As pessoas começaram a juntar-se na Gare do Rossio, em Lisboa, à noite. O rápido de Madrid chegava pelas 21h15 e havia que abraçar os pioneiros. Afinal, os homens que iam desembarcar daquele comboio eram os primeiros a vestir a camisola que dizia ao mundo que representavam o povo português. A cada toque das suas botas na bola forjava-se uma certa portugalidade, a cada ação arrojada vislumbrava-se a semente do futebol talentoso que um dia brotaria nas ruas e nos estádios portugueses. Há exatamente 100 anos, a 18 de dezembro de 1921, a seleção nacional estreou-se no futebol internacional. A derrota com a Espanha (1-3), no campo O’Donnell, a casa do Atlético de Madrid, não beliscou o orgulho daquela gente nos futebolistas e Alberto Augusto, o senhor do primeiro golo da história de Portugal, foi levado em ombros.
Aquele duelo ibérico foi magicado durante anos. Ora saía da gaveta, ora regressava. Os desportivos já o pediam há algum tempo, mas as federações não chegavam a acordo. Espanha, apesar de as crónicas falarem de uma superpotência, só havia começado a competir internacionalmente pouco antes. “O primeiro jogo foi um ano antes, contra a Dinamarca. A equipa foi montada para os Jogos Olímpicos de Antuérpia, e aí nasce o mito a que chamam ‘a fúria’”, conta ao Expresso Toni Padilla, jornalista e historiador espanhol. Antes do futebol refinado que se testemunhou ainda na primeira década do século XXI, os espanhóis eram conhecidos pela pedalada e furiosa atitude.