre as duas jogadoras, contam-se 72 golos pela seleção. A equipa perde a base, mas talvez ainda seja possível atingir o objetivo final. Certo é que o desafio será maior.

“Sem Alexia, o nível da equipa espanhola diminuiu um pouco. Depois destes dois bons anos, ela queria fazer algo grande com a equipa nacional. Ela estava à espera deste torneio para ganhar algo com a Espanha. É realmente importante que ela esteja na equipa em termos de liderança. Mas sem Alexia, talvez Aitana Bonmati, Mariona Caldentey ou Patri Guijarro possam assumir esse papel. Estas jogadoras podem dar um passo em frente e ser muito importantes para esta equipa espanhola no torneio”, disse Lluís Cortés, antigo treinador do Barcelona, à “BBC”.

Bonmati, de 24 anos, Caldentey (26) e Guijarro (24) são todas jogadoras do Barcelona. A captação de várias jogadoras das culés, uma das melhores equipas da Europa, é vista como a fórmula que levou ao sucesso desta seleção.

Se o segredo estiver na experiência, Leila Ouahabi e a capitã Irene Paredes trazem os fatores experiência e talento. Mas se Jorge Vilda, o treinador espanhol, quiser optar pelo fator surpresa, que já funcionou em diversos momentos da história do futebol - Portugal e a final do Euro 2016 que o digam - então as jogadoras chave poderão ser Amaiur Sarriegi ou Claudia Pina.

Michael Regan - UEFA

Sarriegi, jogadora do Real Sociedad, foi chamada para preencher a vaga de Putellas. Apesar dos seus 21 anos, já soma 12 golos pela seleção. Mas a mais nova do plantel é Pina, que aos 20 anos já brilha no Barcelona. Em 24 jogos na liga espanhola, marcou 14 golos e fez 11 assistências. Os golos pela seleção ainda não surgiram, mas esta pode ser uma boa oportunidade para provar o que vale.

No podcast sobre o Euro 2022 da “Sky Sports”, Anton Toloui realçou que “há uma diferença entre perder uma boa jogadora e perder a melhor jogadora do torneio”. Mas o futebol é um jogo coletivo e não há como considerar que a Espanha esteja afastada da luta pelo título. Será mais difícil, mas talvez a receita esteja na capa da passada terça-feira do jornal “Marca”: sejam 23 Alexias.