João Matos: “Quando houve uma ligação emocional entre todos fora de campo foi quando ganhei as coisas mais importantes da minha vida”

Jornalista
Chegou há cerca de 20 anos ao Sporting. Para trás deixou a Sónia e o pai dela, o senhor Vítor, mas também e sobretudo os amigos que lhe ampararam as muitas camadas da alma. Tem saudades daqueles tempos no Clube de Carnaxide, confessa. João Matos é hoje um símbolo dentro do símbolo. Para testar essa espécie de eternidade, para saber como lidam os Maldinis do nosso desporto com esse estatuto, questionámos quantos jogos tinha pelo Sporting. Não sabe ao certo, apostou em 690. E na seleção? “182 ou 184”, indicou. Troféus? Aqui enumerou-os, orgulhoso. “Para aí 39, sem contar com as Taças de Honra”, apontou. Entre essas conquistas estão duas edições da Liga dos Campeões, a competição em que, após a vitória contra o Ayat na quinta-feira, se transformou agora no jogador com mais jogos, 70.
Apesar de tudo, da paixão pelo desporto e do que ganhou, admite que a vida começa depois do treino. Ou seja, a família é o céu e o chão ao mesmo tempo. Aos 35 anos, o capitão do futsal do Sporting explica quem é João Matos, de onde veio, da fome do “animal competitivo” e reflete ainda sobre amizade, grupos, mentalidade, bons exemplos e angústias.
Tornaste-te no João Matos em algum momento da tua vida ou o João do Clube de Carnaxide já era assim?
Antes do Clube de Carnaxide já havia este João Matos. Venho de família de desportistas, habituados a competir, à competição, no futebol, no ténis de mesa. Iniciei no ténis de mesa e já era extremamente competitivo, já queria ser dos melhores, participei em torneios e competições. Já sabia o que era competir, o nervosismo de uma competição, claro que numa dimensão diferente. Os meus irmãos também eram desportistas, no futebol. Jogávamos à bola na rua, em casa, todos queríamos ganhar, desde muito cedo tornei-me numa pessoa competitiva. Depois fui ganhando noção do saudável da competição e fui-me adaptando à realidade do clube, do momento, da dimensão que o futsal ganhou, de todo este panorama de media, da visibilidade que acarreta uma parte social diferente. Desde muito cedo fui um animal competitivo, como costumo dizer.
Falámos no Clube de Carnaxide. Que lembranças guardas daquela tenra juventude?
Sair de casa e não dizer que ia treinar, não era muito a vontade dos meus pais. Era um seio de amigos muito íntimo, muito próximo. Começámos a jogar juntos, ainda hoje nos damos. Tenho recordações de jogar à chuva em ringues muito complicados, em locais muito complicados. Tenho memórias de sair do treino e dar 1001 voltas pela casa a fazer disparates. Tive uma treinadora, foi a minha única treinadora até aos dias de hoje, que foi uma pessoa que me marcou muito, é-me muito especial, passou-me acima de tudo os princípios como pessoa e não de jogo, isso foi muito marcante. Desse tempo guardo mesmo é a amizade. Quando muita gente diz "o que fica do desporto são as amizades", ao nível em que estava, a iniciar, na distrital, ficou mesmo a amizade, porque os resultados desportivos não interessavam assim tanto quanto isso. Ficaram os amigos, as memórias, as palhaçadas, as brincadeiras e os disparates. Isso, que esteve aliado a um espírito que se cria nessas equipas mais pequenas e locais, transportei depois mais tarde para o Sporting.
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