Perfil

Sporting

Rúben Amorim: “Cinco pontos não podem mudar a visão dos sportinguistas do clube. A grande mais-valia não é o treinador. Há um caminho”

Em longa conferência de imprensa de antevisão ao jogo com o Chaves (sábado, 20h30, Sport TV1), o treinador do Sporting falou de um pouco de tudo, com a frontalidade habitual: o quão "saudável" está o clube no panorama geral, a "falha" no planeamento com venda de Matheus Nunes, a necessidade de "todos estarem unidos" e o apelo para os adeptos "não irem na conversa de que o Sporting está um momento mau"

Expresso

DeFodi Images

Partilhar

A semana após o clássico

“Foi uma boa semana, uma semana longa, começámos por um vídeo para mostrarmos ao jogador o que foi a história do jogo, jogada por jogada, volto a dizer, fizemos muita coisa bem contra o FC Porto. Há pessoas que deve ter uma opinião diferente, olham muito para o resultado. Tento ver quantas situações o FC Porto criou, quantas criámos, porque sofremos aqueles golos, foi essa a análise. Depois olhámos para o Chaves, que tem quatro pontos como o Sporting, queremos começar a ter vitórias atrás de vitórias e sabemos os pontos fortes do Chaves, todos os pequenos pormenores. Tratámos disto como um jogo da Liga dos Campeões, porque para nós é um jogo da Liga dos Campeões.”

O sorteio de Champions

“Nem vi, fosse quem fosse… Volto a dizer o mesmo do ano passado, há equipas que são difíceis pelo encaixe, pela forma como jogam, temos um grupo onde todos jogam com linhas de três e olho para esses pormenores mais do que para o nome das equipas. A verdade é que toda a gente olhou para o Pote 3 e de certeza absoluta que toda a gente queria o Sporting. Vamos ver se é assim no fim da fase de grupos, mas a nossa Liga dos Campeões é o Chaves.”

Há interesse em Alexandropoulos, do Panathinaikos?

“Eu não apresento jogadores, nem os vendo, isso não é da minha alçada, portanto não vou comentar um jogador que ainda não está cá. Estou muito contente com os meus jogadores e estamos focados no jogo contra o Chaves. Tenho garantia por parte de todos que vamos fazer um belo encontro.”

O estado atual do Sporting

“Os sportinguistas têm de olhar para o plano geral e têm de ver que o Sporting tem um plantel muito jovem, com muitos jogadores de qualidade, vendeu muitos por mais-valias altas, está no início do campeonato - jogou no Dragão e em Braga -, queríamos ganhar os jogos todos, mas não conseguimos e já jogámos esses jogos. Portanto, o Sporting está bem e recomenda-se, ao contrário do que toda a gente diz. Todos os clubes passam por momentos bons e maus. Agora, se olharmos para o geral do clube, há valor na equipa principal? Há. Foram vendidos ativos? Foram, está a reestruturar-se o clube e isso é uma direção que a direção toma. Os sportinguistas têm de olhar para isso e não irem na conversa de que o Sporting está um momento mau, está é a ter maus resultados em termos desportivos. Num plano geral, em termos de clube, acho que passa por um bom momento.

Se tivéssemos três vitórias estaríamos a falar de outra coisa, no fundo são cinco pontos e cinco pontos não podem mudar a visão dos sportinguistas do clube. O que temos de testar, todos juntos, é discutirmos se este caminho é melhor do que outro e acho que isso é saudável num clube entre treinadores, staff, direção e adeptos, mas amanhã e durante a semana temos de estar todos unidos. A grande mais-valia não é o treinador, nada disso, é o ambiente que se criou e quem o cria são claramente os adeptos. O Sporting está bem, cada vez mais saudável, tem uma equipa jovem em que olhamos para o futuro e dizemos que isto não acaba aqui. É continuar o projeto, sabemos que haverá momentos difíceis e em que andamos todos a discutir um pouco uns com os outros, mas faz parte do crescimento do clube. A partir de agora temos de estar como sempre estivemos desde que estou aqui, unidos, muito atentos a tudo o que se passa no clube. Estarmos unidos não é baixar a cabeça e dizer que está tudo bem. Vamos voltar ao nosso ritmo de vitórias e isso, agora, é responsabilidade do treinador e dos jogadores.”

Pote pode ir jogar no meio-campo?

“Depende do dia-a-dia, do adversário e daquilo que queremos para a equipa. Obviamente, olhando para o ano passado, entre o Pablo Sarabia e o Pote estão quase 50 golos. Como é que substituímos 50 golos? Se tirarmos o Pote para trás, perdemos se calhar os 50 golos, digamos assim. Temos de ver o que há: temos mais alas? Mais gente na frente para compensar? Vai acontecer ao longo da época. Sem olhar para isso, há outros que têm de fazer golos e crescer, mas é um problema para o treinador resolver.

São 50 golos, mesmo com o Pote a fazer uma época, como toda a gente disse, abaixo das expetativas, foi o jogador mais envolvido em golos, ou seja, mete um patamar tão elevado que as pessoas dizem isso, mas ele esteve uns três meses lesionado. É difícil substituí-lo. Se o tiro para trás, se calhar perco 30 golos entre assistências e golos. Vamos fazendo essa gestão. Acredito que os outros podem crescer se tiverem oportunidade e um jogador como o Pote a ajudá-los a criarem mais situações. A equipa do Sporting nunca dependeu do jogador e não vai ser agora.”

A saída de Matheus Nunes e os miúdos

“Talvez, também não tenho conhecimento de tudo, mas talvez tenhamos que dar dois passos atrás para ganharmos outra consistência e voltarmos a fazer o que fizemos na primeira época. Volto a dizer, é mais difícil para os miúdos entrarem na equipa porque atingimos um patamar de treino que, na primeira época, não se notava tanto. Temos de aumentar a qualidade e exigência, mas temos de lhes dar tempo para crescer.

Nuno Mendes não há muitos, Matheus Nunes não há muitos. Falámos do Matheus Fernandes, mas tem 18 anos. O ano passado jogou nos sub-23, mas, há dois anos, estava nos juvenis. Fizemos isso uma vez, se calhar teremos que o voltar a fazer, mas com outro suporte. O Sporting não está num patamar ainda de segurar jogadores, mas está nesse caminho. Por isso digo que temos de estar unidos para não deixarmos cair esse trabalho todo que já fizemos. Haverá um dia em que possamos manter a base, porque a base é a qualidade da equipa. Se temos de voltar a fazer tudo outra vez o primeiro passo a todos os jogadores que entram. Essa é a grande vantagem, todos os jogadores se queixam do mesmo. Se olharem para as melhores equipas do mundo, quanto tempo têm os seus treinadores com os seus jogadores, principalmente com a base? É esse o caminho que o Sporting vai ter, temos de fazer essa gestão e os adeptos têm de estar muito atentos à direção que o clube leva.”

Haverá mudanças para o jogo com o Chaves?

“Mudanças pode haver, são jogos completamente diferentes, vamos entrar numa sequência de jogos campeonato-Liga dos Campeões e se não tiverem todos preparados, não temos hipótese. Este ano, o grupo é ainda mais curto e são as características dos jogos que nos fazem alterar e, também, a nossa gestão para o presente e futuro, sabendo que é o presente que dita tudo. Olhando para o jogo, volto a dizer, houve muitas coisas boas digam o que disserem e quero é que os jogadores sigam o que lhes digo. Mais do que lhes dizer, eu mostrei-lhes passo a passo o que aconteceu, muita atenção aos pormenores, foi isso. Estaremos mais preparados no próximo jogo porque esse é o caminho das equipas: consoante o que aconteceu no jogo passado, crescer no próximo.”

Sporting tem de correr atrás?

“Não temos nem vamos fazer mais contas, vamos voltar à nossa base de jogo a jogo. Estamos cinco pontos atrás dos nossos rivais e muitos pontos atrás no tal panorama geral dos clubes, temos de ter noção disso, não nos tira ambição nenhuma. Conheço os meus jogadores, se começamos a tocar no assunto dos cinco pontos, eles vão ficar ansiosos. Portanto, é jogo a jogo. Como disse no Dragão: vencendo o Chaves, fica tudo bem.”

A vida com um plantel curto

“Em relação a esse planeamento, só saiu um jogador, mas todo o planeamento foi à volta de manter a base, sempre falei disso. O Vinagre foi emprestado e não fomos buscar nenhum defesa esquerdo, temos dois e nenhum é de raiz. O Tabata que saiu, o Dani [Bragança] teve uma lesão grave e ninguém contava com isso, tudo foi feito para manter o Matheus Nunes, o Pote, o Ugarte, tudo foi pensado. Já íamos arriscar muito com o Matheus, mas havia uma razão, um objetivo, saiu o Matheus e ficámos ainda mais curtos. Eu, como treinador, falhei no planeamento, o que temos de ter muita atenção agora é, neste fim de mercado, ter a certeza para onde vamos. Não pensar que temos de salvar agora tudo o que mudámos no planeamento de um ano, não vamos mudar tudo agora. Havia jogadores já referenciados que tínhamos para projeto, mais para a frente e para acompanhar, se calhar podem chegar mais cedo, mas não vamos correr atrás do prejuízo e fazer grandes investimentos, que eu saiba. Esse é o principal objetivo. Falhámos um pouco no planeamento, vamos seguir, o panorama geral é bom. O que interessa é continuar na mesma direção.”

As ausências e o futuro

“O Jovane levou uma pancada no treino, o pé não estava muito bonito, vai ficar de fora algum tempo e são coisas que não controlamos. O Porro foi expulso, o nosso guarda-redes [ri-se]. O Paulinho está mais perto. Em relação a querer ganhar os jogos todos, faz parte da nossa cultura, toda a gente quer e temos obrigação de lutar por todos os jogos. É importante sermos sempre competitivos e não nos deixarmos de levar por desculpas disto ou daquilo. Sei que o futuro depende dos resultados, posso ir para o estrangeiro ou voltar para o Casa Pia, que já está muito bem, onde quero trabalhar é num sítio onde me sinto bem e feliz, onde toda a gente pensa da mesma maneira. Ao contrário do que quando era jogador, não ando à procura de nada, nem tenho pressa de nada. Gosto de trabalhar com as pessoas que gosta e que olham todos para o mesmo caminho, aconteça o que acontecer. Não faço planos para o futuro, faço jogo a jogo, ganhar ao Chaves é o mais importante.”

A saída silenciosa do Slimani

“É jogador do Brest, não vou estar a comentar, nem todos os jogadores se despedem dos treinadores. É um jogador que não contava para esta época e seguiu o seu caminho.”

Jeremiah St. Juste, Adán e Porro

“É mais uma opção, ainda está a crescer, os treinos são completamente diferentes e teve muito tempo parado. Pode ser opção a titular ou ficar no banco, o importante para nós é que ele siga sem grandes paragens a partir de agora. Tem um contrato longo, queremos construir um jogador porque sabemos as qualidades que tem. Mostrou-as um bocadinho no Dragão, a forma como foi buscar o Galeno, por isso o queríamos trazer para a linha defensiva. É mais uma opção.

O Adán já nos salvou tantas vezes, já nos deu tantos títulos, que não tenho conversa nenhuma. É um jogador experiente. Acho que também teve azar, no primeiro golo a bola podia ressaltar para tanta gente, no penálti saiu à bola para bloquear o remate e, no último, o que me chamou a atenção foi a velocidade dos meus jogadores a voltarem para trás, se todos viessem no máximo, o Adán não teria de intervir na bola. Portanto, olho para o jogo e para os golos e divido tudo. Divido a culpa dos golos e o acerto também divido por toda a gente. Tenho a certeza que se os meus jogadores acelerassem todos, ele ficava dentro da baliza e não precisava de sair.

O Porro é o Porro, faz parte da idade, mais valia ser golo e estávamos num bom momento, pareceu-me uma coisa instintiva e, para a próxima, não o vai fazer.”