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38.390: LeBron James superou Kareem Abdul-Jabbar para ser o melhor marcador da história da NBA e esta é a história de como o conseguiu

A primeira escolha do draft de 2003, que passou por Cleveland, Miami e Los Angeles até se tornar no jogador com mais pontos da história da NBA: LeBron James está há 20 anos na melhor liga de basquetebol do mundo e continua a disputar qualquer jogo ao mais alto nível. Agora quebrou o histórico recorde de Kareem Abdul-Jabbar - e não parece querer abrandar

Rita Meireles

MediaNews Group/Pasadena Star-Ne

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Esta era uma conquista anunciada. Há algum tempo que a questão deixou de ser ‘será que alguém vai bater o recorde de pontos de Kareem Abdul-Jabbar?’ e passou a ser ‘quando é que LeBron James se vai tornar o melhor marcador da história da NBA?’.

Foi na madrugada desta quarta-feira, na fase descendente de um salto a fugir do adversário, que LeBron chegou aos 36 pontos contra os Oklahoma City Thunder a pouco mais de 10 segundos do final do terceiro período - e o jogo parou. O gigante literal e figurado do basquetebol recuou um pouco na quadra, pôs as mãos nos joelhos, sorriu e a partida pausou para muita gente dar entrada no campo.

Com os 7.352 pontos então amealhados pelos LA Lakers, somados aos 7.919 nos Miami Heat e aos 23.119 que deixou nos Cleaveland Cavaliers, o jogador alcançou os 38.390 pontos e virou o melhor marcador na história da NBA, batendo um recorde de 34 anos na modalidade que era propriedade do homem que, pouco depois, entraria em campo para um simbólico momento.

Kareem-Abdul Jabbar, em tempos outra letal arma lançadora dos Lakers, pegou numa bola, acercou-se do herdeiro e entregou o testemunho a LeBron James em jeito protocolar. A NBA tem um novo rei dos pontos.

King James, como é conhecido no basquetebol, chegou à NBA em 2003, quando os Cleveland Cavaliers o selecionaram como a primeira escolha do draft. Vinte anos depois, tornou-se um dos melhores de sempre da modalidade e continua a prová-lo, sem dar sinais de abrandamento, do alto dos seus 38 anos.

Na sua primeira temporada deu logo sinais daquilo que viria a ser, ao ser o escolhido como rookie do ano, mas o percurso até aos mais de 38.387 pontos, que era o recorde de Abdul-Jabbar, foi conseguido ao longo de vários momentos e decisões que marcaram a carreira do jogador.

Jogador mais valioso

O título de rookie do ano foi bom, mas James queria mais. Seis anos volvidos, em 2009, o jogador venceu pela primeira vez o prémio de MVP (jogador mais valioso). Nessa época, terminou em segundo lugar na lista de mais pontos marcados, com uma média de 28,4 por jogo. Aliás, James liderou a sua equipa em pontos, ressaltos, assistências, roubos e blocos.

O jogador conduziu os Cleveland Cavaliers a um recorde de 66-16 nessa temporada. O resultado do play-off não foi aquele que se esperava, mas foi graças ao desempenho do jogador, nascido e criado no estado do Ohio, em Akron, a 60 quilómetros de Cleveland, que a equipa chegou a ser considerada a favorita para vencer esse campeonato. Dois anos antes tinha acontecido a primeira desilusão: a final perdida para os San Antonio Spurs, em 2007.

Alexander Tamargo

No ano seguinte a história repetiu-se e James voltou a receber o troféu de MVP. Mas não foi o último. Em 2012 e 2013, de novo em anos consecutivos, tornou-se o mais valioso pelas terceira e quarta vezes. Mas já em outra equipa.

Transferência para Miami

Quando chocou o seu estado natal ao deixar os Cavaliers pela primeira vez e assinou pelos Miami Heat, em 2010, já não existiam muitas dúvidas em relação à qualidade de James. Faltava só uma coisa: o troféu Larry O’Brien, entregue à equipa campeã da NBA. Foi por ele que se mudou para a Florida.

Os Heat juntaram James a Dwyane Wade e Chris Bosh e o sucesso tornou-se inevitável. No primeiro ano, perderam nas finais com os Dallas Mavericks, a desilusão foi muita, mas o trio conseguiria vencer o título por duas vezes consecutivas, em 2012, contra os Oklahoma City Thunder, e 2013, contra os San Antonio Spurs. Nas duas vezes, James sagrou-se MVP da final.

DON EMMERT

Foi certamente aqui que atingiu um dos picos da sua carreira, numa altura em que realizou, segundo Brian Windhorst, jornalista da ESPN, “mais lançamentos” a partir de locais do campo “onde aprendeu que era bom a lançar contra estratégias defensivas”, lançando menos quando se deparou contra “estratégias concebidas para o atrair a más decisões”. Aquilo que resumiu como: “James a aplicar o seu entendimento de uma década na NBA e a fundi-lo com o seu talento”.

James deixou Miami em 2014 com 23.170 pontos. Estava a 15.217 pontos do recorde de Abdul-Jabbar e queria voltar ao lar.

O regresso a casa

James tinha assuntos por terminar em Cleveland e, em 2014, decidiu regressar à sua primeira equipa na NBA. Os sinais positivos apareceram logo após a sua chegada: a equipa entrou para o lote dos favoritos da conferência Este.

No regresso, os Cavs chegaram à final, mas perderam com os Warriors. Na temporada seguinte, em 2015/16, novamente com os Warriors como adversários da final, os Cavaliers perderam três dos quatro primeiros jogos. Nenhuma equipa tinha conseguido recuperar de um resultado de 3-1 nas finais, mas esta equipa tinha uma peça-chave: LeBron James.

O resultado acabou por se tornar um 4-3 a favor dos Cavaliers e James conseguiu cumprir a promessa de lhes dar um campeonato. Há 52 anos que a equipa do Ohio não chegava ao lugar mais alto da liga.

MediaNews Group/Bay Area News vi

Estes anos foram de mudança para o próprio jogo. De repente, o lançamento da linha de três pontos tornou-se mais relevante graças a jogadores como Stephen Curry e James Harden, mas LeBron, intencionalmente ou não, continuava atrás do recorde de Abdul-Jabbar e a forma como o fez não deixou de ser através do jogo interior. Apesar de ser o nono classificado na lista dos que mais triplos marcaram na liga norte-americana.

À conquista de Los Angeles

Depois de fazer tudo o que tinha para fazer em Cleveland, James foi à procura de um novo desafio. O destino foi um dos históricos da liga norte-americana: Los Angeles Lakers.

Este capítulo na Califórnia tem sido recheado de altos e baixos, mas, ao mesmo tempo, tem deixado ainda mais claro o valor de James. Na época 2019/20, que ficou marcada pelo início da pandemia causada pela covid-19 e por isso terminou na bolha, um recinto fechado ao público onde os jogadores permaneceram até ao final do campeonato, os Lakers foram os campeões da NBA, algo que não acontecia desde 2009. Foi o melhor momento a nível coletivo.

O ano de 2020 ficou também marcado pela morte de Kobe Bryant, o que aumentou a responsabilidade enquanto figura da formação de Los Angeles. Tornou-se necessário dedicar o título à lenda do basquetebol e dos Lakers. E assim aconteceu.

Harry How

Depois disso a equipa de Los Angeles tem tentando ser, cada vez mais, uma ‘super team’, enchendo o balneário de nomes grandes da modalidade. A fórmula que funcionou para os Golden State Warriors ou os Miami Heat em tempos, não tem resultado para os Lakers, que no ano passado ficaram fora do play-off.

Ainda assim, LeBron James tornou-se o melhor marcador de sempre da liga. É provavelmente um dos maiores atestados da sua grandeza.

Wally Skalij/Getty

James não superou simplesmente a marca de Kareem Abdul-Jabbar. No dia em que anunciar a reforma, deixa um novo recorde de pontos marcados, uma vez que a probabilidade de manter esse registo até ao final da carreira é enorme, e outro de minutos jogados, que ainda pertence a Jabbar. Algo de muito anormal terá de acontecer para não superar também esse número.

Falamos de um registo que vai exigir muito das próximas gerações para que seja superado. De uma forma resumida, é necessário que um jogador se mantenha saudável e produtivo durante duas décadas. Abrandar a partir de uma certa idade não é uma possibilidade.

Segundo dados recolhidos pela ESPN, James conseguiu marcar mais de 2 mil pontos em 10 temporadas ao longo da sua carreira. O seu registo mais baixo foi de 1,126 pontos, quando as lesões e a pandemia o limitaram a 45 jogos. Feitas bem as contas, não custa prever que LeBron James chegará aos 40 mil pontos marcados já na próxima época.

E o número só vai aumentar.