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Zhou chegou à Fórmula 1 este ano, mas antes da estreia já lidava com o abuso online. Algo que, confessa, “doeu um bocado”

O abuso online tem sido uma realidade na carreira de muitos atletas, em várias modalidades. No caso de Zhou, o que o magoou mais foi o facto de as pessoas julgarem sem conhecerem sequer o seu percurso. Desde que chegou à Fórmula 1 já conseguiu mudar muitos pontos de vista

Rita Meireles

JURE MAKOVEC

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2022 foi o ano em que Guanyu Zhou deu o tão desejado salto da Fórmula 2 para a Fórmula 1. O primeiro piloto chinês a chegar à categoria-rainha juntou-se a Valtteri Bottas na totalmente renovada dupla da Alfa Romeo. Mas o período que deveria ter sido de total felicidade para o rookie acabou por ficar marcado pelo abuso que sofreu online.

Antes mesmo de se estrear nas pistas, várias pessoas questionaram a sua aptidão para o lugar e marcaram-no como um piloto pago, ou seja, alguém que traz consigo patrocínios que vão financiar a equipa. O próprio Antonio Giovinazzi, que Zhou substituiu na Alfa Romeo, disse depois de perder o seu lugar que a Fórmula 1 poderia ser "implacável" quando "o dinheiro manda".

"Doeu um bocado. Quando conquistas o teu sonho, e eu terminei no top três da F2 e tinha assegurado os pontos da superlicença, e as pessoas não seguem a tua caminhada e falam assim, dói um pouco do meu lado", disse o piloto à “Autosport”.

Quando questionado se eram os comentários online que mais o magoavam, Zhou acabou por dizer que sim: “Sim, hoje em dia as pessoas usam muito a internet e as redes sociais. Quando isto aconteceu, fiquei bastante surpreendido com a quantidade de pessoas a enviar comentários racistas ou coisas do género. Também há adeptos que apoiam, mas muitos deles não seguem realmente a F2 ou as séries júnior. Eles seguem apenas a F1, olham para quem és, vindo da China, [e dizem] que essa é a única razão pela qual conseguiste um lugar. É uma espécie de dor, porque quando se tem um sonho e finalmente se chega a ele, espera-se que as pessoas enviem os parabéns, não estas mensagens que tentam derrubar-te".

Zhou tomou a decisão de permanecer calado durante essa altura, mas logo na primeira parte do Mundial deste ano deu aquela que considerou ser “a melhor resposta” aos críticos, com boas prestações e um oitavo lugar no Grande Prémio do Canadá. "Consegui provar o meu ponto de vista e mudar a opinião da maioria das pessoas, por isso estou muito feliz”, confessou.

Ao longo dos últimos meses, a mudança no tipo de comentários que recebe nas redes sociais foi clara. Até recebeu alguns pedidos de desculpa pela forma como o julgaram sem conhecer antes do início da época.

“As redes sociais são boas, mas têm o lado negativo das pessoas que enviam comentários maus sem motivo. Mas penso que, de um modo geral, estou a lidar bastante bem com tudo isto. É diferente do que eu imaginava quando assinei o contrato. Quando se está na Fórmula 2, toda a gente espera que se assuma o lugar na Fórmula 1. Em 2021, todos queriam que eu ocupasse um lugar na Alpine. É bastante estranho como meio ano muda tudo, só porque se tem o lugar", disse.

Manter esse lugar é agora o maior foco do piloto, principalmente numa altura em que a grelha da Fórmula 1 já passou por mudanças inesperadas e está cheia de rumores que, a serem verdade, deixam alguns pilotos numa posição de incerteza para 2023.