Se recuarmos no tempo, lembramo-nos facilmente das palavras de Frederico Varandas sobre um ainda desconhecido Matheus Nunes. Vai pagar Rúben Amorim, dizia o presidente do Sporting. E pagou, superando os valores por larga margem. Ao mesmo tempo, esta transferência para o Wolverhampton coloca o treinador verde e branco numa posição mais frágil do que nunca. O discurso interno sempre pareceu feito a uma só voz, com o papel de mensageiro a ser cumprido com distinção. Mais do que a perda de um médio importantíssimo nas ambições desportivas do clube, este negócio coloca vários pontos de interrogação sobre a estratégia que foi seguida no mercado e sobre a tremenda incoerência na gestão deste processo.
Nem tudo o que os treinadores dizem corresponde necessariamente à realidade, como é óbvio. Há mensagens que interessa vender. Mas falamos de um tema sensível para qualquer adepto, ainda mais quando se trata de um dos principais jogadores do plantel. A prioridade, segundo Rúben Amorim, era emagrecer o elenco para manter os nomes fortes. Matheus Nunes tinha rejeitado propostas que lhe mudariam a vida, acrescentou. Não foi há meses. Aconteceu há poucos dias. Conhecemos a postura intransigente do técnico leonino e a habilidade comunicacional para transmitir certezas. Se foi surpreendido pela direção do clube, o projeto levou um golpe. Se não foi surpreendido, o que disse após o jogo com o Rio Ave foi o grande erro que cometeu desde que chegou a Alvalade, quase prometendo o que não podia ser cumprido.
Entenda-se que a saída de Matheus Nunes corresponde ao ciclo natural do futebol português. Todos os jovens de qualidade superior dão o salto rapidamente e servem para resolver problemas de tesouraria. Financeiramente falando, o negócio atinge valores extraordinários para o Sporting. Mas, depois de vender João Palhinha para Inglaterra e com a lesão grave de Daniel Bragança, a lógica desportiva apontava para que houvesse o tal esforço de que Rúben Amorim falou para segurar o médio. De resto, começou a temporada em grande forma e vem aí o clássico no Dragão, que pode deixar os leões numa posição desconfortável e acentuar o tom de desconfiança dos adeptos.
Ao nível das entradas, o clube fez um mercado exemplar naquilo que considerou essencial – excluímos aqui a questão do ponta de lança, já diversas vezes explicada por Amorim. Fechou cedo o plantel, dando tempo para enquadrar devidamente os reforços. Fica no ar a pergunta sobre o timing da transferência de Matheus Nunes nesta fase, sendo públicas outras ofertas vindas da Premier League anteriormente. Sem ir muito longe, e sabendo a atenção que os leões vão tendo ao mercado interno, André Franco seria um alvo provável e foi parar ao Dragão. Pedro Gonçalves, embora possa ser utilizado mais atrás em determinados jogos, faz falta como atacante. Mateus Fernandes mostra potencial elevado. Mas a escolha do sucessor no meio-campo – para ter impacto imediato - vai definir que Sporting haverá na luta pelo título.
Pedro Porro, Matheus Nunes e Pote, estando bem, eram os três jogadores diferenciais na equipa de Amorim. Se jogam ao melhor nível, o Sporting cresce. Perdendo um deles, num setor tão determinante como o meio-campo, o acerto no mercado é absolutamente indispensável, sobretudo num plantel curto. Os outros clubes sabem que os leões estão necessitados e isso pode subir valores de transferência, numa altura em que caminhamos para o fecho da janela. Dará para perceber o nível de ambição para esta temporada. Agora, que não haja dúvidas: estamos no início, mas esta saída de Matheus Nunes será um dos principais motivos de crítica caso os objetivos não sejam alcançados. E aí, pelo papel que desempenhou neste capítulo, Amorim também pode levar por tabela.
Matheus Nunes e a pedra no sapato de Amorim
Entre o dito por Rúben Amorim e o feito pelo Sporting vai uma grande diferença, escreve Tomás da Cunha, analisando como o timing da venda de Matheus Nunes, um dos três jogadores diferenciais que elevavam o nível dos leões, torna absolutamente indispensável um acerto no mercado
18.08.2022 às 14h02

PATRICIA DE MELO MOREIRA
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