O anoitecer na grande Manchester, em meados de julho, chega muito tarde. Às 21h30 ainda há luz do sol a brindar o relvado de Broadhurst Park. As bancadas, tanto as sentadas como as zonas de pé, estão quase cheias para um embate amigável entre o FC United of Manchester e o Bury, duas equipas semi-profissionais fora da Football League — isto é, não fazem parte das quatro ligas nacionais de Inglaterra. O número 10 do United of Manchester, equipa da casa, acaba de marcar um golaço e é substituído.
O assessor de comunicação/speaker/braço-direito do presidente/gestor da conta de Twitter do clube de Manchester vai ao banco chamar o jogador, pedindo-lhe que venha falar com a Tribuna Expresso. De corpo atlético, o futebolista sobe as escadas da bancada principal enquanto é felicitado pelos adeptos. Cumprimenta-nos em português, sentamo-nos e a primeira pergunta é óbvia.
Como veio ele aqui parar?
“Cheguei em 2006, vim com a minha mãe, com a intenção de estudar, não de jogar. O meu pai foi jogador, jogou em Portugal, no Benfica…”
“Quem é o teu pai?”
“É o Akwá.”
“Tu és filho do Akwá?!?”
“Sim, sim.”
“O teu pai é uma lenda, isso é incrível!”
Esta é a transcrição do momento em que ficámos a saber que, num estádio de um clube da sétima divisão inglesa, joga com o número 10 o descendente do melhor marcador da história da seleção de Angola. Nos subúrbios de Manchester atua Edy Maieco, filho de Akwá, que atuou no Benfica, no Alverca, na Académica e no Mundial de 2006 como capitão, bem como em três edições da Taça das Nações Africanas.