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Sentar Cristiano no banco? Não se brinca com os deuses!

Reconhecendo que Ronaldo “tem-se posto a jeito”, Paulo Baldaia questiona “que sentido faz dizer a um dos melhores jogadores de sempre que ele nunca mais será titular num campeonato mundial, sabendo que este é o seu último torneio à escala global?”

Paulo Baldaia

Icon Sportswire

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Quem acha que o futebol é uma brincadeira diz que “é mais fácil organizar um governo do que escolher um onze” para alinhar de início com as cores de Portugal. Agora, que o desporto nacional é tentar enterrar vivo Cristiano Ronaldo, é preciso lembrar que, no espectáculo mais visto do mundo, CR7 vale 750 milhões. Falo de seguidores nas redes sociais, 500 no Instagram e 250 distribuídos pelo Facebook e pelo Twitter. É a pessoa mais seguida no mundo. Quantas habitantes do planeta acham que se importaram com a vitória de Portugal por 6 a 1? Talvez 15 milhões, os portugueses que estão cá e os da diáspora. Sobram, pelo menos, 735 milhões que gostariam de ter visto Cristiano tentar um golo desde o primeiro minuto.

Convenhamos, o “Sete” tem-se posto a jeito, quer pelo que está a jogar, quer pela forma pouco educada como se relaciona com os colegas de jogo e com os treinadores, mas isso não nos dá o direito de o condenar a uma perpétua. Que sentido faz dizer a um dos melhores jogadores de sempre que ele nunca mais será titular num campeonato mundial, sabendo que este é o seu último torneio à escala global? Se tivéssemos memória para tudo o que Cristiano já fez pelo futebol português, estaríamos a ajudá-lo a ultrapassar este momento menos bom e não a participar na sua crucificação. Cada vitória de Portugal sem Cristiano serve mais para rebaixar o nosso melhor de sempre do que para elogiar os restantes jogadores portugueses. E que grande aplauso merecem Gonçalo Ramos e a equipa como um todo.

O futebol é um espetáculo e no Catar está igualmente a segunda pessoa com mais seguidores no Instagram, chama-se Lionel Messi e tem nesta rede social 376 milhões de pessoas a segui-lo. Agora, imaginem que a Argentina derrota a Holanda e depois o Brasil, enquanto Portugal derrota Marrocos e depois a França. O resto do mundo quer ver uma final Argentina vs Portugal ou Messi vs Cristiano? Pois!

Não brinquem com coisas sérias. Admitindo que o resto do mundo nunca nos perdoaria se tirássemos um dos dois melhores do século XXI dessa final mundial, das duas uma: ou estão a fazer campanha para Cristiano nunca mais ser titular pela seleção, e não querem o perdão do resto do mundo, ou estão a contribuir para que Cristiano chegue ainda mais debilitado a esse jogo. Em qualquer das circunstâncias, não me parece que os deuses do futebol perdoem pecados tão grandes. Se querem ter alguma hipótese de fazer de Portugal campeão do mundo, talvez seja melhor voltarmos a apaparicar Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro, português da Madeira e do resto do mundo.

Se não for por ele, que seja por nós, para mostrarmos ao mundo que sabemos ser gratos, que sabemos perdoar, que sabemos que não vale tudo para ganhar um vulgar jogo de futebol. Só dessa forma mereceremos ganhar.