De Montevidéu a Doha, episódio 3: Ghiggia e Barbosa, as duas faces do Maracanazo
16.09.2022 às 16h00
Alcides Ghiggia olha para o troféu de campeão do mundo, em 2013
Dante Fernandez/Getty
174.000 pessoas, a maior assistência da história dos Mundiais, encheram o Maracanã, certas de irem presenciar um triunfo brasileiro. Mas foi o Uruguai a vencer, num resultado que se tornou símbolo do inesperado no futebol. A história dos protagonistas dos dois lados da final do Mundial de 1950 é um relato tão épico quanto triste, mergulhado em acordos de cavalheiros e solidão na vitória e na derrota. De Montevidéu a Doha é a rubrica em que, semanalmente e até ao arranque do Mundial no Catar, a Tribuna Expresso trará reportagens e entrevistas sobre a história da mais importante competição global
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Em 1962, um rapaz de nove anos tinha acabado de se mudar de Itália, onde nascera e vivera até aí, para Montevidéu, terra dos pais. Filho de um jogador que tinha passado oito temporadas na Roma e uma no Milan, aquele menino ia instalar-se, pela primeira vez, no Uruguai, dado que o pai tinha acabado de assinar pelo Danubio.
Num dos primeiros contactos com os novos colegas de escola, estes deram-lhe uma informação que deixou a criança atónita: começaram a dizer-lhe que era filho de um campeão do mundo de futebol. Para cúmulo, recordavam com louvor que o pai tinha marcado o golo que tinha derrotado o Brasil no seu estádio, perante 174.000 pessoas. Garantiam-lhe que era filho de uma lenda, um herói nacional.
O menino pegou naquela onda de novidades e, ao chegar a casa, confrontou-a com o acusado de ter cometido tais proezas: “Sim, é verdade isso. Foi um campeonato que ganhámos ao Brasil e eu marquei um golo”.
E foi assim, graças à informação dos novos colegas e à timidez e modéstia paterna, que Arcadio Ghiggia descobriu que o pai, Alcides Ghiggia, marcara o golo que fez o 2-1 no Brasil - Uruguai, última partida do Mundial 1950. O golo que, no Maracanã, deu o título mundial aos uruguaios e que colocou o Brasil a chorar. O golo do Maracanazo.
“Só três pessoas silenciaram o Maracanã: Frank Sinatra, o Papa e eu”, diria, anos depois, Alcides Ghiggia sobre aquele remate.