O Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Andebol emitiu comunicado na passada 5ª feira, dando conta não tinha árbitros disponíveis para nomear para a jornada deste fim de semana, onde até se jogou um SL Benfica-FC Porto.
Segundo a imprensa, o motivo da "dispensa" prendeu-se com a alegada falta de apoio institucional face às ameaças, injúrias e agressões a que os juízes se sentem expostos há demasiado tempo.
Não conheço a realidade interna do mundo do andebol nem os contornos que levaram os seus árbitros a avançar para a decisão, mas diz-me a experiência que isso só deve acontecer quando estão esgotadas todas as vias diplomáticas: tentativa de diálogo entre as partes; proposta de medidas concretas, para serem cumpridas em prazos razoáveis; regras claras quanto à definição de questões relacionadas com a segurança, rigor nas sanções disciplinares, etc, etc.
Só quando o diálogo perde valor e todas as negociações esgotam-se é que faz sentido dar o passo maior: ponderar o lançamento da "bomba atómica", que tantos têm medo de chamar pelo nome verdadeiro: greve.
Se foi esse o caso, então os árbitros de andebol têm a minha solidariedade e admiração, nem que seja pela coragem que tiveram ao avançar para essa posição. Sei que não é fácil. Agora o pior que poderão fazer é dar um "tiro nos pés", se decidirem recuar sem que exista um compromisso sério de que algo será feito para lhes garantir as condições que precisam, merecem e exigem.
Esperemos para ver.
A verdade é que todo o setor da arbitragem sofre com este dilema desde sempre: o da incapacidade social em distinguir-se crítica técnica de ataque à pessoa. Esta é uma realidade ainda mais presente nos dias de hoje, muito por força do crescimento exponencial de algumas modalidades e do retorno financeiro que dão a vários níveis.
A verdade é só uma: tal como os atletas, treinadores e dirigentes, os árbitros também são agentes desportivos. Também são parte ativa do jogo, do espectáculo, da indústria.
Têm que ser respeitados! Precisam ser respeitados! É ética e moralmente obrigatório que o sejam. Alias, é regulamentarmente obrigatório que o sejam! Quando não são, quando a sua honra, segurança e bom-nome são feridos de morte por comentários ou atos que ultrapassam a crítica ao seu trabalho, tem que haver consequências! Tem que haver punições! Não há outra forma de travar o que está para lá do admissível!
Ninguém está acima das regras deontológicas e de ética profissional! Isso significa que, tal como qualquer agente desportivo, também os árbitros que errem sistematicamente, que cometam erros reiterados ou que tenham comportamentos desviantes, devem ser responsabilizados. Devem ser penalizados nas suas avaliações, despromovido (se for caso disso) e, em situações mais graves, afastados. A arbitragem precisa de gente dedicada, competente e séria. Só desses.
Mas a permissão tácita para ofender e bater, para persegui-los nas estradas, para insultar maridos e mulheres, para incomodar filhos nas escolas, para insultar pais e amigos, é outro nível. É inadmissível em qualquer lado, sobretudo num estado de direito que se diz democrático.
A verdade é que o desporto não tem sabido cuidar dos únicos agentes desportivos que são indispensáveis nas competições. Não tem sabido defendê-los de ataques pessoais, de hostilidade permanente e agressões constantes. A sociedade também não.
E quando não o fazem, quando se demitem de o fazer, quando permitem que sejam alvo de crimes, tornam-se coniventes. Tornam-se cúmplices de tudo o que lhes venha a acontecer.
Façam o favor de por a mão na consciência e refletir sobre isto! Rapidamente.
Os cargos de poder são ótimos para lançar carreiras, mas existem por outro motivo.
Honrem-no.