Ténis

John Isner e o seu serviço martelo, que jogaram a partida mais longa da história do ténis, vão embora

John Isner e o seu serviço martelo, que jogaram a partida mais longa da história do ténis, vão embora
Shi Tang/Getty

O grandalhão dos 2,08 metros que tem o recorde de mais ases servidos na história do ténis vai retirar-se no US Open. Aos 38 anos, John Isner levará com ele a memória de ter vencido a partida mais longa (11 horas e cinco minutos) de sempre em Wimbledon

Em Wimbledon, cravada algures numa parede de tijolo, está uma placa em forma oval. No topo e em letras mais gordas, lê-se “o jogo mais longo”. Serve de título e início da frase que compõe o resto do espaço que sinaliza ter sido no court n.º 18 do clube de ténis onde John Isner ganhou a Nicolas Mahut. O resto das letras acrescenta o espetacular ao que uma placa pode conter: a data do jogo, “de 22 a 24 de junho de 2010” e a duração, “11 horas e cinco minutos”, que provavelmente lhe vão guardar um recorde para todo o sempre.

O que era para ser um mero jogo da 1.ª ronda do Grand Slam da relva acabou como um íman da maralha, com pessoas a encavalitarem-se umas nas outras em redor do campo, a espreitarem por onde dava. Foram cinco sets esticados no último tie-break até um 70-68 que fatiou o jogo por três dias (o court era descoberto e em Wimbledon, por decreto, não se joga à noite), roubou vida aos tenistas e os teve, no final, a posarem junto ao marcador eletrónico da partida que chegou a ‘avariar’ por não estar programado para conter números para lá dos 50. Na fotografia com dois corpos suados e sugados de vida, só John Isner sorri.

Absurdamente alto (2,08 metros), ossudo e com a pala do boné para trás como apanágio, o norte-americano que sobreviveu vitorioso ao jogo anunciou, esta quinta-feira, a sua retirada do ténis está para breve. Será já no US Open, o último major da temporada (arranca a 28 de agosto) onde alcançou os quartos de final por duas vezes e deixou uma catrefada dos 14.111 ases que tem na carreira, um recorde no ténis. Com a sua altura e a altitude a que o seu braço trepava, o serviço martelo de Isner foi a marca de água do jogo do norte-americano.

Será a 17.ª presença consecutiva do gigante tenista no US Open, o seu Grand Slam predileto, mas não aquele onde foi mais longevo. Seria a relva que lhe carcomeu o corpo a vê-lo perdurar até às meias-finais, em 2018, o melhor resultado da carreira entre os quatro torneios mais prestigiantes. Lá em casa, Isner tem os canecos de 16 provas, o melhor vindo do Masters 1000 de Miami, e na cabeça guarda o feito de ter fechado todos os anos entre 2010 e 2019 dentro do top 20 do ranking mundial. “Nunca imaginei poder passar 17 anos no ATP tour. A viagem não foi nada menos do que incrível”, escreveu na curta mensagem de despedida publicada nas redes sociais.

Com 38 anos, o legado maior da existência tenística de John Isner será a consequência que a sua batalha com Nicolas Mahut surtiu em quem dita as regras do jogo. Demorou, mas 12 anos após a maratona de jogo que partilharam em Wimbledon, o Comité Central do Slam, cúpula que toma conta dos quatro majors, ditou que um tie-break no quinto set seria, no limite, disputado até aos 10 pontos a partir do momento em que houvesse um empate de 6-6. Venderam a mudança com o zelo de “criar uma maior coerência nas regras do jogo” e “melhorar a experiência de jogadores e adeptos”, mas a maior das razões estará entre Isner e Mahut.

Mais tarde, o grandalhão dos ases desistiria de torneios para descansar com a família e sarar as feridas psicológicas de ter usado tanto tempo de vida num só jogo de ténis. Na sua autobiografia, Nicolas Mahut contaria como lidou com uma depressão nos três meses após a partida e lidou com problemas nas costas. Nesse interminável encontro que ficará ativo nas carreiras de ambos, John Isner fixou outro recorde, o de mais ases (113) feitos num só jogo. Ele e os serviços em que o adversário nem via a bola também ficarão juntos para sempre.

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