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A mente de Buffon estará focada no futebol até (pelo menos) aos 46 anos: Gigi renova com o Parma até 2024

A mente de Buffon estará focada no futebol até (pelo menos) aos 46 anos: Gigi renova com o Parma até 2024

Com 44 anos cumpridos no passado mês de janeiro, o mítico guarda-redes italiano acaba de prolongar a sua ligação ao clube a que regressou no passado verão por mais duas temporadas. Gianluigi, decacampeão italiano e vencedor do Mundial 2006, continuará a lutar para devolver o Parma à Série A. “A minha cabeça pensa como jogador e será assim até ao último dia”, garante

Quando Gianluigi Buffon se estreou na Série A, em novembro de 1995, imaginar a existência das redes sociais soaria ao desenhar de um universo paralelo, distante das possibilidades da realidade. No entanto, mais de 26 anos depois, aí estão o Twitter, o Instagram, o Facebook e afins, instrumentos de conexão global e partilha instantânea. Mas há um ponto evidente de ligação entre novembro de 1995 e fevereiro de 2022: Gianluigi Buffon continua a defender a baliza do Parma.

Nas primeiras horas do dia, Buffon socorreu-se das redes sociais para felicitar Dino Zoff pelo seu 80.º aniversário. “Para todos os guarda-redes, os da minha geração e os mais jovens, Dino Zoff foi, é e será um modelo a seguir. Parabéns, mito!”. Foi desta forma que Gigi manifestou o seu apreço por uma das suas referências.

Dino Zoff fez história ao defender, com 40 anos, as redes da seleção italiana no Mundial 1982, ajudando a squadra azzurra a tocar no topo do planeta em Espanha. Buffon tem mais quatro voltas ao sol do que Zoff e, no dia em que o mito das balizas transalpinas cumpriu 80 anos, Gigi selou o prolongamento da sua carreira como futebolista até, pelo menos, 2024.

O Parma comunicou que chegou a acordo com o jogador de Carrara para renovar o contrato que une as parte até 2024. Significa isto que Buffon irá colocar-se à frente de uma baliza até ter, no mínimo, 46 anos.

O jornalista espanhol Alejandro Arroyo escreveu, em tempos, que, se Frank Sinatra era conhecido como “the voice” [“a voz”], Buffon deveria ser descrito, simplesmente, como “Il portiere”. “O guarda-redes”. Com esta renovação, Gigi continuará a ser uma espécie de sinónimo da sua posição por mais algum tempo, preenchendo o imaginário de uma geração que nunca viu — ou não se lembra de ver — um futebol em que “Superman” Buffon não esteja numa das extremidades de um qualquer campo, a voar para uma bola, a liderar uma equipa ou a festejar golos agarrando-se às redes que tenta defender.

(Foto: Luca Amedeo Bizzarri/LiveMedia/NurPhoto via Getty Images)

No começo desta temporada, e depois de 685 jogos pela Juventus — e uma breve passagem pelo PSG —, Gianluigi voltou ao clube no qual se estreou como profissional e pelo qual atuou até 2001, quando protagonizou uma milionária transferência para Turim. No norte de Itália, tornou-se no jogador com mais partidas realizadas na Serie A, com 657 encontros, tendo vencido a competição em 10 ocasiões.

No entanto, o colossal palmarés de Buffon não o impediu de voltar ao segundo escalão do futebol do seu país, onde já fez 23 desafios pelo Parma — 13.º classificado da Série B – em 2021/22. E o seu compromisso com o clube e o jogo é tão grande que não quer ouvir falar do futuro.

“Não penso no depois. Já gasto muitas energias estando focado em ser jogador. A minha cabeça pensa como jogador e será assim até ao último dia”, assegurou, na conferência de imprensa de anúncio da renovação, onde disse sentir-se “capaz” de ajudar o Parma.

Buffon vincou várias vezes que se “sente bem” e que “não gosta de desistir”, “principalmente” se acredita “em quem trabalha” consigo.

Buffon celebra a conquista do Mundial 2006, debaixo do iluminado céu de Berlim (Foto: Roland Weihrauch/picture alliance via Getty Images)

Sentado ao lado do mítico guardião na conferência de imprensa estava Kyle Krause, o cidadão dos EUA que preside ao Parma. Num italiano macarrónico, digno de uma qualquer rábula de humor em que um falante de inglês chega a Roma ou a Veneza e tenta expressar-se no idioma local, Krause mencionou a Buffon o Mundial 2026, que será organizado pelos EUA, México e o Canadá.

Juntar numa frase as palavras “Mundial” e “Buffon” leva a memórias de 2006, quando, durante um mês, Gigi foi mais super-homem do que nunca, juntando defesas impossíveis, carisma a rodos e liderança capaz de fazer explodir qualquer medidor de carisma. Naquele verão, na Alemanha, em sete encontros, só o seu companheiro Zaccardo, num auto-golo, e Zidane, de penálti, conseguiram bater um homem que saía de solo germânico feito lenda.

Perante a menção do seu presidente ao Mundial de 2026, 20 anos depois da conquista italiana sob as ordens de Marcelo Lippi, Buffon sorriu e disse: “É uma possibilidade, vê-se que me conhece bem”. Com 176 partidas pela seleção e presença em cinco Mundiais e quatro Europeus, Gigi continua a sonhar com voos impossíveis.

Quando tinha “25 ou 26 anos”, como o próprio refere, Buffon lutou contra uma depressão, que lhe roubou o ânimo e as forças. “Na normalidade reside a felicidade”, foi uma das frases que Gianluigi extraiu como lição daquele combate. Para o futebol mundial, a normalidade tem sido, ao longo das últimas duas décadas e meia, ter Gigi entre dois postes e uma barra. E Gigi parece empenhado em garantir que essa rotina, a sua rotina, manter-se-á por mais algum tempo.

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