A situação financeira deixada pela gestão de Josep Maria Bartomeu levou a nova direção do Barcelona, liderada por Joan Laporta, a pedir uma auditoria às contas do clube. Os resultados da investigação pedida à consultora Deloitte foram apresentados esta terça-feira e revelam, de acordo com comunicado lançado no site do clube, “dívidas de 1.173 milhões de euros, perdas de 481 milhões de euros e custos salariais 40% superiores a outros clubes de máximo nível competitivo”.
De acordo com a comunicação, a auditoria evidenciou a “existência de operações de razoabilidade económica duvidosa em áreas concretas”, o que levou a uma investigação mais aprofundada através de outra agência, a Kroll, encarregada de uma auditoria forense, complementar, que destapou “pagamentos sem causa, com causa falsa ou com quantias desproporcionais”, nomeadamente em comissões, algo que a junta diretiva do Barcelona considera como “graves ofensas à lealdade na gestão que se exige a administradores” do clube e “indícios sólidos” de que terá existido enriquecimento ilícito por parte da anterior direção.
Assim, o Barcelona enviou todo o material e indícios para o Ministério Público da Catalunha, que irá agora investigar se existe matéria criminal relevante. A denúncia não foi feita contra pessoas concretas, com o clube a sublinhar que caberá à investigação “determinar os responsáveis” pelos alegados crimes que deixaram os catalães numa situação financeira caótica, que se tem refletido também nos resultados desportivos.
“Comissões de difícil justificação”
Logo após os resultados das auditorias terem sido tornados públicos, Joan Laporta deu a cara numa conferência de imprensa em que assumiu que quando chegou ao clube, em março de 2021, já imaginava que a situação económica era má, “mas a realidade superou as expectativas”.
De acordo com o presidente do clube, a situação “mais flagrante” prendia-se com contratos e a massa salarial do plantel. “Tinham de ter tido consciência que estava a disparar e que seria difícil competir a médio e longo prazo”, explicou Laporta aos jornalistas, sublinhando que a auditoria encontrou a montante pagamentos de “comissões fora de mercado e de difícil justificação”. O advogado Jaume Campaner, também presente na conferência, revelou que foram detetados pagamentos de comissões de 33%, quando o comum se situa nos 5%, frisando que considera que “os factos encontrados têm relevância penal, sem dúvida”.
“Há casos de comissões de 10 milhões de euros a terceiros, com contratos assinados muito depois da própria contratação. Há risco fiscal elevadíssimo”, revelou o advogado, falando ainda, por exemplo, do aparecimento de “contratos com um intermediário estrangeiro, sem justificação e sem serviços” e do pagamento de “milhões” a escritórios de advogados. Campaner apontou ainda o dedo à anterior direção, que acusa de ocultar e de distorcer deliberadamente a verdadeira situação financeira do clube.
“Os sócios do clube têm o direito de conhecer as ações que levaram o clube à ruína e nós não queremos ser cúmplices destas ações”, disse Laporta, revelando que o clube já conseguiu poupar 159 milhões de euros em massa salarial desde que a nova direção tomou posse. “Há muito ainda por fazer e vemos isso no mercado: quando outros clubes querem contratar jogadores nossos, voltam atrás ao olhar para os salários”, disse ainda, sublinhando sempre que as questões de culpabilidade e possível delito da anterior direção estão agora nas mãos do Ministério Público.
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