O jogo com a Suécia foi um empate a 0-0 e, como eu disse imediatamente a seguir, é uma pena não se conseguir um bom resultado depois de se jogar tão bem. Mas depois do jogo toda a gente estava a falar da finta que eu fiz, a chamada “Cruijff’s turn”, na qual, num movimento para a frente, arrasto a bola por trás da minha perna de apoio, virando o meu corpo imediatamente e sprintando para a bola. [A finta] não foi algo que tenha feito nos treinos ou praticado. A ideia chegou-me num instante, porque naquele particular momento era a melhor solução para a situação em que estava.
Assim recorda tudo Johan Crujff, na primeira pessoa, na sua autobiografia com o título “My Turn”, precisamente uma referência ao tal movimento líquido e dançante diante de um pobre sueco, em 1974. Nas linhas a seguir explica que fintava para resolver problemas, até quando fazia a bola passar entre as pernas dos rivais, mas que só fazia as cuecas porque era a melhor solução. Dar cuecas por dar, para humilhar o adversário, irritava-o.
Serve essa manobra para convocar a arte no jogo ou aquela coisa que não é palpável e que atrai as mulheres e os homens. Normalmente, a história é contada pelos vencedores. Ou, por outro lado, costuma falar-se nos triunfadores, nos magos que trincam o céu, ou nos guerreiros que resistiram a tudo heroica e inesperadamente. Certo é que nessa narrativa resultadista (e não há problema nenhum com ganhar) há brechas. Como naqueles ajuntamentos de pedras ou carcaças esquecidas de um qualquer material sem vida surge um ramo esticando um braço a oferecer algo verde, esperançoso e sublime.