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Crónica de Jogo

Mais de uma década depois da estreia no Sporting, eis Ricardo Esgaio, o goleador

Passados 10 anos, quatro meses e um dia da primeira vez que vestiu a camisola da equipa principal, o lateral estreou-se a marcar, na vitória (2-1) sobre o Famalicão. Morita fez o 1-0 mas, numa fase em que a inexistência de objetivos por atingir paira em Alvalade, um auto-golo de Coates deixou o resultado em aberto até final

Pedro Barata

MIGUEL A. LOPES/Lusa

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Recordar 2012/13 trará pesadelos aos adeptos do Sporting. A campanha dos quatro treinadores, dos dois presidentes, do sétimo lugar e das mil e uma revoluções foi um dos piores momentos da história recente do clube, período em que se falava de bancarrota e se questionava a verdadeira grandeza dos leões.

A 29 de dezembro de 2012, os verde e brancos, orientados por Franky Vercauteren, perderam por 3-0 contra o Rio Ave, em Vila do Conde. Numa das 15 derrotas daquela campanha, Ricardo Esgaio, então um jovem de 19 anos, estreou-se pela equipa principal do clube.

De então para cá passaram 10 anos, quatro meses e um dia. Esgaio passou de extremo para lateral, foi de Alvalade para Braga e de Braga para Alvalade. Na equipa B leonina, o habitual marcador de penáltis até se habituou aos golos, marcando 34 vezes em 87 partidas. Em Braga também teve relação com a baliza rival, colocando lá a bola em oito ocasiões em 179 duelos.

Mas, pelo Sporting, o golo e Ricardo Esgaio não se davam bem. Nas primeiras 122 vezes que jogou pela equipa principal, o natural da Nazaré não marcou. Até que, mais de uma década depois e à 123.ª tentativa, o jejum terminou.

Patinho-feio durante boa parte da temporada, a saída de Pedro Porro abriu a porta da titularidade ao português. Com mais jogo, Esgaio tornou-se mais regular. Não é um craque, mas mostra a consistência e competitividade que se lhe conheciam de Braga. Na estreia da sua versão goleadora, o Sporting bateu o Famalicão, mais interessado na eliminatória contra o FC Porto para a Taça de Portugal, por 2-1.

MIGUEL A. LOPES/Lusa

É clara a sensação de que já nada há para atingir nesta época em Alvalade, de que os objetivos foram caindo e que os compromissos que restam são um mero prolongado ponto final numa história de insucesso. Se, noutras paragens, maio será vivido com os nervos à flor da pele, para os adeptos verde e brancos o quinto mês do ano será tristemente calmo, assistindo aos últimos jogos de 2022/23 sem propriamente andar a roer as unhas.

Mas, para o bem e para o mal, há um inglês de finta curta e agilidade impossível a quem o contexto sempre parece indiferente. Para Marcus Edwards, todos os jogos são iguais, um momento para driblar uma e outra vez, para receber, enquadrar e fintar mesmo quando o campo parece acabar. Se, em certos momentos, isto se pode tornar defeitos, há ocasiões em que é virtude.

Partiram dos pés do londrino dos muitos desequilíbrios e poucas palavras os melhores momentos do Sporting no jogo. Aos 18', Edwards avançou pela esquerda e serviu Morita. No primeiro remate dos locais na partida, chegou o 1-0.

Entre as meias-finais da Taça, o Famalicão optou por rodar boa parte do onze, mudando oito titulares. Um dos três que ficaram foi Colombatto, que, aos 30', aproveitou uma escorregadela de Diomande para obrigar Adán a grande defesa.

MIGUEL A. LOPES/Lusa

Em cima do intervalo, Pote, isolado, não conseguiu bater Luiz Júnior. O português, com 15 golos na I Liga, não se conseguiu aproximar dos melhores marcadores, João Mário e Gonçalo Ramos (17 cada), já que, aos 55', Rúben Amorim substituiu o transmontano.

Com Trincão desconfortável no centro do ataque, saiu Pote e entrou Chermiti, deslocando o canhoto para a esquerda. Foi, também, substituído Diomande, autor de alguns erros com bola, entrando Matheus Reis.

O Sporting entrou, então, na melhor fase da sua exibição. Com Chermiti fixando os centrais, Edwards continuando a drbilar e Trincão mais solto, a outra exibição de qualidade era de Ugarte, o ladrão de bolas. Aos 60', uma recuperação em zona subida do uruguaio deu início ao 2-0.

Chermiti serviu Edwards, que atirou para defesa de Luiz Júnior. Na recarga, chegou o 2-0 de Ricardo Esgaio, o momento de felicidade tão aguardado por um dos homens da confiança de Rúben Amorim.

O Famalicão já tinha feito entrar Cádiz, Francisco Moura e Iván Jaime, habituais titulares, mas era o Sporting a estar mais perto do 3-0, primeiro por Chermiti e depois por Nuno Santos. No entanto, aos 69', um auto-golo de Coates deixou o desafio vivo para a fase final.

Tal como 2012/13 trará pesadelos aos adeptos do Sporting, Coates e um auto-golo ao Famalicão não será uma junção menos traumática. A 23 de setembro de 2019, outro golo na própria baliza do central deu o triunfo aos visitantes na deslocação a Alvalade, noutra campanha altamente conturbada no seio dos leões. Aos 77', um remate em vólei de Cádiz poderia ter feito o 2-2, mas Adán respondeu com uma grande defesa.

O Sporting segurou o triunfo, chegando aos 64 pontos na I Liga. Com o Sporting de Braga a sete de distância, quando já só há mais 12 por disputar, chegar aos milhões da Liga dos Campeões é uma miragem. Na infeliz tranquilidade que se viverá no Sporting em maio, o grande sorriso de alegria é de Ricardo Esgaio, o goleador que chegou depois de mais de uma década de espera.