A 5 de março de 2013, o Real Madrid visitou o Manchester United na segunda mão dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões. Sem ainda o ter anunciado publicamente, Alex Ferguson vivia as suas últimas semanas como treinador de futebol e, antes da partida, o escocês convidou José Mourinho, técnico dos espanhóis, para o seu escritório enquanto as equipas aqueciam. Durante a conversa, Mourinho perguntou a Ferguson como é que se sentia nos instantes prévios a um decisivo embate europeu. A resposta do multi-titulado treinador, então de 71 anos, não deixou dúvidas.
“Sinto-me uma m**da, tal como tu, isso nunca muda”. A tensão e o nervosismo antes das grandes noites não olham a idades.
Aos 59 anos, e dias depois de ter vencido o quinto troféu continental da sua carreira — completando um hat-trick de conquistas que engloba Taça UEFA/Liga Europa, Liga dos Campeões e Liga Conferência —, José Mourinho foi à Faculdade de Motricidade Humana dar uma aula na 5.ª edição da Pós-Graduação “High Performance Football Coaching”, da qual é coordenador, juntamente com o professor António Veloso. Numa sala pequena, com uma plateia de alunos de vários países disposta em “U”, Mou falou, em inglês, durante bem mais de duas horas numa sessão intitulada “Building an effective team organization for an European Cup” [“Construir uma organização coletiva para uma competição europeia”], ainda que a conversa tenha, regularmente, ido além do tema principal.
Com entusiasmo visível em cada frase e interagindo muito com a audiência, o português começa por deixar claro que “o micro-ciclo de uma semana inteira é, para clubes de nível médio-alto, teoria”, algo que “não existe”. É esta a base de partida para o começo da conversa, centrada na preparação do jogo da primeira mão das meias-finais da Liga Conferência contra o Leicester, no 48.º compromisso da época da Roma — que chegaria aos 55 encontros.
Antes de explicar como abordou o duelo contra os ingleses, Mourinho sublinha que a “experiência” acumulada em equipas que disputam provas internacionais até fases adiantadas leva à capacidade de “separar o acessório do fundamental”, porque “não se pode preparar ou controlar tudo”. Ao haver “acumulação de desgaste nos cérebros e não só nas pernas” dos jogadores no final das épocas, é importante “ser seletivo no que se transmite”, tendo uma regra de ouro: “As meias-finais ou as finais não são o momento para algo de especial em termos de preparação, o treinador não pode ir para uma final a querer ser o homem do jogo. Já há pressão suficiente, não podes dar-lhes a pressão acrescida de terem de fazer coisas a que não estão habituados, deves deixá-los fazerem aquilo com que se sentem confortáveis”.
Esta seleção de informação começa, justamente, nas reuniões concisas feitas para preparar os jogos. Com um desafio contra o Inter, para a Série A, no sábado, e o embate frente ao Leicester na quinta-feira, antes de defrontar os ingleses há duas reuniões de “não mais de 15 minutos” e duas sessões de treino.