O selecionador inglês de râguebi, Eddie Jones, um homem com uma voz e currículo importantes, sugeriu uma alteração nas regras das camadas mais jovens daquela modalidade: placagens só abaixo das ancas.
A ideia é afastar o risco de lesões cerebrais, um tema cada vez mais em cima da mesa quando se debate râguebi. Nos últimos tempos, têm sido conhecidas algumas histórias de demência precoce e também denúncias por parte de jogadores e ex-atletas contra a falta de proteção contra concussões.
“Precisamos a 100% de proteger e minimizar o contacto com a cabeça”, explicou Eddie Jones, em entrevista ao “The Guardian”. “Isso é primordial para o râguebi seguir em frente”, garante.
De acordo com o diário britânico, as regras da Rugby Football Union ditam que as placagens, até aos 18 anos, só podem acontecer abaixo das axilas. Ainda assim, aquele organismo, em alguns jogos de sub-16 e sub-18, tem testado a limitação de placagens até à cintura.

David Rogers
A proposta de Eddie Jones colocaria a fasquia, pelo menos até aos 12 anos, nas ancas. A ideia passaria por "ensinar as pessoas a placar abaixo das ancas desde tenra idade", para que se torne algo "normal para eles", funcionando assim como uma placagem com marca registada, explicou. "Eu penso que dessa forma podemos proteger a cabeça ainda mais e isso é muito importante”, justificou.
Em Portugal, as leis de jogo da Federação Portuguesa de Râguebi dizem o seguinte, no ponto 9.13. da Lei 9, relativo a jogo desleal: “Um jogador não pode placar um adversário prematura ou retardadamente ou de forma perigosa. Embora não sendo limitada por elas, uma placagem perigosa inclui ações em que o jogador placa ou tenta placar um adversário acima da linha de ombros mesmo quando a placagem tem início abaixo da linha de ombros".
"Espero que os jogadores do futuro não caiam na mesma armadilha"
Em novembro, foi publicada a história de Carl Hayman, um ex-all black, que foi diagnosticado, aos 41 anos, com demência precoce e provável encefalopatia traumática crónica.
Hayman admitiu, numa entrevista, que passou vários anos “a achar que estava louco”, pois estranhava as perdas de memória, confusões e pensamentos suicidas.
Esta história, no entanto, não é assim tão rara. Antes, também o inglês Steve Thompson e o galês Alix Popham, por exemplo, já haviam sido diagnosticados com demência. Por isso, Hayman juntou-se aos colegas de profissão numa ação legal contra as autoridades que dirigem o râguebi, incluindo o World Rugby, o organismo máximo da modalidade.
Os ex-atletas responsabilizam as instituições por "não terem fornecido proteção quando o risco de concussão era conhecido e previsível", explicou na mesma entrevista Hayman, que admitiu que a ação judicial visava também motivar mudanças naquele desporto.
"Espero que os jogadores do futuro não caiam na mesma armadilha que me apanhou, que não sejam tratados como objetos e que cuidem deles. Os jogadores jovens têm de saber aquilo em que estão a entrar, tem de haver mais apoio e melhor monitorização em torno das lesões cerebrais", alertou o ex-internacional pelos all blacks, aquando da publicação do diagnóstico, em novembro.