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Crónica de Jogo

Com Leão enjaulado, agradece o Inter

Rafael Leão, lesionado, assistiu, nervoso, nas bancadas a uma espécie de debacle do Milan nos primeiros minutos da 1.ª mão da meia-final da Liga dos Campeões. Foi aí que o Inter marcou duas vezes e muitas outras oportunidades ficaram por concretizar, ficando a vantagem interista num 2-0 que ainda não fecha as contas. Mas já é um bom avanço

Lídia Paralta Gomes

Mattia Ozbot - Inter

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Foi uma espécie de barómetro do andamento do jogo. De quando em vez a câmera da realização focava-o, voyeristicamente talvez, auscultando-lhe na cara, nos olhos, os sinais de preocupação. Aquela perna a tremer nem precisa de palavras, porque ela viu o Inter marcar dois golos a abrir na sua-casa-que-esta noite-não-foi-sua-casa, para depois, quando o encontro assim o pediu, controlar esta primeira parte da eliminatória.

Entrada de leão esta do Inter, infelizmente para um Milan sem Leão, nervoso e impaciente na bancada, como quem quer para o relvado saltar mesmo que o corpo lhe tenha dito que não. Foi bem mais do que a ausência do português, lesionado no último jogo da Serie A, aquilo que deixou o Milan tão vulnerável face ao colega de casa azul e negro, que vai para a 2.ª mão da meia-final da Liga dos Campeões com uma vantagem de 2-0 conseguida logo nos primeiros minutos de desnorte rossonero.

Aproveitando o abundante espaço deixado pelo Milan na transição defensiva, o Inter marcou aos 8’ por Dzeko, num pesadíssimo remate de primeira depois do bósnio ganhar o lance a Calabria, na força bruta do corpo e da sua colocação. Três minutos depois, Di Marco cavalgou pela esquerda, mais uma vez Calabria na jogada, cruzou para a entrada da área onde Lautaro simulou, deixando via aberta no eixo da defesa para Mkhitaryan ir por ali fora e fazer o segundo golo.

Corta para a cara de Leão, agora já de pé, omnipresente perna nervosa a bater no chão das bancadas de San Siro.

O Inter marcou dois a abrir e podia ter marcado muitos mais numa 1.ª parte em que Onana podia nem ter subido ao relvado. Çalhanoglu rematou ao poste pouco depois, o Milan era uma manta de retalhos, dez jogadores de campo perdidos na responsabilidade de uma meia-final de Champions - impensável nos tempos de Maldini, Costacurta, Nesta, Pirlo. O árbitro espanhol Gil Manzano, de critério larguíssimo, como se de repente se tivesse transladado para uma qualquer associação britânica, ainda marcou um penalti aos 31’, que o VAR sugeriu reverter. Manzano acedeu, o Milan respirou.

Tonali, remando contra a maré azul e negra

Tonali, remando contra a maré azul e negra

NurPhoto

E melhorou qualquer coisinha a partir daí, com mais bola, indo atrás de um jogo que havia dado de barato ao adversário. Na 2.ª parte apareceu finalmente Tonali, naquele jeito meio Pirlesco a tentar encontrar as vias terrestres para o golo, sempre bem defendidas por Acerbi e Bastoni, gente de fibra e de grande controlo. Aos 49’, Brahim Díaz rematou com perigo e logo a seguir Junior Messias não trouxe a profecía, desbaratando um passe a rasgar de Tonali que tinha deixado três interistas fora da jogada. O mesmo Tonali rematou ao poste aos 63’, numa espécie de canto do cisne da reação milanesa, que pouco ou nenhum perigo voltou a criar, principalmente após a entrada de Marcelo Brozovic - era preciso voltar a controlar o meio-campo e o operário balcânico meteu ordem na casa.

Inzaghi, diga-se, ganhou o duelo tático a Pioli, mas sem Leão resta pouca fantasia e repentismo ao Milan em jogos assim. Giroud foi uma sombra, Messias entrou mal e mal continuou. Enquanto isso, Dzeko e Latauro faziam um jogo de luxo na frente, combinando as movimentações e arrastando adversários, abrindo espaços para Mkhitaryan e Çalhanoglu aparecerem em condições de rematar. Na 2.ª parte, ambos os médios apareceram menos, mas aí os defesas do Inter não fraquejaram. E do outro lado, mesmo com mais volume, foi pouca a criatividade. Nem as rezas de Novak Djokovic, na bancada ao lado de Shevchenko, serviram ao Milan.

E com isto o Inter, essa equipa que injustamente subestimamos, fica com tudo para chegar novamente à final da Liga dos Campeões, 13 anos após a vitória com Mourinho. Ao Milan parece restar que Leão saia da jaula das lesões, para tentar um milagre naquele que será o 201.º Derby della Madonnina, daqui a uma semana.