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Tribuna Expresso

Os momentos desportivos de 2021 😷

Uma das melhores atletas de sempre a fazer dos Olímpicos os Jogos do foco na saúde mental, o redondo número de 20 Grand Slams agora partilhado por uma tríplice lendária e a união raras vezes vista no futebol, mas gerada, em dois dias, devido à intenção megalómana de 12 clubes, são três dos 14 momentos desportivos de 2021 escolhidos pela redação da Tribuna Expresso, no final de uma volta ao sol cumprida na companhia de uma pandemia

Cameron Spencer/Getty

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História feita à mão 🤾‍♂️

Logo em janeiro, a seleção de um país onde o futebol é o eucalipto sugador da maioria das atenções de quem segue ou quer praticar desporto foi ao Egito conseguir a melhor classificação de sempre de Portugal num Mundial de andebol. O 10.º lugar alcançado pela equipa treinada por Paulo Jorge Pereira - um poço de sensatez na comunicação e inspiração nos momentos em que se dirigia aos jogadores, durante as partidas - surgiu após três vitórias seguidas na primeira fase de grupos e um pé mais do que batido, depois, contra adversários com outras raízes no andebol (Noruega e França).

Foi do tipo de desempenho que ressuscita o entusiasmo de um povo por uma modalidade e seduz o interesse de potenciais praticantes. Em março, a seleção reforçou essa alavança quando, ainda por cima de forma épica, foi a França vencer a vice-campeã mundial com um golo do capitão Rui Silva, na última jogada, e selou a primeira qualificação de sempre para os Jogos Olímpicos.

A união na revolta à Superliga 🤡

"Doze dos clubes líderes na Europa juntaram-se hoje para anunciarem que concordaram em criar uma competição a meio da semana, a Superliga, governada pelos seus clubes fundadores". Esta foi a primeira frase com que, em abril, uma dúzia dos clubes mais ricos e com donos mais salivantes por mais revelaram a intenção de estabelecerem uma prova para lá da Liga dos Campeões, na qual apenas participariam outros clubes semelhantes, por convite, atirando janela fora os conceitos de qualificação ou despromoção.

Bastaram dois dias para adeptos, jogadores, treinadores, donos de clubes deixados de fora, líderes da UEFA, FIFA e outras entidades, enfim, gente um pouco de todos os lugares que apreciam ou interferem no futebol, se unirem na contestação a este laivo divisionista para nove dos tais 12 clubes recuarem nas suas intenções. Restaram o Real Madrid, o Barcelona e a Juventus no plano que, mais do que escancarar as ideias megalómanas que certos presidentes clubísticos partilham, motivou uma rara união em massa do mundo do futebol em prol de um objetivo comum. Mas atenção: a frase ainda consta para ser lida no site que continua no ar para quem quiser ler.

Um recorde de medalhas olímpicas a Oriente 🏅

Diz a tradição que uma Olimpíada tem quatro anos, mas a pandemia nem as tradições centenárias respeitou: os Jogos Olímpicos de Tóquio realizaram-se não em 2020, mas em 2021 e sem vivalma nas bancadas. E foi nestas condições sem precedentes que Portugal conquistou o seus melhores resultados de sempre na maior competição desportiva planetária, com quatro medalhas.

O hino nacional voltou a soar, com o título olímpico de Pedro Pablo Pichardo, no triplo salto, o que não acontecia desde 2008. Na mesma disciplina, Patrícia Mamona voou para lá dos 15 metros para conquistar a prata. Houve ainda dois bronzes, um para o judoca Jorge Fonseca, nos -100kg, e outro para Fernando Pimenta no K1 1000 da canoagem. Lá no sítio onde o sol nasce, a luz brilhou forte para Portugal.

Primeiro português na NBA 🏀

Este é um momento a dois tempos. Primeiro, o dia 30 de julho, quando a frase “com a 39.ª escolha no draft da NBA 2021, os Sacramento Kings escolhem Neemias Queta” levou pela primeira vez um português à principal liga de basquetebol norte-americana. Depois, o dia 17 de novembro, que fica na história do jogador e do desporto em Portugal como o dia em que Neemias jogou pela primeira vez pela equipa dos Kings e colocou a bandeira nas quadras da NBA.

“Sonhei com este dia desde que comecei a jogar basquetebol e estou muito feliz”, disse Neemias na conferência de imprensa que se seguiu à estreia frente aos Memphis Grizzlies.

Lachlan Cunningham/Getty

Verstappen sagra-se campeão mundial de Fórmula 1 🏎️

Se há competição que teve direito a tudo em 2021 foi o Mundial de Fórmula 1. Mas, entre os 13 pilotos que conseguiram chegar ao pódio e uma corrida que só teve duas voltas atrás do safety car, talvez o mais surpreendente tenha sido um desfecho que já não se via desde 2016, o último ano em que Lewis Hamilton não recebera o troféu de campeão.

Max Verstappen venceu o título na última volta do GP de Abu Dhabi, depois de um safety car ter mudado o rumo da corrida que tinha Hamilton na liderança até ali. Com 24 anos e ao serviço da Red Bull, o neerlandês tornou-se o 34.º campeão da história da categoria-rainha.

Novak Djokovic e a turma dos 20 🐐

Não é de agora, porventura tão cedo não deixará de o ser e é-o desde que ele começou a ganhar a sério, mas seja pela perceção pública que a sua personalidade gera, a revolta que antes muito mostrava em court ou, simplesmente, pela simples coincidência temporal com outros dois enormes tenistas que apareceram uns anos mais cedo na ribalta, Djokovic sempre foi comparado com um certo desdém a Roger Federer e a Rafael Nadal.

E este foi o ano em que o sérvio igualou os 20 torneios do Grand Slam conquistados por essas lendas, ao ganhar em Melbourne, Roland Garros e Wimbledon enquanto o suíço e o espanhol foram lidando mais com as mazelas dos seus corpos do que com adversários - não disputaram qualquer final de um major. Elevando-se a um plano ainda mais estratosférico (ainda chegou à final do US Open, onde perdeu com Daniil Medvedev), Novak cimentou ainda mais a supremacia dos três monstros sagrados do ténis à medida que foi engrandecendo a sua própria lenda. Eles, em tríplice, são os G.O.A.T. (Greatest Of All Time).

A coragem de Simone Biles 🧠

Os Jogos Olímpicos de Tóquio estavam destinados a ser de Simone Biles. E foram. Porque a coragem em expor a suas fragilidades num dos maiores palcos do desporto a nível mundial, só Biles teve.

Depois de cinco anos de treinos, a ginasta sentiu que a sua mente e corpo não estavam em sintonia e fez o que muitos diriam impensável: para cuidar da sua saúde mental, optou por não competir. Nos Jogos em que cinco medalhas de ouro pareciam prováveis, Biles ganhou uma de prata e uma de bronze.

E o bronze representou de novo a coragem da ginasta, que com o apoio dos psicólogos da equipa norte-americana decidiu regressar à trave: “Naquele momento, já não se tratava das medalhas, mas de voltar. Naquela trave, foi por mim”, disse à revista ‘Time’.

A bella Itália renascida no Europeu 🍕

O Euro 2020 foi uma espécie de Interrail pelo continente, com encontros em locais tão distantes como Sevilha e São Petersburgo. Numa competição em que Portugal deixou uma imagem pobre, o título foi para a Itália de Mancini, capaz de um renascimento depois de ter falhado o apuramento para o Mundial 2018.

Sem grandes estrelas - as principais figuras eram a veterana dupla de centrais composta por Bonucci e Chiellini-, a squadra azzurra valeu-se da força coletiva, com um gosto pela técnica e tratamento criterioso da bola que confirma a tendência recente da escola italiana para fugir a preconceitos do passado.

Na final de Wembley, marcada pelo caos vivido nos arredores do estádio nas horas anteriores à partida, a Inglaterra foi batida nos penáltis e aumentou o seu jejum de títulos, o qual dura desde o Mundial 1966.

Julian Finney/Getty

Emma Raducanu: um conto de fadas em Nova Iorque 👶

No começo de junho, Raducanu, uma adolescente britânica de 18 anos, preparava-se para jogar o seu primeiro torneio WTA - a principal divisão do ténis feminino - em Nottingham. No final desse mês, a filha de um romeno e uma chinesa, nascida no Canadá e residente em Inglaterra desde os 2 anos, era a 338.ª do ranking.

Pouco depois, em setembro, Emma protagonizou a mais impensável história do desporto de 2021: venceu o US Open, tornando-se na primeira jogadora da história a conquistar um torneio do Grand Slam vinda do qualifying. Em Nova Iorque, ganhou todos os sets dos 10 encontros que disputou, impressionando pela maturidade dentro e fora do court. Desconhecida a meio do ano, Raducanu transformou-se numa estrela global em ascensão.

O adeus de Il Dottore ou o fim do carisma no MotoGP 🏁

Não vai haver ninguém como ele. Valentino Rossi era um ás em cima das motos e um entertainer fora delas, o seu carisma e boa-disposição, aliado a uma competitividade implacável na hora de correr, fizeram dele o ponto de partida para a globalização do MotoGP, ao ponto de se tornar maior que o próprio desporto.

Vencedor de nove campeonatos mundiais, sete dos quais na categoria principal, “Il Dottore” deixou as corridas com o mesmo sorriso jovial de quando começou, ainda em meados dos anos 90. Aos 42 anos, Rossi já não contava exatamente para o Totoloto dos títulos há vários anos, mas o perfume continuava a espalhar-se a cada tangente a alta velocidade, a cada beijo nos corretores.

Haverá seguramente quem vá ganhar mais do que ele, quem lhe roubará os recordes, mas ninguém terá aquela aura de italiano malandro, vivendo numa permanente juventude, mesmo quando os ossos lhe disseram o contrário. Foram 89 vitórias e 199 pódios no MotoGP. Agora é a hora de Rossi descansar.

Rúben Amorim e os seus meninos

Este 2021 trouxe algumas certezas. O treinador do Sporting montou um modelo de jogo que vai afinando diariamente, envolvendo futebolistas da formação sempre que lhe parece conveniente. Ganhou Liga, Supertaça, Taça da Liga e apurou-se para os oitavos de final da Liga dos Campeões, eliminando pelo caminho o Borussia Dortmund.

Acumulou recordes, transmitiu até mensagens importantes no âmbito da crise sanitária e, entre tantas lições de liderança que vai demonstrando, não deixou cair Paulinho, por exemplo, um avançado que acaba o ano com um hat-trick. Na sala de imprensa e nas respostas aos jornalistas tem sido um ás de trunfo: ambicioso, correto e genuíno. Foi um ano especial, que termina na liderança da liga, e o que vem aí promete ser maior.

OZAN KOSE/Getty

O adeus de Messi ao Barça 💧

O que parecia impossível aconteceu mesmo. Depois de mais uma época penosa do Barcelona, com o regressado presidente Joan Laporta a herdar uma situação dramática nos cofres e finanças dos catalães, o clube não conseguiu renovar o contrato de Lionel Messi, a maior bandeira dos culés que até ali só conhecia uma camisola (no futebol profissional).

Parecia um jogo de bastidores, mas culminou mesmo com a mudança do argentino para o Paris Saint-Germain, para jogar ao lado de Neymar e Mbappé. Messi chorou no adeus, insistiu que só queria jogar ali. O Barça, órfão do génio maior da sua história, voltou à Liga Europa, tal como acontecera na temporada anterior ao canhoto irromper na equipa profissional. Agora, com Xavi ao comando, metem-se as fichas todas na garotada de La Masia.

Portugal campeão do mundo de futsal no adeus de Ricardinho 🏆

Os melhores da Europa tornaram-se reis do planeta. A seleção de futsal juntou o título continental, obtido em 2018, ao mundial, no torneio realizado na Lituânia. A equipa de Jorge Braz, que se destacou pela capacidade de proferir frases inspiradoras a meio das partidas, bateu, na final, a Argentina por 2-1, graças a um bis de Pany Varela. O jogador do Sporting, autor de oito golos ao longo do certame, vários deles decisivos, foi o grande herói da conquista.

O título marcou o adeus de Ricardinho, o capitão que foi eleito o melhor jogador do torneio. O craque, que durante década e meia foi o símbolo da modalidade, despediu-se da seleção pouco depois do Mundial, numa emocionada conferência de imprensa em que colocou ponto final numa “caminhada incrível e inesquecível”.

Cristiano e o regresso a Old Trafford 👹

O capitão da seleção portuguesa não estava feliz em Turim, depois de a Juventus falhar o 10.º scudetto consecutivo e de ser o melhor marcador da Serie A, e decidiu que era tempo de mudar de ares. Aos 36 anos, depois de uns zunzuns para o rival Manchester City, o menino querido do mítico Old Trafford voltou a casa.

Com o número 7 como antigamente, Ronaldo tem feito golos com a facilidade do costume, mas o atual estado dos red devils é um valente ponto de interrogação e começa a ganhar forma a possibilidade de não jogar a Champions na próxima época. Para além de sofrer com as agruras do clube, Cristiano viveu ainda a desilusão de a seleção portuguesa ter falhado o apuramento direto para o próximo Campeonato do Mundo. Venha o play-off e melhores dias.