Perfil

De Montevidéu a Doha, episódio 3: Ghiggia e Barbosa, as duas faces do Maracanazo

De Montevidéu a Doha

Alcides Ghiggia olha para o troféu de campeão do mundo, em 2013

Dante Fernandez/Getty

174.000 pessoas, a maior assistência da história dos Mundiais, encheram o Maracanã, certas de irem presenciar um triunfo brasileiro. Mas foi o Uruguai a vencer, num resultado que se tornou símbolo do inesperado no futebol. A história dos protagonistas dos dois lados da final do Mundial de 1950 é um relato tão épico quanto triste, mergulhado em acordos de cavalheiros e solidão na vitória e na derrota. De Montevidéu a Doha é a rubrica em que, semanalmente e até ao arranque do Mundial no Catar, a Tribuna Expresso trará reportagens e entrevistas sobre a história da mais importante competição global

Partilhar

Pedro Barata

Pedro Barata

Jornalista

Em 1962, um rapaz de nove anos tinha acabado de se mudar de Itália, onde nascera e vivera até aí, para Montevidéu, terra dos pais. Filho de um jogador que tinha passado oito temporadas na Roma e uma no Milan, aquele menino ia instalar-se, pela primeira vez, no Uruguai, dado que o pai tinha acabado de assinar pelo Danubio.

Num dos primeiros contactos com os novos colegas de escola, estes deram-lhe uma informação que deixou a criança atónita: começaram a dizer-lhe que era filho de um campeão do mundo de futebol. Para cúmulo, recordavam com louvor que o pai tinha marcado o golo que tinha derrotado o Brasil no seu estádio, perante 174.000 pessoas. Garantiam-lhe que era filho de uma lenda, um herói nacional.

O menino pegou naquela onda de novidades e, ao chegar a casa, confrontou-a com o acusado de ter cometido tais proezas: “Sim, é verdade isso. Foi um campeonato que ganhámos ao Brasil e eu marquei um golo”.

E foi assim, graças à informação dos novos colegas e à timidez e modéstia paterna, que Arcadio Ghiggia descobriu que o pai, Alcides Ghiggia, marcara o golo que fez o 2-1 no Brasil - Uruguai, última partida do Mundial 1950. O golo que, no Maracanã, deu o título mundial aos uruguaios e que colocou o Brasil a chorar. O golo do Maracanazo.

“Só três pessoas silenciaram o Maracanã: Frank Sinatra, o Papa e eu”, diria, anos depois, Alcides Ghiggia sobre aquele remate.

Artigo Exclusivo para assinantes

No Expresso valorizamos o jornalismo livre e independente

Já é assinante?
Comprou o Expresso? Insira o código presente na Revista E para continuar a ler
  • De Montevidéu a Doha, episódio 1: o que fazer para remediar um pouco um Mundial imoral e manchado de sangue?
    De Montevidéu a Doha

    Nada devolverá a vida aos pelo menos 6.500 trabalhadores migrantes que, segundo uma investigação do “The Guardian”, morreram na construção das infraestruturas do Mundial, nem se recuperará uma década de promoção de um país com graves desrespeitos pelos direitos das mulheres ou onde a homossexualidade é crime. Mas diversas organizações pressionam a FIFA, as Federações ou os jogadores para que ainda façam algo para que este Mundial não seja “uma oportunidade perdida”. De Montevidéu a Doha é a rubrica em que, semanalmente e até ao arranque do Mundial no Catar, a Tribuna Expresso trará reportagens e entrevistas sobre a história da mais importante competição global

  • De Montevidéu a Doha, episódio 2: Maradona e os Mundiais, uma história de alegrias e tristezas, sonhos e pesadelos, céu e inferno
    De Montevidéu a Doha

    A vida de Diego Armando Maradona não se entende sem os Mundiais, o “sonho” de criança que o glorificou em 1986. Da tristeza por não ter sido convocado em 1978 às epopeias do México, das dores de 1990 às “pernas cortadas de 1994”, passando pela experiência como selecionador em 2010, recordamos el diez com a ajuda de quem viveu muitos destes episódios por dentro. De Montevidéu a Doha é a rubrica em que, semanalmente e até ao arranque do Mundial no Catar, a Tribuna Expresso trará reportagens e entrevistas sobre a história da mais importante competição global