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Lise Klaveness, a norueguesa que luta por mais “equilíbrio de género”: “Uma mulher a liderar o futebol masculino não é uma ideia radical”

A presidente da federação da Noruega esteve em Lisboa para o congresso da UEFA, onde não se conseguiu tornar na primeira mulher da história a ganhar um assento no Comité Executivo sem ser através do lugar reservado por quota. Uma das sete líderes mulheres entre as 211 federações-membro da FIFA, a ex-jogadora critica abertamente Infantino e apela a “mudanças na cultura” de liderança do futebol, cujos dirigentes não podem ser “como senhores da guerra que têm medo de ser derrubados”

Pedro Barata e António Pedro Ferreira

Antonio Pedro Ferreira

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Em março de 2022, Lise Klaveness, advogada e ex-jogadora internacional norueguesa, ganhou mediatismo graças ao discurso que fez no Congresso da FIFA, em Doha. Longe do habitual unanimismo oficial, criticou a forma “inaceitável” como o Mundial 2022 foi atribuído e apelou ao respeito pelos direitos humanos, fosse dos trabalhadores migrantes ou da comunidade LGBTQIA+. Em Lisboa para o Congresso da UEFA, tentou ser a primeira mulher da história eleita para o Comité Executivo da entidade fora do lugar reservado por quota. Não conseguiu os votos necessários para um organismo que continuará a ter 19 homens e uma mulher, mas promete continuar a lutar “por um futebol melhor”.

Num mundo em que Gianni Infantino (FIFA) e Alexander Ceferin (UEFA) são eleitos sem oposição, em que há tão poucas vozes discordantes em posições de poder, sente-se sozinha?
Não. É verdade que a Noruega, no último ano [Lise assumiu a presidência em março de 2022], tem estado um pouco sozinha a enviar sugestões ao Congresso da FIFA, por exemplo. Não diria que haja uma cultura de medo, mas sim de insegurança na liderança do futebol, que incentiva a que não falemos para o exterior, que não coloquemos as questões nas ordens de trabalhos de congressos, que não se escrevam cartas formais sobre os problemas. Na cúpula do futebol há uma cultura de statu quo de manter a cabeça baixa. As pessoas estão preo­cupadas com a má governança na FIFA, mas, como há uma cultura muito informal de não perder a postura nem falar formalmente das coisas, muitos ficam calados. O problema é que se perde o momentum para a mudança e a motivação para trabalhar em alterações. É preciso corrigir esta cultura, tem de haver liberdade e os líderes devem ser menos inseguros. Desde que decidi candidatar-me ao comité executivo, encontrei-me com 50 presidentes e muitos deles querem mudanças e concordam com muitas coisas com as quais eu concordo e com as quais, talvez, um terço dos presidentes concorde. Mas há outro terço que se opõe, que é muito conservador, e o outro terço vai variando.

Candidatou-se não através do lugar reservado a mulheres, mas na votação aberta, contra 10 homens. Porquê?
O meu objetivo não é a posição, é a influência. Não quero ter a posição se não tiver influência. Não é uma questão menor que o maior desporto do mundo para as mulheres, aquele que elas mais gostam de jogar, não tenha mulheres representadas na sua direção. Sou uma líder no futebol, sempre liderei homens e mulheres, o jogo de homens está tão perto do meu coração como o de mulheres. Quero elevar o jogo feminino sem diminuir o masculino. Não há representatividade a nível diretivo no futebol. Estou pronta, posso contribuir e ter influência. É importante que mais pessoas falem do equilíbrio de género no futebol. Podem dizer “ah, mas têm de ter mérito”. Claro! Eu sou qualificada. Quando falo de representatividade de género, não estou a dizer que não estou qualificada. É importante ter representatividade, não por razões políticas, não porque fica bem, mas para ter boas decisões.

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