Expresso

O lado dos adeptos do Real Madrid no caos da final da Champions: “Vinham roubar-nos tudo, mas era a nós que a polícia lançava gás pimenta”

O lado dos adeptos do Real Madrid no caos da final da Champions: “Vinham roubar-nos tudo, mas era a nós que a polícia lançava gás pimenta”
OSCAR DEL POZO/Getty

Relatos de assaltos por parte de grupos que aproveitaram o caos instalado para roubar espetadores estão agora a vir a público e contrariam a versão das autoridades francesas, que culpam, sobretudo, os adeptos do Liverpool. As vítimas, maioritariamente ligadas ao Real Madrid, apontam o dedo às autoridades francesas e à organização do evento: “Vi um [vândalo] que roubou a pistola a um polícia e saiu dali a correr com ela”

Vistas as imagens da confusão que se instalou à porta do Stade de France, palco da final da Liga dos Campeões realizada no sábado, em Paris, em que adeptos tentavam, alegadamente, entrar com bilhetes falsos enquanto outros trepavam as grades e forçavam a entrada no recinto, rapidamente se pôs aquela massa toda no mesmo saco. Sabe-se agora que houve grupos de vândalos que aproveitaram o caos para roubar espetadores, antes e depois do jogo.

“Vinham roubar-nos tudo, (…) mas era a nós que os gendarmes [polícia francesa] atiravam gás pimenta”, desabafou um adepto do Real Madrid ao “El Mundo”. De acordo com a vítima, houve roubos por esticão, mas também aproveitamento por parte de outros elementos: “Descemos para o metro e tinha-se convertido numa ratoeira. Se tentasses sair para apanhar um táxi, pediam-te 300 euros para te tirar dali”.

Outro adepto contou, ao mesmo jornal, uma cena caricata e perigosa: “Vi um [vândalo] que roubou a pistola a um polícia e saiu dali a correr com ela”. Perante a confusão, estes aficionados do Real Madrid acabaram por ver-se tentados a recorrer à violência: “Vendo o perigo, apanhámos umas garrafas partidas do chão para nos defendermos, mas não tivemos de usá-las”.

Outros relatos referem que os assaltantes chegavam “em grupos de quatro”, gritando palavras de apoio ao Real Madrid, conquistando momentaneamente as vítimas, para em seguida rodeá-las. “Procuravam o telemóvel, a tua carteira ou a tua mochila”, explicou outro adepto.

Entre as testemunhas haveria vários portugueses, mas pelo menos um falou com o “El Mundo” sobre o que viu. Pedro Castro, que foi a Paris ver o jogo, parecia ter escapado ao pior por ser “corpulento”, como lhe chama o “El Mundo”. Mas, ao regressar à autocaravana, Pedro e os amigos descobriram a porta aberta. “Tiveram tempo de escolher. Levaram um iPad, um portátil e um leitor digital de livros”, contou o português, cuja história não tinha ainda terminado. Pouco depois, enquanto via o que faltava, outro assaltante tentou entrar com uma faca. Um amigo de Pedro conseguiu impedi-lo, trancando a porta.

Algumas das vítimas acusam as autoridades francesas e a UEFA de estar a centrar-se apenas nos bilhetes falsos, esquecendo as situações graves que aconteceram à volta. “Quando quisemos aceder ao primeiro anel, vimos que a Polícia estava dentro do estádio. (…) Havia um grupo de pessoas que estava a deitar a mão a carteiras e telemóveis. As entradas digitais são muito bonitas, mas obrigam-te a ter o telefone na mão. À minha frente, um senhor estava assim e apareceram dois ‘senhores’ que lhe roubaram o telemóvel. Quando o senhor tentou recuperá-lo, um dos assaltantes sacou de uma faca”, contou um adepto madridista ao “AS”. “A partir daí, começámos a ver grupos organizados a roubar”, acrescentou.

No fim do jogo, para sair do estádio, os adeptos eram obrigados a passar por um apertado corredor de segurança, com agentes da Polícia em todo o lado. Entre os empurrões, conseguiam ver o que os aguardava, como metaforizou um adepto: “A partir dali tínhamos a sensação de estarmos nus a atravessar um rio, com os crocodilos à nossa espera”.

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: clubeexpresso@expresso.impresa.pt