Portugal

Num tubo de ensaio, Roberto Martínez juntou “continuidade e sangue novo” para criar mais opções: “É muito importante acompanhar o talento”

Num tubo de ensaio, Roberto Martínez juntou “continuidade e sangue novo” para criar mais opções: “É muito importante acompanhar o talento”
TIAGO PETINGA

Geovany Quenda, Renato Veiga e Tiago Santos foram as grandes novidades da convocatória de Roberto Martínez, a primeira após o Euro 2024. O selecionador admite que quer alargar o leque de soluções da equipa no arranque do novo ciclo que só vai terminar no Mundial 2026, competição onde o técnico não arrisca antever a presença de Cristiano Ronaldo

O fenecer de uma grande prova encerra um ciclo. Terminado o Euro 2024, Roberto Martínez tinha na força das suas mãos a oportunidade de decidir se bastava encostar a porta que liga o presente e o passado ou se a queria fechar com um estrondo. Na verdade, revelada que está a convocatória para os jogos com a Croácia e a Escócia (Estádio da Luz), o selecionador nacional deixou o ar correr entre as opções que escolheu para estarem na Alemanha e o futuro que agora começa.

Martínez considera que “a lista tem um equilíbrio muito bom” entre a “continuidade e o sangue novo”. Nos 25 jogadores que vão representar Portugal na estreia na Liga das Nações 2024/25, mantém-se a veterania de Cristiano Ronaldo (39 anos) e adiciona-se a juventude de Geovany Quenda (17 anos) num trabalho que procura alargar o lote de nomes familiarizados com a seleção para, quando chegar o Mundial 2026, o campo de recrutamento ser maior. “O futebol português precisa de ter 25, 30 jogadores que possam jogar e ajudar a seleção. A ideia da lista é abrir a possibilidade a esses jogadores.”

A fase inicial da Liga das Nações, “uma competição elitista” em que as “melhores seleções da Europa jogam olhos nos olhos” umas contra as outras, é vista como um momento “muito importante para acompanhar o novo talento”. Tiago Santos, Renato Veiga e Geovany Quenda são estreantes nos trabalhos da seleção nacional. “É importante que eles mostrem o que podem fazer”, recomenda Roberto Martínez.

“O Renato Veiga e o Tiago Santos têm tido desempenhos muito bons”, explica o treinador espanhol. Geovany Quenda, “um jogador que vive do desequilíbrio” e “gosta de situações de um contra um”, impressionou Martínez por aquilo que fez no Euro Sub-17, onde Portugal foi finalista vencido, e pela forma como impactou o jogo do Sporting quando foi chamado por Rúben Amorim. “Gostámos muito do que fez na pré-época. Adaptou-se a jogar numa posição diferente e adaptou-se a jogar no onze inicial do campeão nacional. Para este estágio, pode ser interessante ver como entra no patamar internacional.”

Uma vez que o principal critério para a convocatória “foi chamar jogadores que tenham feito pré-época com os seus clubes” de modo a “chegarem com ritmo ao estágio”, Rui Patrício (rendido por Rui Silva na hierarquia dos guarda-redes), Danilo Pereira, Francisco Conceição, Matheus Nunes e João Cancelo terão sido os mais prejudicados. No caso do lateral-direito, o futuro só ficou resolvido nas vésperas do anúncio de Martínez. Cancelo reforçou o Al Hilal, alargando a diáspora portuguesa na Arábia Saudita, um fluxo migratório que “não é uma preocupação” para o treinador. Otávio podia ter sido uma solução vinda do Médio Oriente, mas por “decisão médica” ficou de fora, motivo que também justifica a ausência de Raphaël Guerreiro.

Pedro Gonçalves e Francisco Trincão, dois dos nomes cujo esquecimento mais se debateu no prelúdio do Euro 2024, alargam a representação do Sporting na lista. “O selecionador e a equipa técnica não têm camisolas, não há rivalidades”, explicou Martínez descartando qualquer discriminação clubística.

O eixo defensivo da seleção nacional ficou sem Pepe, cujo último jogo da carreira foi contra a França, nos quartos de final do Europeu, e que deixa “um legado incrível”. Já com a experiência de duas grandes competições (Catar 2022 e Alemanha 2024), António Silva terá a oportunidade de cimentar o estatuto na seleção. Pelo menos, Roberto Martínez destaca que “está num patamar diferente de Tomás Araújo ou Eduardo Quaresma”, outros candidatos à vaga.

Entre os mais experientes, ainda não é para já que Portugal vai começar a aceitar candidaturas para o cargo de capitão. Cristiano Ronaldo mantém-se, por agora, no entorno da equipa, mas Roberto Martínez não arrisca prever se o jogador do Al Nassr vai estar no Mundial. “Ninguém pode falar do futuro”, porque “a carreira de todos os jogadores com mais de 30 anos é feita passo a passo, estágio a estágio” mesmo para aqueles que têm um “nível único” como Cristiano Ronaldo.

Para Portugal, repetir a conquista da Liga das Nações não parece ser um objetivo desportivo fulcral. Ainda assim, o treinador descarta que o manuseamento de tubos de ensaio sirva como desculpa para um mau desempenho: “Não há atenuantes no futebol de seleções.” O conjunto de prediletos lusos está inserido no grupo 1 da prova, em conjunto com Croácia, Escócia e Polónia.

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