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Frederico Varandas: Um treinador disse-me 'gabo muito a sua coragem, mas não estou para aturar um clube de malucos como o Sporting'"

O presidente do Sporting falou este sábado no Jornal da Noite da SIC, onde revelou que procurava um técnico "português, com perfil europeu", mas que a demanda não foi fácil. Varandas falou ainda de Silas, dos críticos, dos que querem dividir e do longo caminho que o clube ainda tem de percorrer. “Ninguém melhora sem perceber os erros que cometeu”, disse. O que o clube precisa, disse o presidente leonino, é de alguém que governe com respeito pela bancada, mas não para ela

Expresso

RODRIGO ANTUNES

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Os adeptos dos três grandes clubes de Portugal não são conhecidos pela calma que têm nas derrotas. O Sporting está a passar uma fase complicada, que já vem de antes de Frederico Varandas, mas nas últimas seis semanas começou mesmo a apertar: cinco jogos sem ganhar, três derrotas e dois empates.

Depois do fim do período de Marcel Keizer à frente equipa técnica seguiu-se o breve período de Leonel Pontes, interino, e agora chega Silas, também envolto em controvérsia por não ter as qualificações necessárias. Mas Varandas parece acreditar que estamos perante num momento de viragem no Sporting. “É um treinador sem medo que vai procurar tirar o melhor daqueles jogadores e que me disse: ‘Qualidade nesta equipa não falta’. Silas é um treinador que não tem medo nenhum de apostar num jogador, independentemente da idade”, disse Varandas.

Para trás ficou uma época negra, disse, que ainda tem muita influência naquilo que o Sporting pode ou não pode fazer atualmente. “As pessoas têm de perceber que apesar dos títulos que ganhamos na época passada a situação não ficou resolvida. As pessoas falam da Taça de Portugal, da Taça da Liga, isso é ponta do iceberg, a grande vitória desta direção foi o que já foi conseguido este ano, evitar a falência do clube, conseguir investir como já estávamos a investir na formação para termos a estrutura e as ferramentas para podermos olhar nos olhos dos nossos rivais”, disse.

Medidas impopulares? Diz-se pronto para as tomar. “O Sporting não é desta direção, é dos sócios e merece ter um futuro. É preciso ter coragem para tomar medidas e admito que o que estou a fazer não é para me perpetuar aqui muitos anos”

Nada se faz sem tempo, conceito que o presidente dos verdes e brancos frisou várias vezes na entrevista. A remodelação do clube, no que toca ao dinheiro que é preciso investir em novos jogadores e também na formação, vai demorar tempo. “Os adeptos veem-me na rua e dizem: ‘Já viu aquela máquina, já viu aquela máquina que eles têm do outro lado da Segunda Circular?’ Sim já, já vi a máquina. Mas essa máquina demorou muito tempo a ser montada. Quanto tempo demoraram a montar essa máquina? Não é numa época que se apagam duas décadas, nem em duas”, disse Varandas repetindo que a máquina está a ser montada e “a avançar”.

Sobre se o novo treinador vai ter paz para trabalhar, ou seja, se a impaciência das bancadas não vai fazer saltar fora mais um nome, Varandas responde, exaltado, que paz é bem escasso para os lados de Alvalade. “Se Silas vai ter paz para trabalhar? Mas eu tenho paz para trabalhar? Acha que os jogadores que conquistaram o que conquistaram têm paz quando jogam em Alvalade? Acha que estes jogadores merecem preferir jogar fora de Alvalade do que jogar em Alvalade?”.

Regressando aos insultos, lenços brancos, apupos e pedidos de demissão que tem surgido entre a massa associativa, Varandas diz que os adeptos do Sporting não são burros e sabem identificar bem quem são “as pessoas que preferem o caos, os grupos que preferem que as coisas corram mal para manter as coisas como estavam”. Uma ferida aberta? “Só enquanto alguns não deixarem que se feche”.

Ainda sobre a escolha do novo treinador, Varandas admitiu que o Sporting procurava um técnico "português e com currículo europeu". Mas não foi fácil. "Um recusou mas disse-me 'gabo muito a sua coragem e paciência, mas não estou para aturar um clube de malucos como o Sporting'. Isto é a visão que muitos treinadores têm do Sporting", disse, reconhecendo que Leonardo Jardim e Mourinho eram desejados. "Mourinho elogiou o trabalho feito e fica perplexo, conhecendo a realidade do clube, ele próprio vítima do ruído à volta de quem tem de decidir. Mourinho quer abraçar um projeto que lute pelas provas europeias. É a realidade portuguesa e nenhum clube português luta pela Champions. Outros treinadores portugueses recusaram porque não têm paciência para aturar um clube como este".