Paris estava quente, o verão aquecia-se e os tremores no estádio esquentavam-na. Com o joelho apertado pelas ligaduras que o impediam de esticar a perna, um inusitado Cristiano inquietava-se diante do banco de suplentes de Portugal, de certo contrariando os conselhos médicos após a pancada na pior das articulações para um futebolista: ele gritava, abanava os braços, empurrava Fernando Santos, assobiava e gesticulava indicações para o campo. A nervosa final do Europeu de 2016 sempre mais especial ficará pela recordação do capitão machucado, mas não caído, a ajudar ansiosamente como podia até as duas horas mais preciosas do futebol português serem consagradas pelo último sibilo do árbitro.
Festa no Stade de France, o caneco era dos portugueses nas barbas dos franceses e Ronaldo, extasiado na euforia, fechava os olhos e berrava ao céu, de braços abertos em contemplação quando um primeiro corpo o apertou num abraço. Não era um jogador, o selecionador, um elemento do staff técnico, nem um anónimo roupeiro. Era Ricardo Regufe, que com ele se deixou cair no chão.
Dentro dos 30 e tal segundos desse caloroso amparo cabiam uns 15 anos de relação, de uma proximidade tal que a seleção virou, aos poucos, mais uma assoalhada para a amizade entre o futebolista e seu assistente pessoal do que lugar onde um oficial fazia a ponte entre a equipa e a marca desportiva que a patrocinava. Assim entrou na Federação Portuguesa de Futebol (FPF) o fomentador do tal abraço parisiense que o Liechtenstein será o primeiro adversário, esta quinta-feira e em mais de duas décadas, a não o ver coabitar na comitiva da seleção nacional. Ver “de perto” o que sucedeu na vida da equipa durante esse período é eufemismo escrito pelo próprio, há dias, quando anunciou o fim de uma ligação pública, visível a todos, mas pouco explicada para fora ao longo dos anos.
Ricardo Regufe viu, presenciou e esteve em todas as competições com Portugal desde o Europeu caseiro, onde os gregos foram desmancha-prazeres. Um, dois anos antes, na vigência de António Oliveira a selecionador, o nortenho ‘entrou’ na equipa como único responsável pela ligação entre a FPF e a Nike, onde era “Sports Marketing Manager Football Portugal”. O pomposo título do cargo mora no seu LinkedIn, a realidade da função é descrita à Tribuna Expresso por quem partilhou dias com ele na seleção: garantia que federação e a Nike cumpriam as “obrigações contratuais”, geria atividades da marca que requeriam a presença de jogadores (sessões fotográficas, por exemplo), coordenava tudo relacionado com equipamentos, material de treino ou chuteiras.