Depois de os advogados de defesa terem voltado a colocar em cima da mesa a indicação médica que Brittney Griner recebeu para recorrer à canábis medicinal, esta quarta-feira foi a vez da jogadora da WNBA testemunhar em tribunal e acrescentar novos dados à investigação. Segundo a própria, na altura em que foi detida, o intérprete presente para o interrogatório traduziu apenas uma fração do que foi dito e os funcionários instruíram-na a assinar documentos sem dar uma explicação.
A norte-americana foi detida em fevereiro, num aeroporto de Moscovo, na Rússia. No decorrer do julgamento, declarou-se culpada, admitindo ter o óleo de canábis nas malas. Griner descreveu o voo de 13 horas entre Arizona e a cidade russa como bastante cansativo, numa altura em que estava a recuperar depois de ter testado positivo à covid-19. A jogadora garantiu não fazer ideia de como a canábis foi parar à sua mala, sabe apenas que fez as malas à pressa e sem prestar muita atenção.
Já em Moscovo, a estrela da seleção norte-americana e das Phoenix Mercury viu as suas malas serem revistadas e foi posteriormente levada para interrogatório pelos inspetores. Aí, segundo explicou, encontrou um intérprete que lhe forneceu uma tradução incompleta, não foi informada sobre os seus direitos, não teve acesso a advogados e foi instruída a assinar documentos sem receber uma explicação do que se tratava.
Em relação ao uso da canábis, a jogadora afirmou que sofre de dores devido a lesões sofridas durante a carreira, realçando que o óleo de cannabis é muito utilizado nos Estados Unidos para fins medicinais e tem menos efeitos negativos do que alguns analgésicos.
Caso seja condenada, Brittney Griner enfrenta uma pena que pode chegar aos 10 anos de prisão. O seu julgamento teve início a 1 de julho e pode estender-se até 20 de dezembro, tempo em que a sua detenção foi autorizada. Ainda assim, a defesa tem esperança de que se chegue a um veredicto no início do próximo mês. A jogadora viajou para a Rússia para jogar pelo UMMC Ekaterinburg, durante a época baixa da WNBA.
Mas os Estados Unidos não parecem estar dispostos a esperar tanto tempo e, depois de considerarem que a jogadora está "detida injustamente", decidiram agora, segundo avançou a CNN, fazer uma proposta de troca à Rússia: a administração de Joe Biden ofereceu-se para trocar Viktor Bout, um traficante de armas russo condenado a cumprir uma pena de prisão de 25 anos nos EUA, como parte de um potencial acordo para assegurar a libertação de Brittney Griner e Paul Whelan.
Bout foi detido na Tailândia em 2008 e extraditado para os EUA dois anos depois
CHRISTOPHE ARCHAMBAULT/Getty
Segundo fontes do canal norte-americano, o plano recebeu o apoio do presidente dos Estados Unidos depois de estar em discussão desde o início do ano. Com o apoio de Biden, fica anulada a oposição do Departamento de Justiça, que por norma não apoia qualquer troca de prisioneiros.
"Comunicámos uma oferta considerável que acreditamos poder ser bem sucedida com base num histórico de conversas com os russos", disse esta quarta-feira um funcionário do governo à CNN. "Comunicámos isso há algumas semanas, em junho".
Viktor Bout, antigo oficial soviético, é conhecido como o “Mercador da Morte” depois de ter feito fortuna no tráfico de armas. Foi apanhado numa operação especial em 2008, na Tailândia, extraditado dois anos depois e condenado a 25 anos de prisão nos Estados Unidos por compra e venda de mísseis antiaéreos e fornecimento de material a organizações terroristas e conspiração para matar cidadãos norte-americanos. Uma condenação muito contestada pelo Kremlin.
O antigo militar terá montado uma frota de aviões de carga, abandonados após a queda da URSS, para transportar armas para zonas de guerra nos anos 90, na Ásia e África. A sua vida inspirou até filmes: a personagem de Nicolas Cage em “O senhor da guerra” terá como base Viktor Bout. Em 2014 foi lançado o documentário “The notorious Mr. Bout”, sobre a vida do homem que poderá agora servir como moeda de troca para a libertação de Brittney Griner.