Depois de uma primeira parte em que assumiu que esteve perto do Manchester City, ter ficado negativamente surpreendido com o “zero progresso” do Manchester United em termos de estruturas e em que falou de um dos momentos mais difíceis da sua vida, quando perdeu um dos filhos gémeos que esperava, o segundo tomo da entrevista de Cristiano Ronaldo a Piers Morgan trouxe mais críticas, mais revelações, uma mensagem de arrependimento, elogios a Messi e uma data para o adeus.
Na TalkTV, canal britânico que transmitiu a conversa amigável entre o jogador da seleção nacional - que falhou esta quinta-feira o encontro com a Nigéria devido a uma gastrite - e Piers Morgan, Cristiano Ronaldo admitiu que se arrepende de ter deixado o jogo com o Tottenham antes do fim, mas acredita que foi “provocado” pelo treinador Erik ten Hag, sublinhando ainda ter ficado desiludido com o castigo aplicado pelo United.
“É algo que me arrependo, ter deixado o estádio. Ou talvez não, não sei. Mas vamos dizer que me arrependo. Mas a situação foi provocada pelo treinador. Eu não sou o tipo de jogador para estar três minutos em campo, eu sei o que posso dar ao clube”, começou por dizer, admitindo que a “empatia” entre os dois “não é boa”
“Acho que ele não me respeita como mereço. Se calhar é por causa disso que aconteceu o que aconteceu com o Tottenham”, continuou o jogador, que aponta algumas das atitudes de Ten Hag. "Não me quer meter contra o Manchester City por respeito à minha carreira mas depois quer por-me três minutos contra o Tottenham. As desculpas têm perna curta. E ele fez de propósito. Se for preciso entrar cinco minutos porque alguém se lesionou na seleção ou em outro clube eu ajudo, mas daquela maneira acho que foi uma provocação. Por isso é que digo que ele não mostra respeito por mim”.
Cristiano diz que “percebe” que tivesse de lutar pelo seu lugar na equipa depois de falhar a pré-época, mas sublinhou que o treinador “não fez o mesmo com todos os jogadores”. E, como já havia sido revelado, a doença da filha bebé foi o motivo para o português falhar o arranque dos trabalhos do United.
“Tive problemas nas férias, a minha filha bebé um problema de saúde, bronquite. Estava em Maiorca e ela esteve uma semana no hospital. E toda a gente inventou histórias a dizer que eu não queria viajar. As pessoas têm de perceber que eu sou um ser humano, não há nada mais importante que a minha família, isso é inegociável. Tenho as cartas do hospital, com os desenvolvimentos da saúde da Bella. Passei por momentos difíceis, estava muito preocupado”, explicou, revelando que os responsáveis do United “meio que não acreditaram” nas suas razões, algo que o deixou triste: “Isso magoou-me muito, duvidarem da minha palavra”.

Jan Kruger/Getty
Voltando ao caso Tottenham, o mais internacional de sempre por Portugal admite que ficou “muito desapontado com o Manchester United” depois do clube o suspender três dias. “Achei demasiado”, disse, concordando com o entrevistador que a situação foi “humilhante”. Ronaldo contou ainda um episódio com o filho nesse período: “O meu filho perguntou-me: ‘Não vais ao jogo?’. E eu disse: ‘Não, o clube suspendeu-me por três dias’. E ele riu-se e perguntou: ‘Como te podem suspender se és o melhor jogador do Mundo’. Eu cometi um erro, e peço desculpas, mas três dias, foi muito desapontante”.
Ronaldo diz acreditar que o treinador e outros “dois ou três tipos” no Manchester United não o querem no clube. “Senti-me traído. Senti que algumas pessoas não me queriam”, deixando no ar que o seu comportamento nos últimos meses foi provocado. “Foi estratégia do clube para me comportar assim”.
Sobre o treinador, mais palavras fortes: “Ele continua a dizer que conta comigo, que gosta de mim e blábláblá, mas é só para a imprensa”.
Futuro incerto em Manchester
Durante a entrevista, Cristiano sublinhou que a sua cabeça está na seleção nacional e no Mundial e diz não saber se irá continuar no Manchester United. “Não sei o que vai acontecer, só posso dizer que os adeptos vão estar sempre no meu coração”, disse, sublinhando que não está “arrependido” de ter voltado ao Manchester United, apesar da óbvia mágoa com quem gere o clube.
"Sempre estive disponível para dar conselhos ao Manchester United, mas é difícil quando te cortam as pernas, quando não te ouvem. Eu acho que posso ajudar muito, mas quando as infraestruturas não são boas…”.
A motivação, diz, “não é a mesma” de há uns meses: “Não digo que precise de um novo desafio mas não sei, talvez seja melhor para mim e para o Manchester United. Mas não sei, se eu voltar vou ser o mesmo Cristiano e espero que as pessoas estejam do meu lado”. Mas durante a a conversa nunca fechou completamente a porta a manter-se na equipa, se as coisas mudarem
“Os Glazers [proprietários do United] não querem saber do clube. O Manchester United é um clube de marketing. Mas sobre desporto não querem saber. Nunca falei com eles, dão o poder todo ao presidente e ao diretor desportivo. Há coisas dentro do clube que não ajudam o United a estar ao nível do Arsenal, do City e Liverpool. Difícil o clube estar no topo nos próximos cinco anos. Como Picasso disse, é preciso destruir para reerguer. E se quiserem começar comigo, não será um problema”, resumiu.