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Com uma época de quedas, lesões e corridas falhadas, Miguel Oliveira não faz um balanço “positivo, nem negativo”

Com uma época de quedas, lesões e corridas falhadas, Miguel Oliveira não faz um balanço “positivo, nem negativo”
RONNY HARTMANN/Getty

Com oito das 20 corridas do MotoGP feitas, o piloto português confessa, em entrevista à “Lusa”, que houve “momentos de muita frustração”, além de falar da experiência que está a ter na Aprillia, equipa para a qual se mudou esta temporada

O português Miguel Oliveira reconheceu ter sentido frustração com o arranque da sua temporada no Mundial de MotoGP, a primeira ao serviço da Aprilia, após três quedas, duas ausências e uma desistência nas oito primeiras corridas.

“O balanço da primeira parte da temporada é difícil de fazer. Não consigo avaliar como positivo, nem negativo. Obviamente que houve momentos de muita frustração, porque as situações de abandono foram sempre causadas por terceiros, colisões com outros pilotos, incidentes de corrida, e que, realmente, ditaram um bocadinho daquilo que foi a minha participação em dois dos grandes prémios”, admitiu o piloto natural de Almada, em entrevista à agência Lusa.

Miguel Oliveira, de 28 anos, conta 27 pontos antes de retomar o Campeonato do Mundo, no fim de semana, com o Grande Prémio da Grã-Bretanha, muito por causa das lesões provocadas pelas quedas. Em Portimão, na abertura da temporada, sofreu uma lesão nos tendões da perna direita, e, em Jerez de la Frontera, em Espanha, na quarta corrida, fraturou o ombro esquerdo.

“Em última instância, esta lesão no ombro deixou-me fora apenas um Grande Prémio [o quinto, de França], mas condicionou bastante outros três [Itália, Alemanha e Países Baixos]. Portanto, apesar de apenas em um dos últimos três grandes prémios ter sido a Aprilia que mais pontos marcou [na Alemanha], não me deixa naturalmente satisfeito, dado que não estava a pilotar nas minhas perfeitas condições”, lamentou.

Reconhecendo que estas condicionantes fazem parte do desporto e da modalidade que pratica, a queda sofrida em 30 de abril, num incidente com o francês Fábio Quartararo (Yamaha), acabou por obrigar a um longo período de recuperação.

“O ombro saiu do sítio, mas saiu do sítio com uma fratura Hill-Sachs [afundamento da cabeça do úmero, que confere estabilidade ao ombro]. Se eu jogasse voleibol ou andebol, era 100% certo que tinha de passar por uma cirurgia e quatro meses de recuperação, no mínimo. Isso passou pela equação, mas, com a nossa experiência e, um bocadinho, com a necessidade de voltar ao ativo, decidimos fazer uma recuperação mais conservadora”, explicou.

Para o português, esta foi “talvez uma das lesões mais delicadas de tratar” que já sofreu, com “muitas inflamações, muitas dores”, ilustrando: “Quem anda de mota sabe o que é não ter um ombro operacional”.

Com oito corridas disputadas, a Ducati, e o campeão em título Francesco Bagnaia, têm dominado um campeonato com um novo formato, com a introdução das corridas sprint, beneficiando da presença numerosa do fabricante italiano na grelha.

“O plantel está tão competitivo e tão próximo que basta um detalhe para deixar um piloto fora da Q2. E ficar fora da Q2 condiciona todo o fim de semana. Este formato não nos dá tempo para nos recompormos de um dia ou de uma sessão menos boa e isso, para um construtor como a Ducati, com oito motos na grelha, tem uma vantagem para acelerar a procura de uma solução técnica para ficar mais performante, mais rápida”, analisou.

A edição de 2023 do Campeonato do Mundo de MotoGP prossegue no fim de semana com a realização do Grande Prémio da Grã-Bretanha, em Silverstone, a nona das 20 provas previstas.

O italiano ‘Pecco’ Bagnaia, vencedor de quatro corridas nesta temporada, lidera o Mundial, com 194 pontos, mais 35 do que o espanhol Jorge Martin e mais 36 do que o seu compatriota Marco Bezzecchi, ambos em Ducati também.

A Aprilia tem “ainda um fosso grande por escavar”, mas os “outros construtores também”, segundo Miguel Oliveira, observando a classificação.

“Também é a primeira vez que a Aprilia forneceu uma equipa satélite. Como construtor, é um desafio, é um desafio para toda a fábrica a nível de recursos humanos, a nível de fabricação de peças, de dar apoio extra a mais uma equipa e a mais dois pilotos. Acho que, para o pouco tempo que temos juntos, a Aprilia tem feito um trabalho fenomenal e eu acho que este é o caminho a percorrer para o sucesso junto com a Aprilia, é continuar a 'partir pedra' este ano para podermos chegar a bom porto no início do ano que vem”, concluiu.

A liderança de ‘Peco’ Bagnaia

“Julgo que terá de ser mesmo algum rival da Ducati, mas eu estou muito curioso também a nível de pilotagem, com o que, agora, as regras das pressões nos pneus podem ditar nos resultados. Acho é que poderão acontecer surpresas”, advertiu o piloto português.

Após oito das 20 provas da temporada, segue no 17.º lugar, com 27 pontos, a 167 de Bagnaia, que lidera com uma vantagem de 35 sobre o espanhol Jorge Martin e de 36 sobre o seu compatriota Marco Bezzecchi, ambos em Ducati também.

“O Bagnaia ainda não é campeão no mundo! Ainda tem mais de metade dos pontos em jogo. É um campeonato supercompetitivo e ele, agora, parece estar muito confortável, mas tudo pode acontecer. Espero que, se houver algum Grande Prémio para dividir, entre o Bagnaia e outro, que seja eu”, referiu.

Totalmente recuperado das lesões provocadas pelas quedas, em Portimão e em Jerez de La Frontera, o piloto natural de Almada é cauteloso na abordagem à segunda parte da temporada, que começa no fim de semana, com o Grande Prémio da Grã-Bretanha, em Silverstone.

“Gosto de pensar passo a passo. Para já, o meu trabalho, a minha função na Aprilia, neste primeiro ano, é mesmo um ano de adaptação. Não tiro fora da mesa, obviamente, boas prestações. Comecei muito bem em Portimão (…) e era apenas a primeira corrida. Se tiver as condições para poder estar a disputar as vitórias, vou fazê-lo. Agora, obviamente, vindo de duas lesões, já na primeira fase da época, tendo feito apenas com o melhor resultado um quinto lugar, acho que, primeiro, tenho de voltar a construir uma boa base de bons resultados e, depois, ver o que devo propor como objetivo”, vincou.

Esta desejada “base de bons resultados” pode ser um dínamo para uma boa classificação no Mundial, no qual o português tem como melhor desempenho o nono lugar obtido em 2020.

“Ajuda sempre, ficamos um bocadinho maiores do que somos, criamos também algum tipo de pressão, marcamos presença, fincamos o nosso lugar e, sobretudo, faz diferença também nos rivais e como nos olham. Agora, é um desporto que está dependente da máquina e da equipa”, reforçou Miguel Oliveira.

Essa dependência, retirou alguma influência à qualidade individual: “Os pilotos já não fazem assim tanto a diferença. Se não, víamos o Marc Márquez (Honda) a ganhar há muitas corridas atrás e isso não acontece. Portanto, esta é a realidade do campeonato”.

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