Foi em 2007 que Kevin Durant foi escolhido, pelos Seattle SuperSonics, na segunda posição do draft. Quinze anos depois, ainda é um dos jogadores mais bem sucedidos da NBA e um dos que mais atenções desperta entre adversários, adeptos e meios de comunicação social. Não só pela forma sem filtros como fala sobre qualquer assunto que vá ao seu encontro, mas também pelo que faz em campo e pelas decisões que tomou na carreira.
Os anos passam e o seu jogo continua a melhorar. É capaz de marcar mais, lançar melhor e fazer mais assistências em média pelos Brooklyn Nets do que durante as suas passagens pelas duas equipas anteriores (Oklahoma City Thunder e Golden State Warriors), ignorando quem acha que o seu momento de melhor forma já passou.
E são muitos os que o dizem.
As polémicas seguiram-no tanto como as boas exibições ao longo do seu percurso, quer as tenha procurado ou não. Recentemente, teve o afastamento de Kyrie Irving da equipa, devido à sua recusa em ser vacinado contra a covid-19 e pela sua promoção de um filme com conteúdo antissemita. Houve também a saída atribulada de James Harden dos Nets, o pedido para ser trocado durante o verão, ou a suposta exigência para que Steve Nash, o então treinador, fosse despedido. Mas há um tema em específico que não o larga desde que trocou os Thunder pelos Warriors, o mesmo tema que, com certeza, voltará a estar a discussão na madrugada da próxima quinta-feira, quando os Nets defrontarem os Warriors.
Com a equipa de São Francisco venceu dois campeonatos e dois prémios de MVP (jogador mais valioso) da final. Na altura ganhou força a teoria de que Durant só tinha mudado de equipa para lhe ser mais fácil chegar ao título que tanto procurava. E desde que se mudou para Brooklyn, a ideia ganhou ainda mais força visto que ainda não voltou a segurar a taça e os Warriors foram campeões no ano passado sem ele, contra a equipa que o eliminou na primeira ronda do play-off.
O ex-jogador da NBA Charles Barkley chegou a dizer no programa "Inside the NBA" que Durant não era o condutor do autocarro, estava simplesmente a acompanhar o passeio, desvalorizando os feitos do jogador até hoje. “Odiei [o que ele disse]”, confessou Durant em entrevista ao ”The Washington Post". “Isso nunca vai acontecer quando estou a jogar basquetebol. Ou vou recuar, para que possas avançar e fazeres o que quiseres, ou eu vou assumir o controlo", continuou.
"Não posso mentir: ao ver as finais, sabia que várias pessoas iriam virar a sua atenção para mim assim que eles [Warriors] ganhassem. Detesto que tenham ganhado, porque não se vão importar com eles, vai ser tudo sobre mim", disse. "Penso que é apenas uma forma infantil de olhar para essa experiência. Sinto que se pode aceitar tudo e apreciar o que eles fizeram e nem sequer falar de mim. Eu estava apenas sentado em casa. Mas eu percebo como é".
Quando se voltam a encontrar na quadra, como está prestes a acontecer, nenhum deste ruído tem importância. Até porque não consegue apagar o que a equipa fez com Durant entre eles. “Aquela ali é a minha família. Eu posso ser um Brooklyn Net e eles podem ser os Golden State Warriors, e continua a haver amor. Quando eles tiverem sucesso, eu terei sucesso, porque faço parte dessa história para sempre”, disse.

Justin K. Aller
Muitos defendem que a única forma de terminar este debate é se KD, como é tratado na liga, conseguir vencer um campeonato sozinho. Ou seja, numa equipa em que é a única estrela. Este é provavelmente o debate que mais irrita o jogador, que, na verdade, joga um desporto coletivo.
“Nunca fiz nada de significativo nesta Terra sozinho. Mesmo que eu ganhe nesta equipa, vai ser uma contribuição de todos. Nunca tornei o ganhar sobre mim, mesmo quando estava nos Warriors. Nem sequer vim aqui para provar às pessoas que podia ganhar sozinho. Não consigo colocar toda a pressão sobre mim próprio. Já fiz isso antes, mas não foi bom para a minha sanidade tentar pôr tudo em cima de mim", afirmou Durant.
“Dito de forma simples, eu gosto de jogar”
Kevin Durant é um dos muito bons, o que torna difícil entender duas coisas: por um lado o porquê do coro constante de críticas, por outro o que o faz continuar a jogar contra a corrente.
"Como é que continuo a ter aquele prazer e aquela emoção? Tive de me fazer essa pergunta. Dito de forma simples, eu gosto de jogar. É tão simples como isso. Gosto quando a bola atravessa o aro. Gosto de trabalhar no meu jogo. Gosto de construir para uma equipa. Vou continuar a perseguir essa sensação. E no segundo que desaparecer, acho eu, vou parar”, assumiu.
Talvez o maior problema de Durant foi ter nascido na geração errada. Para um jogador que valoriza o jogo jogado, o que acontece todas as noites na quadra e o impacto que isso tem nas pessoas, não é fácil fazer parte de uma geração onde os números falam mais alto. Ou pelo menos uma pequena seleção deles. Ainda assim, mantém-se positivo e consciente de que é mais do que uma simples estatística.
“Há prós e contras em tudo. Mas há mais prós do que contras, sendo eu quem sou. A minha vida por vezes é um pouco louca, lido com o escrutínio constante, ou nem sequer lhe chamo escrutínio porque é mais amor do que ódio, para ser honesto. Estou a abraçar essa responsabilidade como parte do meu trabalho. E compreendendo que tenho influência. Eu menosprezei isso, tipo: 'sou só um jogador de basquetebol'”, concluiu.