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Fórmula 1: num Mónaco extremamente molhado, Sergio Pérez foi quem patinou menos

Fórmula 1: num Mónaco extremamente molhado, Sergio Pérez foi quem patinou menos
Peter Fox/Getty

O piloto mexicano da Red Bull venceu, pela primeira vez, no circuito citadino monegasco que nem sequer cumpriu todas as 77 voltas previstas. Dois adiamentos de arranque da corrida devido à chuva (e decisões de Eduardo Freitas, português que é diretor de corridas da F1) e uma bandeira vermelha conturbaram o Grande Prémio onde a estratégia da Ferrari tramou Charles Leclerc

Fórmula 1: num Mónaco extremamente molhado, Sergio Pérez foi quem patinou menos

Diogo Pombo

Editor de Desporto

"Extreme wet tyres". Choviam gatos, cães e potes no Mónaco, o arranque de um Grande Prémio ia-se adiando e a transmissão da Fórmula 1 anunciava pneus extremamente molhados se o traduzíssemos literalmente, mas eram é pneus extremamente de chuva, isso sim. Recuássemos entre uns 40 ou 30 anos e Ayrton Senna chamaria um figo ao alcatrão encharcado do principado.

Não hoje, nos tempos em que a segurança e meios eletrónicos para a garantir são outros na Fórmula 1. Este domingo, a organização ainda tentou arrancar a corrida, depois de a adiar, com um safety car, mas os pilotos e a vista de toda a gente viram os enormes sprays deixados pelos carros e pronto, suspendeu-se a ação de novo. Quando foi retomada, uma hora depois do inicialmente previsto, a chuva causou logo bagunça.

Ainda os pilotos estavam a tentar aquecer os pneus extremamente de chuva, pacatos atrás do carro de segurança — não se alinharam na grelha de partida —, e Nicolas Latifi foi contra uma das barreiras de pista e Lance Stroll também tocou com a asa do carro no limite da faixa. Em condições que adjetivaram de épicas tantas façanhas de Senna (quem mais venceu no principado, seis vezes), Alain Prost ou Nigel Mansell na pista monegasca, o Grande Prémio deste domingo acontecia aos repelões e incidentes.

Num circuito citadino transformado, desde os anos 20, em pista de corridas, muito estreito em todo o lado e tradicionalmente avesso a ultrapassagens, o alcatrão encharcado não augurava trocas de posição com fartura. Na primeira dezena de voltas, nem uma se viu. Em muitas das seguintes tão pouco. Enquanto a pista não secasse, o combustível dos monolugares seria a prudência.

Dan Istitene - Formula 1

A chuva fartou-se de cair, a pista secou e, aos poucos, os carros deixaram de ser perseguidos por um rasto de spray. Os pilotos cederam à certa tentação de trocarem para pneus intermédios e, à 19.ª volta, Charles Leclerc também o faria para se adequar às condições a secarem.

Mas, antes dele, Sergio Pérez já o tinha feito e os novos pedaços redondos de borracha puseram-no na liderança da corrida, aderindo ao alcatrão antes da mudança de pneus do monegasco da Ferrari surtirem em alguma coisa. Pouco depois, Leclerc retornaria às boxes — apesar da azáfama vocal no rádio da equipa tentar impedi-lo de cumprir a ordem dada segundos antes.

Porque a Ferrari chamou-o a trocar para pneus lisos e pareceu arrepender-se logo a seguir, mas tarde demais: um furibundo Charles foi mesmo às boxes e Max Verstappen aproveitou para lhe ganhar um lugar, ficando o Leclerc na quarta posição, também atrás de Carlos Sainz, o piloto mais próximo do mexicano que não mais se moveria da frente do instável Grande Prémio.

Às duvidosas decisões em adiar o arranque da ação tomadas por Eduardo Freitas, o português que é o diretor de corridas da Fórmula 1, acresceu o acidente sofrido por Mick Schumacher à 27.ª volta. O Haas do alemão ficou fatiado em dois (a traseira para lá da dianteira do carro) ao embater contra uma barreira, abanou-se a bandeira vermelha e o Grande Prémio flirtou com o risco de superar o máximo de três horas permitido para uma corrida acontecer.

Daí se terem completado apenas 64 das 77 voltas previstas no Mónaco, elevando Sergio Pérez ao cume do pódio pela terceira vez na carreira do mexicano, esforçado em barrar as lágrimas quando ouviu o hino a tocar. Leclerc, finalmente, conseguiu terminar um GP do Mónaco, mas frenado pela estratégia furada da Ferrari. Fica agora a nove pontos da liderança de Verstapp no mundial de pilotos.

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