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Portugal

Como a “prisão ao ideário de 2016” e a “redução do potencial desta geração” limitam a seleção que não assume um padrão de jogo

Portugal perdeu com a Espanha de uma maneira tristemente familiar, recuando e renunciando à bola e ao talento dos jogadores que tem à disposição. Fernando Santos fala de um “padrão de jogo”, mas será que ele existe e beneficia a nova vaga do futebol nacional, que obriga a que a seleção deixe de girar em torno de Ronaldo?

Pedro Barata

NurPhoto

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“Estamos sempre mais perto da vitória se nos focarmos no que temos de fazer, se nos focarmos em nós próprios.”

“Temos de manter o nosso padrão de jogo independentemente do adversário. Fizemos isso durante muito tempo do jogo.”

Estas duas frases, da autoria de Fernando Santos, foram ditas, respetivamente, antes e depois do Portugal-Espanha, que ditou a eliminação na Liga das Nações. Em ambas, o técnico realça a importância do que a sua equipa “tem de fazer”, da manutenção de um “padrão de jogo” que, diz, até foi colocado em prática durante “muito tempo” do embate contra la roja.

Mas terá, de facto, Portugal um “padrão de jogo”, uma ideia que norteie o que o coletivo quer fazer dentro de campo? Haverá a vontade de impor algo ao adversário, ou somente a reação perante o que este traz?

Fernando Santos cumpriu, recentemente, oito anos ao comando da seleção. Entre as 20 primeiras classificadas do ranking FIFA, só a França, com Didier Deschamps, tem o mesmo treinador há mais tempo que Portugal. Seria, por isso, de esperar que o tal “padrão” de que o próprio Fernando Santos fala estivesse consolidado, mas a realidade parece ser outra.

Do Portugal que dominou em Praga ao Portugal que esperou em Braga vai a mesma distância que, há um ano, tinha ido das intenções ofensivas que Fernando Santos comummente expressa à apatia evidenciada contra a Sérvia.

Para Rui Malheiro, comentador da RTP, o que se viu contra os checos, com circulações de bola mais prolongadas e variadas, é “uma exceção” que se deve “ao talento superlativo” dos jogadores existentes. Nas grandes decisões, considera o analista, a seleção “continua presa ao que levou à conquista do Euro 2016: organização defensiva coriácea, (falsa) sensação de segurança por defender com muitos para tornar o caçador em presa”, partindo para o contra-ataque.

Assim, o contraste entre momentos de maior iniciativa de jogo e outros de especulação seria fruto do que as individualidades fizessem, independentemente do suporte do coletivo. Mais longe vai Tomás da Cunha, colunista da Tribuna Expresso, que defende que “não existe propriamente um padrão de jogo”, havendo, sim, uma “adaptação ao adversário”, uma “tentativa de adequação às necessidades estratégicas que Fernando Santos vê para cada partida”.

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