Um dia, meio do nada, a mãe de Molly Picklum lembrou-se do que lhe parecia ser quinquilharia a acumular pó lá em casa e perguntou à filha “o porquê de precisar de tantos troféus”. Era muitos os que colecionara durante a infância. Hoje a rir-se, boné rosa na cabeça, a australiana de sotaque cerrado desculpabiliza a progenitora. Na intenção não havia malícia, só uma incapacidade “em ver tão para a frente” quando a matriarca propôs “deitarem fora” as medalhas ganhas em provas de nadadores-salvadores ou “touch football”. A inusitada sugestão da mãe visava essas idiossincrasias australianas que até à adolescência mantiveram Molly entretida o quanto baste.
No verão, tudo o que é areia banhada por mar enche-se de competições de salvamento para criançada e a modalidade mais popular no país é uma que apenas se joga lá, o aussie rules, como lhe chamam, onde a bola é oval, há três pares de postes defendidos por cada equipa e se joga em camisolas sem mangas. Mas, aos 14 anos, a rapariga de Terrigal, um subúrbio a norte de Sydney, teve “um momento de garfo na estrada” e a decisão que tomou nessa bifurcação levou Molly Picklum a esta varanda de hotel, em Peniche, onde diz: “E aqui estamos nós.”
Por sentir que a variante de futebol australiano sem placagens, na qual era escolhida para equipas regionais, a cingiria à ilha-continente, optou pelo surf: “Não via mais progresso além de ser convocada para a seleção nacional e pensei que isso seria o epítome do que conseguiria alcançar. O surf, para mim, era uma área inexplorada, então decidi arriscar.” Pouco tempo contados desde essa opção, a bem-disposta vai, aos 21 anos, vestir a licra amarela quando entrar no mar da Praia de Supertubos. É a cor que sinaliza a líder do Championship Tour (CT), o circuito mundial de surf que esta quarta-feira dá à costa portuguesa.
Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: dpombo@expresso.impresa.pt
