No início da semana, cerca de 200 scouts da NBA juntaram-se em Las Vegas para verem em ação aqueles que serão o futuro da liga norte-americana de basquetebol. A G League Ignite, uma equipa de desenvolvimento da NBA, recebeu o clube francês Metropolitans 92 no primeiro de dois jogos, sendo que o segundo aconteceu na quinta-feira. Do lado americano da quadra brilhou Sterling ‘Scoot’ Henderson, um dos jogadores que, seguramente, estará nas primeiras escolhas do draft do próximo ano. Mas quem todos realmente queriam ver estava do lado europeu.
Era Victor Wembanyama.
O jogador de 18 anos não só não dececionou, como deixou os maiores nomes da modalidade a falar sobre ele e as equipas prontas para lutarem pela primeira escolha no draft de 2023. Que só não foi anunciada oficialmente porque já todos esperam que seja Wembanyama.
“Ele é incrível. Ele tem a oportunidade de ser um dos melhores a jogar este jogo. Nunca tínhamos visto algo assim. Temos de nos preparar para este miúdo”, afirmou Giannis Antetokounmpo, outro europeu e jogador dos Milwaukee Bucks, considerado o MVP das últimas finais da NBA.
O dispensador de apresentações, LeBron James, também não poupou nos elogios: “Toda a gente tem sido um unicórnio durante os últimos dois anos, mas ele é mais como um extraterrestre. Nunca vi, nunca ninguém viu, ninguém tão alto como ele, mas tão fluido e tão gracioso como ele. É, sem dúvida, um talento geracional”.
Elogios que são bem vindos, mas, pelos vistos, não alteram nada na cabeça do jogador francês. “É, obviamente, uma honra ver pessoas tão fantásticas a falar assim de mim, mas isso não muda nada”, disse após o jogo. “Eu fiquei tipo: ‘Oh, isso é cool’. Mas mais nada. Tenho de tentar manter-me concentrado. Eu ainda não fiz nada”.
Quem hoje ouve o nome Victor Wembanyama é capaz de se perguntar de onde surgiu, do nada, este jogador. Mas a verdade é que o burburinho à sua volta não apareceu apenas na última semana. Só se intensificou. Foi em 2020 que começou a dar nas vistas, quando um vídeo, que conta já com mais de 6 milhões de visualizações, onde se vê o jovem de, então, 16 anos a participar num treino com Rudy Gobert, dos Minnesota Timberwolves, foi publicado no YouTube.
Nascido em Le Chesney, Paris, em 2004, Wembanyama pertence a uma família ligada ao desporto - e sim, todos muito altos. O seu pai, Felix, é um antigo saltador de um metro e 98 centímetros. A mãe, Elodie, é uma ex-jogadora e treinadora de basquetebol de um metro e 90 centímetros. Wembanyama mede uns raros e incríveis para a modalidade que pratica 2,23 metros.
“Ela é mais como eu. Somos realmente parecidos e ela é um pouco excêntrica por vezes. O meu pai deu-me a paixão de conhecer assuntos em profundidade, de ser um verdadeiro técnico de desporto, do que quer que seja que eu faça”, disse Wembanyama à revista “Slam”.
Steve Marcus
Mas não é apenas por ser mais alto que a maioria que se destaca entre os outros jogadores: "Perguntei ao Victor que tipo de jogador ele queria ser. Ele respondeu: ‘Quero ser eu, Victor Wembanyama’. Adorei. Significa que sabe quem ele é. O Victor gosta da vida tanto quanto gosta de basquetebol. Ele gosta de desenhar, de boa comida, ele é culto. Isso é importante para mim, não se pode focar apenas no basquetebol, é pouco saudável", contou o agente desportivo, Bouna Ndiaye, à mesma revista.
O francês, que se mostrou curioso e revelou ter um lado artístico, prefere não abrir totalmente o jogo para já. Até porque ainda nem chegou à NBA.
“Penso que sou uma pessoa complexa, mas as pessoas vão descobrir cada vez mais sobre mim ao longo dos anos. Gosto de manter vivo o mistério. Não quero dar demasiado de mim, é isso que torna as coisas raras, sabes? Exclusivas”, disse.
O comprimento dos membros, a velocidade, a coordenação, a capacidade de saltar e lançar, a agilidade e o talento. Está tudo à vista das equipas da NBA. Mas estão também os seus 97 quilogramas, que podem ser vistos como uma fraqueza dada a sua altura. Até porque as lesões já foram uma realidade na sua carreira, sendo que a última o deixou fora da convocatória para o EuroBasket, que a Espanha venceu, na final, frente à França. Consciente disso, a sua equipa mudou de estratégia, depois de uma consulta com Tarek Souryal, o antigo médico dos Dallas Mavericks.
“Precisas de descansar”, disse Souryal, segundo Ndiaye. “Vai com calma nos voos, nas viagens. Descansa. Por isso decidimos deixar a ASVEL [equipa de Tony Parker] este verão e ir para Levallois, que joga apenas um jogo por semana. Dá tempo ao Victor para trabalhar com o seu treinador físico Guillaume Alquier e construir o seu corpo antes de ir para a NBA”.
Steve Marcus
Wembanyama joga numa equipa que é construída à sua volta. Os Metropolitans 92 são uma mistura de jovens, veteranos e jogadores americanos experientes, mas ainda sem muita idade. O francês que impressionou a NBA é a estrela da equipa. É até difícil imaginar o que será Victor Wembanyama num ‘cinco’ da liga norte-americana, sendo que aos 18 anos já é tudo isto.
Por enquanto, Jérémy Medjana, um dos seus agentes, descreve-o à “Slam” de uma única forma: “Ele quer ser o melhor, mas joga sempre com alegria”.