Crónica de Jogo

O FC Porto não quis ser líder

O FC Porto não quis ser líder
HOMEM DE GOUVEIA

Uma 1.ª parte incompreensível e uma 2.ª melhor, mas ainda assim pobre, redundaram na terceira derrota do FC Porto, que caiu frente ao Nacional por 2-0 e falhou assim o assalto ao topo da tabela

Não houve nevoeiro literal, mas caiu uma neblina cerrada metafórica no futebol do FC Porto este domingo na Choupana. No reatar da partida interrompida há nove dias, a equipa de Vítor Bruno apresentou-se com uma pobreza de ideias difícil de compreender, entregando, logo na 1.ª parte, o jogo ao adversário.

Quando acordou do pesadelo e tentou mexer, ainda não era tarde demais, mas não houve competência face a um Nacional que pegou no que tinha deixado lá atrás: já estava a ser a melhor equipa quando o Tiago Martins interrompeu o jogo e depois do brilho estratégico da 1.ª parte respondeu com organização defensiva e resiliência na 2.ª.

Sem Nico (castigado) e Alan Varela (lesionado) e uma derrota na Taça da Liga na sombra, o FC Porto entrou adormecido e praticamente a sofrer. As costas de Galeno foram sempre um terreno fértil de espaço e foi por ali que o entendimento entre Luís Esteves e Gustavo Garcia culminou num cruzamento que Dudu Teodora, pouco ou nada incomodado por Nehuen Pérez, transformou em golo.

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O futebol é feito de faltas momentâneas de atenção e as circunstâncias do encontro até podiam ilibar o FC Porto. Mas o que se seguiu foram falhas mais estruturais no jogo dos dragões. Às dificuldades no ataque posicional (o FC Porto acabou a 1.ª parte com zero remates), juntou-se a dificuldade em controlar a estratégia nacionalista, afoita a recuar para atrair o adversário, servindo-lhe depois veneno nas transições e no ataque a profundidade. Isaac Tomich, o brasileiro de origem croata, belíssima combinação, serviu então como uma espécie de pivot, recuando a meio-campo para ganhar todas as bolas e lançar colegas. Aos 34’, após uma receção milagrosa na área, só não marcou porque Diogo Costa saiu bem.

A previsibilidade do ataque do FC Porto, a falta de soluções e a moleza coletiva faziam da equipa um adversário pouco mais que fofinho para o Nacional, que nem precisou de se aplicar na defesa: a equipa de Vítor Bruno tratava de estragar antes de chegar à área. Rodrigo Mora andou desaparecido e com o jovem mago em dia não é fácil encontrar magia no jogo do FC Porto. Vasco Sousa foi aposta falhada. Sem Nico, o FC Porto é uma presa bem mais fácil de domar.

Face ao dantesco cenário, com uma equipa incapaz de reagir à sua frente, Vítor Bruno mexeu ainda antes do intervalo, lançando João Mário, por lesão de Martim, e Namaso, para o lugar de Pepê - o brasileiro continua num momento de forma delicado. Reza o bom senso que não se façam substituições antes de uma bola parada adversária, menos ainda duas, e foi um FC Porto ainda a colocar peças em campo que sofreu novamente, agora de canto, com Zé Vítor a desmarcar-se bem e impulsionar-se melhor ainda e novamente melhor que Nehuen Pérez.

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Vítor Bruno viu bem a necessidade de injetar imaginação no FC Porto. Fábio Silva e Gonçalo Borges entraram ao intervalo e nos primeiros 15 minutos da 2.ª parte viu-se finalmente um vislumbre de reação, com Namaso à cabeça, protagonista de um par de remates perigosos. Samu apareceu pela primeira vez em jogo aos 57’, bem lançado por João Mário, mas falhou completamente o remate.

Sem conseguir marcar, o desespero tomou conta dos jogadores do FC Porto e somaram-se então as bolas despejadas para a área, que a defesa do Nacional, com todo o coração do mundo, ia limpando. Depois do golo, Zé Vitor tornou-se general na defesa, não perdendo qualquer duelo. E depois de muitos minutos sem arriscar no ataque, a entrada de Daniel Penha trouxe mais tranquilidade ao jogo com bola da equipa da casa.

Deniz Gul, com um chapéu quase perfeito, e Samu, servido pelo avançado nascido na Suécia, tiveram oportunidades flagrantes para colocar dúvida no jogo, mas as oportunidades criadas não escondem um jogo geralmente confuso e perdido do FC Porto, que chegou à Madeira com oportunidade de roubar a liderança da I Liga ao Sporting. Só que em boa parte do jogo, o FC Porto pareceu sem vontade de ser líder.

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