Nos últimos anos, a clássica fúria espanhola deu lugar ao tiki-taka, que varreu tudo à sua volta com um certo tipo de jogador que faz do movimento e do passe um estilo que quase se confunde com "La Roja". Menos com o durão Diego Costa, que é saído de uma escola diferente dos colegas mas é a ponta afiada da espada que deu a primeira vitória à Espanha no Mundial 2018. Com o 1-0 frente ao Irão cortesia do espanhol nascido em Lagarto no estado brasileiro do Sergipe.
Se o insólito despedimento de Lopetegui do comando da seleção espanhola podia ter deixado a equipa afetada, largos períodos do jogo frente a Portugal mostraram uma equipa fiel aos seus princípios e com futebol ao nível das melhores colheitas a que nos habituou. Sempre com Diego Costa a dar uma presença por vezes desgarrada do resto da equipa, mas sempre eficaz.
Boas sensações para o jogo frente ao Irão que se confirmaram ao nível do estilo de jogo e goraram-se em tudo o resto ao longo do primeira parte. Porque o que se viu foi a Espanha com os piores vícios do estereótipo do tiki-taka: muito passe, muita circulação, pouca assertividade no momento decisivo. Quase como quem queria entrar com a bola por dentro da baliza. Sem espaço no centro, o jogo era muito canalizado pelas alas, onde a novidade Lucas Vásquez tentava imprimir alguma velocidade que, regra geral, embatia na bem organizada defensiva iraniana.
Domínio sem golo
Não retiremos mérito à turma de Carlos Queiroz no espartilho de sucesso montado na primeira parte. Tal como já comprovou várias vezes, o técnico português montou um coletivo capaz de frustrar as melhores equipas, com grande rigor defensivo e, nesta versão 2018, com uma frente de ataque mais perigosa e que se mostrou a espaços ao longo dos primeiros 45 minutos. Que tiveram muito poucos motivos de interesse e quase nenhuma oportunidade clara de golo, com o mais próximo a ser um remate de David Silva por cima da barra, já perto do final da primeira parte.
Os 366 passes de Espanha frente aos 66 do Irão, que a realização destacou no início da segunda parte, contam a história de um domínio claro mas bem segurado. Mesmo assim, sem alterações, Hierro parecia confiar no método de sempre para chegar à vantagem. E os seus jogadores pagaram a confiança com um período de 15 minutos que mostrou o melhor que "La Roja" consegue fazer.
Piqué e Busquets estiveram muito próximos do golo, com a oportunidade clara de Karim Ansarifard na sequência de um livre a ser contra a corrente de um jogo que via uma Espanha muito mais viva. E que não demoraria muito a chegar ao golo por intermédio da sua ponta de espada. Após uma jogada daquele que, talvez mais do que qualquer outro, incorpora o estilo espanhol, Iniesta, a bola chegou aos pés de Diego Costa que nem dominou bem. Não importa. Combativo como sempre, não desistiu e beneficiou de um corte incompleto de Ramin que mandou a bola contra o espanhol e enganou o guardião Beiranvand.
Aos 54 minutos a Espanha estava a ganhar por 1-0 e parecia ter tudo para partir para uma exibição calma e pontuada por mais golos, tendo em conta o domínio exercido neste período. Só que então o Irão reagiu. Os asiáticos subiram linhas e conseguiram pressionar de forma mais consistente os espanhóis, tendo mesmo chegado ao empate aos 62 minutos, com o árbitro a anular (bem) um golo por fora de jogo a Ezatolahi, com direito a celebração eufórica cortada a meio.
Calafrio iraniano
"Nuestros hermanos" foram controlando o jogo e estiveram perto de ampliar o resultado quando, após uma jogada de laboratório, Sérgio Ramos esteve perto de marcar e provocou uma carambola desesperada em cima da linha de golo.

Taremi, de cabeça, atira por cima, naquela que foi a última grande oportunidade do jogo
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Sobrevivência que deu ímpeto para um último esforço dos iranianos, que conseguiram incomodar a defensiva espanhola e estiveram muito próximos do golo aos 82 minutos. Grande jogada com direito a 'cueca' a Piqué e cruzamento para uma finalização por cima de Taremi.
Até final, e mesmo com alguns calafrios, o jogo não fugiu das mãos espanholas que conseguiram uma importante vitória e juntam-se a Portugal na frente do grupo B. Vitória que se justifica apesar da boa réplica iraniana que deve merecer muita atenção da seleção das quinas. Para que não seja preciso pedir (outra vez) explicações a Carlos Queiroz.