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Fórmula 1

Leclerc e Sainz, uma relação de amizade e rivalidade na Ferrari: “Competem por tudo: quem chega primeiro à porta da casa de banho, tudo”

Foi com Charles Leclerc e Carlos Sainz que a Ferrari regressou às vitórias. Isso e com um novo regulamento que a fábrica de Maranello soube ler melhor do que quase todas as equipas. Os dois pilotos recordaram a primeira vez que visitaram a sede da Ferrari e mostraram-se competitivos um com o outro dentro e fora da pista

Rita Meireles

Peter J Fox

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Maranello, ou Ferrari Land para alguns, é uma comuna italiana da região da Emília-Romanha tão associada à marca automóvel que já dá o nome à fábrica da equipa de Fórmula 1. Como se a fábrica e a localidade fossem uma só. E não é qualquer pessoa que lá entra. Aliás, Charles Leclerc ficou à porta e Carlos Sainz entrou pela porta dos fundos na primeira vez que lá foram.

Leclerc tinha 11 ou 12 anos na altura e tentou visitar a fábrica com um amigo da família que trabalhava para a Ferrari. Não conseguiu entrar no complexo. “Sentei-me no parque de estacionamento durante duas horas", lembrou em entrevista à "GQ", "a tentar adivinhar como era o interior. Imaginei o filme 'Charlie e a Fábrica de Chocolate', sabes? Com Oompa Loompas a correr por aí".

No caso de Carlos Sainz a discrição era necessária. Na altura da sua primeira visita a Maranello, o espanhol ainda era piloto da McLaren. Hoje chama ao momento "uma expedição secreta".

“A intenção era esperar pelo final do contrato com outra equipa, então entrei pelas traseiras”, explicou Sainz na mesma entrevista, realçando que sempre sentiu vontade de pertencer à equipa mais antiga da história da Fórmula 1.

Hoje são os dois nomes que carregam as renovadas esperanças da equipa italiana. Depois de vários anos no topo da modalidade e de uma história recente menos conseguida, regressar às vitórias este ano trouxe uma lufada de ar fresco em Maranello. Neste momento, com 334 pontos, a equipa está em segundo lugar no campeonato de construtores, e tem os seus pilotos na segunda e quinta posições. Leclerc está ainda na luta pelo título, apesar de neste momento Max Verstappen depender apenas dele próprio para revalidar a vitória no Mundial.

Ainda assim, e tendo em conta as desilusões das últimas corridas, Leclerc não se deixa fascinar: “Quando se tem sete anos, ganha-se duas corridas seguidas e pensa-se que se é imbatível. O meu pai disse-me: sê sempre humilde, mesmo nos bons momentos, e especialmente quando te sentes imbatível".

A dupla está na mesma situação que qualquer outra que faz parte da grelha de Fórmula 1. Um é o número 1 e o outro o número 2. Ainda que a equipa insista em negar que assim seja, chamando à relação entre os dois uma rivalidade entre colegas da escola. “Eles são próximos. Estão sempre na conversa. Eles competem por tudo: quem chega primeiro à porta da casa de banho, tudo. Depois é conversa, conversa, conversa”, explicou um dos funcionários à mesma revista.

Mas marcando presença na fábrica, há coisas que se tornam claras. Tom Lamont, jornalista da “GQ”, descreve o carinho que os funcionários sentem por Leclerc. O facto de ambos os pilotos terem praticamente a mesma altura, mas numa fotografia posicionada no centro da fábrica o monegasco aparecer numa posição superior pode denotar algum favoritismo. Além do comportamento de Sainz. No dia da entrevista os pilotos receberam bonés para assinar e o espanhol foi o primeiro a fazê-lo, assinando sempre no lado mais distante, deixando que a assinatura do colega de equipa surja primeiro que a sua.

O espanhol, ainda assim, não se permite ter pena de si próprio. Se num determinado dia se sentir cansado, triste, ou se estiver de mau humor, diz, a rotina é simples: encontrar um local calmo na fábrica e ter uma conversa consigo mesmo.

“Merda, eu sou um piloto da Ferrari. Eu estou em Maranello. Hoje vou conduzir um simulador. Vou testar o carro. E em breve vou correr", contou, sobre esses monólogos interiores.

A Fórmula 1 está de férias e regressa apenas no final do mês, no GP Bélgica.