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Maior centro de investigação biomédica do mundo conclui que as modalidades de contacto físico provocam doenças neurológicas degenerativas

O Instituto Nacional de Saúde dos EUA admite a relação entre as modalidades com mais contacto físico e os problemas cerebrais. A posição é considerada um importante princípio de mudança no debate sobre o desporto e a encefalopatia traumática crónica

Expresso

Allen Lazard, jogador dos Green Bay Packers da NFL, a usar um capacete especial de proteção contra traumatismos cranianos

Icon Sportswire

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Os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA consideram, numa declaração sem precedentes, que os desportos de contacto são causadores de lesões cranianas, confirmando a muito discutida ligação entre esse tipo de modalidades e a existência de graves problemas cerebrais. O “The Guardian” dá a notícia e repete, com o novo argumento, que pancadas repetidas na cabeça originam a doença neurodegenerativa encefalopatia traumática crónica (CTE, na sigla inglesa).

Pelo contrário, o Grupo Concussão no Desporto, apoiado por FIFA, World Rugby e Comité Olímpico Internacional, entre outros, tem, até agora, desvalorizado a ligação entre a CTE e as lesões cerebrais decorrentes da prática de desporto. Escreve o jornal inglês que muitas federações desportivas têm usado essa posição para se defenderem contra questões legais e pedidos de mudança.

A carta do instituto norte-americano tem a assinatura de 41 cientistas de elite, médicos e epidemiologistas e foi entregue ao Instituto Nacional de Problemas Neurológicos e AVC (NINDS). No documento, cita-se um estudo recente da CTE, publicado em julho numa revista da especialidade. É feita uma comparação entre o tipo de lesões cerebrais recorrentes sofridas por vítimas de abuso, soldados e desportistas. A CTE foi inicialmente reconhecida nos anos cinquenta e o diretor do NINDS já tinha referido que a ligação causal era “bastante clara” em 2014, mas a posição oficial só agora foi tomada.

Em 2019, também o Centro Norte-americanos para o Controlo e Prevenção de Doenças tinha alertado: “A maioria dos estudos sugere que a CTE é parcialmente causada pela exposição a lesões cerebrais traumáticas repetidas”. Isso significa que dois dos maiores organismos independentes de investigação clínica estão de acordo quanto às causas. Resta saber se o Grupo Concussão no Desporto altera a sua posição.

O grupo vai reunir-se em conferência em Amesterdão, na quinta e na sexta-feira, para redigir a mais recente iteração do consenso, a ser publicada no início de 2023. O GCD tem estado em destaque desde que o seu presidente, Paul McCrory, se demitiu, este ano, devido à alegação de que haveria múltiplos exemplos de plágio no seu trabalho. McCrory pediu desculpa e admitiu que a sua falha não tinha sido “deliberada ou intencional”.

Um porta-voz da ONG Concussion Legacy Foundation disse, sobre a nova posição do Instituto: “Agora que a causa foi estabelecida, o mundo tem uma oportunidade tremenda para prevenir casos futuros de CTE. A única causa conhecida para a CTE é a exposição e, em muitos casos, uma escolha: a de praticar desportos de contacto. (…) O nosso objetivo é rever todos os desportos juvenis para que não continuem a incluir impactos de cabeça preveníveis antes dos 14 anos”. Uma das medidas seria o fim dos cabeceamentos no futebol, mas também outras ações no râguebi ou no futebol americano.

O Instituto Nacional de Saúde dos EUA é a maior agência de investigação biomédica do mundo e a decisão de reescrever a sua orientação oficial sobre a CTE tem sido descrita como um princípio de mudança na discussão acerca dos riscos de praticar desportos que incluam contacto físico.