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Mundial 2022

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Fernando Santos garante que Pepe vai jogar e que “os jogadores sabem o que” quer deles: “São livres para jogar e não têm amarras”

Na antevisão ao segundo jogo de Portugal no Mundial, na segunda-feira (19h, RTP1), o selecionador nacional assegurou que os futebolistas têm “liberdade total” para jogarem com “variabilidade, criatividade” e “dinâmica” com a bola numa espécie de “anarquia” com regras. Fernando Santos explicou que têm trabalho este “sistema mais híbrido” no qual os jogadores confiam

Expresso

JOSE SENA GOULÃO/LUSA

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Como estão os jogadores?

“Hoje vamos ter treino, vamos ver se vão evoluir e como, de manhã ainda estavam na fase dos tratamentos e se estarão aptos, depois decidiremos. É uma questão que só passa por aí.”

As contas do grupo e a forma de jogar da seleção

“Falamos sempre no passado, eu compreendo, a Sérvia… mas ele [Bernardo Silva] podia ser treinador, porque respondeu tão bem há bocado. Como ele dizia, temos de aprender com as coisas que não fizemos bem, há bocadinho também foi posta a questão que tivemos de andar a fazer contas após o jogo com a Sérvia, mas nos outros três [apuramentos] nunca fizemos contas, fomos sempre diretos. Isto é perfeitamente normal, há muitas equipas que nem chegaram lá. O que temos de fazer é olhar para cada jogo, perceber o que temos de melhorar com as características dos jogadores que tem ao seu dispor, tivemos em 2016, 2018 e 2019 sempre em competições e as coisas vão-se alterando.

As características dos jogadores são outras, por isso também optámos por um futebol com características e posicionamentos de campo diferentes, logo a seguir à Sérvia houve uma transformação clara. No jogo com a Espanha fomos uma equipa muito forte durante 70 minutos e isso faz este crescimento numa equipa que alterou muitas das suas formas de pensar o jogo e de jogar, e que normalmente só se reúne para jogar, são os jogos que vão cimentando estas questões. Amanhã [segunda-feira] vamos apresentar as características que apresentámos nos últimos jogos, temos vindo a melhorar em muitos aspetos.”

O peso e os efeitos da palavra de Ronaldo na seleção

“Já treinei jogadores com palavras ainda mais fortes, todas as equipas há jogadores com palavras muito fortes e muitos eram autênticos patrões, tanto no Benfica, no Sporting, no FC Porto e na seleção da Grécia. Cada jogador expressa-se à sua forma, alguns levantam mais o braço, outros menos, uns parecem mais treinadores e outros são mais acanhados, o importante é que o grupo saiba lidar com todas estas questões, todos formamos este espírito de estar com uns e com outros. Há quem se sinta mais acanhado com vozes mais duras ou treinadores mais agressivos.

Obviamente, o Cristiano, por tudo o que é e o exemplo que sempre foi, aos 18 anos não era isto, o João Pinto, o Pedro Barbosa ou o Paulo Bento eram muito mais fortes no balneário do que ele [no Sporting]. Ele era um jovem, mas foi crescendo e crescendo, a equipa convive bem com isso e isso é que é fundamental.”

O que pensa do papel de Pepe?

“É um monstro, tem um papel tremendo no balneário.”

O que aconteceu com Danilo Pereira?

“Vai jogar amanhã [o Pepe], seguramente. Foi daqueles lances que ninguém conseguiu perceber, estávamos a trabalhar as bolas paradas defensivas como o fazemos todas as semanas, é importante, e no meio de uma embrulhada ele de repente gritou. Fomos todos ver o que se passava e, à primeira, não parecia nada de especial, tinha dificuldades de respiração e tal, mas depois recuperou e achámos que não seria nada importante. Mas, por precaução, foi ao hospital para ver o que se passava e a conclusão foi essa. Vamos esperar pela evolução, vai continuar a fazer exames. Vamos esperar.

É uma baixa, se pudermos ainda contar com ele, melhor, mas temos três centrais e outros jogadores que, se for preciso, também o podem fazer. Não podemos fazer disto um drama nem ficar aqui a chorar, isto é o futebol, estamos todos muito tristes, acima de tudo, por ele, como se fosse com qualquer outro. Disse-o aos jogadores, eles vieram tão concentrados e focados, isto é um Campeonato do Mundo e ter uma lesão é sempre uma coisa traumática, em termos de tristeza, é uma coisa que nos toca.

Mas, pela força que nos transmite e vai continuar a transmitir, porque continuará connosco, se calhar ainda nos vai ajudar a dar mais 10% de cada um. Por ele e pelos portugueses.”

O Uruguai de agora e o de 2018, na Rússia

“Temos de pensar que Cavani e Suárez, nessa altura, tinham menos cinco anos, continuam a ser jogadores de enorme qualidade, isso sem dúvida, era uma grande equipa e esta é uma grande equipa também com jogadores emergentes e a maioria já estava na Rússia. Não estava o Valverde, o Darwin e o De la Cruz. A matriz de jogo do Uruguai não mudou assim tanto, mudaram algumas características de um jogador ou outro, têm a potência de Darwin, mas é uma equipa evoluiu, normalmente, em 4-4-2, mas no último jogo mais em 4-1-3-2, o Valverde entra muitas vezes no apoio aos dois homens da frente.

Não me parece muito distante. É muito forte em termos de qualidade técnica e equilibrada nos vários momentos do jogo, sabe muito o que quer e aproveita as características dos seus jogadores, tiram partido do ataque rápido e à profundidade, tem sempre opções claras no jogo e já as tinha. É preciso ter muita atenção porque, na organização defensiva, às vezes parece em alguns momentos do jogo permite ao adversário jogar, mas acho que é para chamar porque é muito agressiva no bom sentido, os jogadores quando entram nos duelos vão para ganhar. E isso parece-me uma estratégia, deixar que o adversário adormeça um bocadinho com a bola para depois aproveitarem e saírem no contra-ataque. Vai ser um grande jogo, como foi em 2018. O Uruguai ganhou, mas também podia ter perdido, lembro-me muito bem desse jogo, foi muito equilibrado.”

É impossível Ronaldo, Félix e Leão jogarem juntos de início?

“Impossíveis? Alguma coisa é impossível no futebol? Ninguém vem aqui com rótulos, há jogos em que se calhar pede isso, as questões não se podem colocar assim. Ele [Bernardo Silva] deu-me uma aula a mim também, eles têm que jogar com o jogo, o jogo é que vai mandar se vamos mais para trás, para a frente ou para o lado, se jogamos num sistema mais híbrido, a partir daí é que desenvolvemos os jogadores, não há aqui que pode ou não pode jogar. A questão não pode ser colocada a nível individual, tenho que olhar para o todo, para a estrutura da equipa.

Contra o Gana, fizemo-lo muito bem. Na primeira parte jogámos muito bem, o Gana não chegou uma vez à nossa área, mas nos primeiros 30 minutos faltou-nos o que sei que os meus jogadores têm para dar - e fizeram contra a Nigéria -, que é o que quero que façam, a imprevisibilidade, a circulação de bola mais rápida. Fomos um bocadinho lentos, ok que tivemos uma segurança extrema, mas podemos ter a mesma segurança se soltarmos mais o jogo. A variabilidade do jogo, entrar por dentro e por fora. A estrutura garantiu que o Gana não fizesse nada, mas isto pode ser feito com uma dinâmica maior. Podíamos ter feito um pouco mais.

Na segunda parte, tivemos momentos contrários, passámos a fazer coisas mais acima no aspeto ofensivo, mas com coisas já não boas noutros momentos do jogo: já não pressionámos nem defendemos da mesma maneira. Quando é assim, eu prefiro a primeira porque vou ganhar. Então se conseguirmos dar este salto qualitativo… Por isso é que jogo assim. Os jogadores sabem o que quero deles, têm disponibilidade total e estão focados nisto, sabem o que o jogo pede e o que podem fazer lá dentro, eles são livres para jogar desde que as regras sejam cumpridas, mas sem amarras.”

Fernando Santos responde como ex-central, Bernardo Silva falou como médio ofensivo

“Ele responde com o brilhantismo que tem como médio ofensivo, mas o Mário Wilson e o Jimmy Hagan punham-me como médio porque achavam que tinha criatividade a ler o jogo. Concretamente, os jogadores têm esta liberdade total sabendo como se devem organizar sem quintais, sem nome e sem número, sabem que, em posse, criatividade e variabilidade total no jogo. Eu tenho a minha opinião e já falámos sobre isto, a estreia num Mundial pesa um bocado, houve da parte deles, ali numa fase de 1.ª parte, que o controlo do jogo foi muito importante para eles e tiveram dificuldades em soltar a amarra.

Eu quero essa variabilidade, por isso também estou a jogar num sistema muito mais híbrido para permitir esses movimentos mais amplos com as compensações corretas. Não me interesse se o Bernardo está à direita, no meio ou mais atrás, ou se o Félix vem para dentro e depois vai para fora, isso não me interessa nada, quero é que aconteça com segurança. Que tu nesta ‘anarquia’ não percas a bola facilmente, que tenhas capacidade de recuperar a bola e reagir à perda, com capacidade para rapidamente entrares em organização defensiva e ocupar os espaços certos.

É isso que pretendo da equipa, está a evoluir bem e a confiar, o que é muito importante.”