É o escritor Gonçalo M. Tavares que costuma citar uma frase de Clarice Lispector que, um dia, deslumbrada perante um pardalito, disse: “É tão bonito que voa”, como se fosse a própria beleza o propulsor do passarinho. No futebol é ligeiramente diferente. Belos ou não, todos os golos voam. Ou, para citar Edinho, antigo ponta-de-lança do Vitória de Setúbal, “não há golo feio.” Aos quase-golos (Pelé marcou vários, João Vieira Pinto marcou um quase-golo soberbo à Alemanha, Cristiano Ronaldo fez o mesmo contra a Espanha num jogo particular e Futre ainda está no Prater a refazer a arrancada pela linha direita que é o mais genial quase-golo do futebol português) falta-lhes a beleza da eficácia, do que funciona. Enfim, falta-lhes voar.
Tão bonitos que voam
Bruno Vieira Amaral fala de Nuno Santos, de Rafa, de golos tão bonitos que voam e de golos feios que se tornam bonitos porque não têm a beleza das coisas raras, das pedras preciosas trabalhadas com precisão de mestre, mas têm a beleza de tudo o que é (ou pode ser) decisivo
08.05.2023 às 12h20
JOSE SENA GOULAO/EPA
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