O Tour de France em Bilbau ou Copenhaga, o Giro d'Italia em Budapeste ou Jerusalém, a Vuelta em Nimes ou Utrecht. Não, não estão aqui em causa crassos erros de geografia, colocando cidades de uns países a integrarem o percurso das principais corridas de ciclismo de outros. Está, sim, a expressão de uma opção estratégica que veio para ficar, uma forma de levar as competições para outros públicos e, com isso, fazer dinheiro, ora pois claro.
Segundo o “AS”, Lisboa pode integrar-se, em 2024, nesta rota. O diário desportivo noticia que há negociações entre a organização da Volta à Espanha e a capital portuguesa para que, no próximo ano, a competição parta, novamente, deste lado da fronteira.
Durante a primeira etapa de cada edição da Vuelta, costuma fazer-se uma espécie de passagem de testemunho, com a cidade que acolhe a jornada inaugural de um ano a passar essa responsabilidade para a localidade que o fará 12 meses depois. No entanto, em 2023, isso não sucedeu, com Barcelona a não fazer essa transição simbólica, dado que ainda não se conhecem os planos para 2024.
Javier Guillém, diretor da Vuelta, disse, em março, que havia “muitos pedidos do estrangeiro” para receber a corrida. “Nos próximos quatro anos, pelo menos uma das partidas será fora de Espanha”, assegurou.
Contactadas pela Tribuna Expresso, ambos os lados desta possível negociação chutaram para canto. O silêncio foi a nota comum, com respostas semelhantes, não confirmando nem desmentindo a hipótese.
Fonte oficial da Câmara Municipal de Lisboa diz “não ter mais nada a acrescentar sobre o que foi referido na imprensa espanhola sobre essa possibilidade". Perante a nossa insistência, a resposta sem esclarecimentos foi-se mantendo, tal como feito pela organização da Vuelta, da responsabilidade da Unipublic, empresa que é detida pela ASO, que também tem a seu cargo o Tour ou o Dakar . “De momento, não temos comentários a fazer”, foram as palavras.
Questionado, no dia de descanso da Vuelta 2023, sobre a hipótese de a próxima edição partir de Lisboa, João Almeida disse que “seria bastante bom”. O caldense da UAE-Emirates tem previsto, como grande objetivo para o próximo ano, o Tour, pelo que “não sabe” se estará à partida da Vuelta. “Claro que se começar em Lisboa é um bocado diferente, é uma boa desculpa para fazer a corrida, mas logo vemos quando sair verdadeiramente o traçado”, comentou o português, 10.º da geral à partida para a 16.ª tirada.
Ter Lisboa como local do tiro de saída da Vuelta seria regressar à primeira cidade que acolheu a tirada inaugural da corrida, em 1997. Após Lisboa, seguiram-se Assen, em 2009, Nimes, em 2017, e Utrecht, em 2022.
O Tour e o Giro, corridas de dimensão e impacto económico maiores, têm sido mais assíduos nisto de levar a caravana além-fronteiras. A Volta à França — que em 2024 arrancará de Florença — partiu em 2023 de Bilbau, em 2022 de Copenhaga, em 2019 de Bruxelas, em 2017 de Dusseldorf, em 2015 de Utrecht, em 2014 de Leeds ou em 2012 de Liège; a competição italiana saiu em 2022 de Budapeste, em 2018 de Jerusalém, em 2016 de Apeldoorn, 2014 de Belfast ou em 2012 de Herning.
Os valores investidos pelas diferentes cidades também refletem as dimensões díspares entre as três grandes voltas. Segundo o “Eurosport”, Utrecht pagou €1,5 milhões para acolher a Vuelta em 2022, enquanto, para receber o Tour em 2015, investiu €4 milhões. Bilbau pagou €12 milhões para albergar o Tour em 2023 e Budapeste €12 milhões pelo Giro em 2022.
A Câmara Municipal de Lisboa também não quis responder se estes €1,5 milhões gastos por Utrecht em 2022 eram o valor de referência para 2024. Este ano, Barcelona pagou €1,1 milhões para acolher a tirada inicial.
Na sua última edição completa, em 2022, a Vuelta teve uma média de 1 milhão de telespetadores por etapa na TVE, tendo sido seguida por cerca de 27 milhões de telespetadores, em toda a Europa, através da Eurosport. É essa exposição mediática que as cidades procuram.
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