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Sabe o que é o tanking? Para ter Victor Wembanyama, as equipas da NBA estarão dispostas a quase tudo. Até perder jogos de propósito

A NBA tem vindo a tomar medidas contra as equipas que fazem tanking, ou seja, optar por desempenhos maus para na temporada seguinte ter mais hipóteses de conseguir um bom jogador no draft, mas face ao valor do francês muitas estão a arriscar. Tudo para ficarem com a primeira escolha em 2023, altura em que o fenómeno Wembanyama quer dar o salto para os Estados Unidos

Rita Meireles

Steve Marcus

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O basquetebolista francês Victor Wembanyama não tem muitos problemas com a comunicação em inglês, mas há uma palavra que tem alguma dificuldade em entender: "A palavra e o significado de tanking são um pouco estranhos. E, pessoalmente, eu nunca quereria perder. É uma coisa pessoal”, afirmou.

Wembanyama vai fazer mais uma temporada em França e depois vai levar os seus 2,23 metros e uma mala cheia de elogios de todas as estrelas da NBA para ocupar o primeiro lugar na escolha do draft de 2023. Esta parece ser a maior certeza da liga norte-americana de basquetebol neste momento. Sabendo disto, são várias as equipas atrás dessa primeira escolha. A questão é: até onde irão para a conseguir? Perder de propósito pode ser uma opção.

Várias equipas poderiam estar a evitar dar o seu melhor esta época, apostando apenas em usar o ano para desenvolver jogadores mais jovens. É que se forem suficientemente maus, e tiverem uma boa dose de sorte, na próxima temporada podem entrar em campo com o jogador que, segundo Shaquille O’Neal, “será, provavelmente, um dos melhores de sempre”.

O tanking, ou seja, o optar de forma propositada por desempenhos maus para na temporada seguinte ter mais hipóteses na lotaria do draft, parecia infalível até ao “The Process” dos Philadelphia 76ers, equipa que venceu apenas uma mão-cheia de jogos durante três anos consecutivos e conseguiu por três vezes seguidas ser a primeira a escolher no draft. Para ficar com a primeira escolha, é necessário não só jogar mal e perder muito na temporada anterior como também um pouco de sorte.

Para se definir quem é a equipa com a 1.ª escolha do draft, são colocadas 14 bolas, numeradas de 1 a 14, numa máquina de lotaria, que as mistura durante 20 segundos até uma delas ser removida. O processo repete-se mais três vezes, mas aqui as bolas são misturadas durante 10 segundos. As quatro bolas são colocadas em ordem, revelando a combinação vencedora, e é recompensada a equipa correspondente com a seleção. A segunda e terceira escolhas são premiadas da mesma forma.

É aqui que entra o tanking. A quantidade de combinações pertencentes a cada uma das 14 equipas da lotaria corresponde à sua ordem inversa na classificação. Ou seja, as três piores equipas da época anterior terão uma probabilidade de 14% de ter a combinação de números que as leva à primeira escolha do draft, algo que lhes dá mais hipóteses do que as outras onze equipas.

No final do dia, a questão será: Vale a pena confiar na sorte por Victor Wembanyama?

Mike Stobe

Adam Silver, comissário da NBA, acredita que não. Não por causa do jogador em particular, mas sim por acreditar que as mudanças que a liga tem feito no seu sistema nas últimas temporadas, desde nivelar as probabilidades da lotaria até acrescentar o torneio play-in, reduziram os incentivos ao tanking.

"Estás a lidar com uma probabilidade de 14% de conseguir a primeira escolha", disse Silver à ESPN. "Uma hipótese de 14% é melhor do que uma hipótese de 1% ou 0%. Mas mesmo em termos de probabilidades diretas, não beneficia uma equipa ser a pior equipa da liga”.

Recorrer a esta solução para garantir o futuro não é, então, impossível, até porque “não existe uma solução perfeita”, de acordo com Silver. “Ainda achamos que o draft é a forma correta de reconstruir a liga ao longo do tempo. Faz sentido a decisão de as equipas com pior desempenho serem capazes de se reabastecer com os melhores jogadores a entrarem. Por isso, ainda não criámos um sistema melhor", afirmou.