Durante dois meses e meio, o mais popular lutador de MMA do mundo, preparou o regresso ao octógono num modesto ginásio em Lagos, no sul de Portugal. “The Notorious” Conor McGregor, o turbulento irlandês que já foi campeão em duas categorias de peso diferentes, com um ego tão grande como a conta bancária e o cadastro policial, passou mais ou menos discreto pelo Algarve, com algumas corridas nas escadarias da praia do Camilo documentadas no Instagram e uns copos num bar irlandês em Lagos.
“Fizemos a maior parte do treino para a próxima luta em Lagos e é a primeira vez que isso acontece. O Conor já esteve em Portugal muitas vezes mas é a primeira vez que faz um 'camp' aí”, conta Colin Byrne, o irlandês dono do ginásio “Shinobi”, em Lagos e um dos membros da equipa técnica do irlandês.

“Estou a tempo inteiro com o Conor na estrada na maior parte do ano e a minha função principal é ajudar o “Doc” Julian Dalby com o programa de condição física e força do Conor. Mas também arranjo sítios para treinar, seguro os plastrons, treino-lhe os pontapés. O meu cargo oficial é Soigneur. O segundo homem. O treinador principal é o John Cavanaugh”.
E o trabalho não é fácil. “Há uma diferença entre força e poder. A velocidade de execução do Conor é única e quando comecei a treinar com ele até proteção na cabeça usava. Agora não, mas ao fim de uma sessão de treino de pontapés, por exemplo, acabo todo negro e azul. Nos braços, nas ancas, na barriga e até nas orelhas. Sim, nas orelhas. E tenho uns plastrons gigantes entre mim e ele, não quero imaginar se não houvesse nada entre nós. Já dou treino há muito tempo, fui lutador e nunca vi ninguém tão poderoso como ele”.

O lutador irlandês, que recebeu 85 milhões de dólares para um combate de boxe com o ex-campeão Floyd Mayweather, esteve em Portugal com a mulher e os filhos e treinou todos os dias na rua e no ginásio de Colin, que mudou o nome para McGregor Fast e fechou as portas ao público. “Escolhemos Portugal porque eu moro no Algarve há 11 anos e sei como as pessoas são. Fechei o ginásio para o Conor e eu podermos sair sem ter chatices com os paparazzi e fãs a pedir constantemente fotos ou autógrafos. É verdade que há menos turistas e isso ajudou. Mas as pessoas em Lagos sabem quem ele é, porque quando me viam sozinho perguntavam-me como é que os treinos estavam a correr e se ele gostava de estar em Portugal. Simplesmente, são respeitadores. Isto não era possível em mais parte nenhuma do mundo. Os portugueses são assim”, elogia o treinador.
Conor McGregor vai lutar este fim-de-semana com o americano Dustin Poirier. É o primeiro grande teste para o irlandês desde que foi derrotado pelo russo do Daguestão Khabib Nurmagomedov, a sua Némesis na modalidade que mistura todos os géneros de luta e é hoje um negócio com milhões de fãs em todo o mundo e avaliado em 10 mil milhões de dólares. Na última luta, em janeiro do ano passado, McGregor acabou com Donald “cowboy” Cerrone em pouco mais de 40 segundos. “Este combate com o Poirier também não passa do primeiro assalto”, vaticina o soignuer. McGregor já venceu Piorier em 2014 quando estava no auge. Entretanto, anunciou a retirada por mais de uma vez, criou uma marque de Uísque e agora parece decidido a conquistar o cinto de campeão. Outra vez.

O UFC, a maior organização da modalidade, montou uma “fight Island” No Emirados Árabes Unidos onde só podem entrar árbitros, lutadores e as sua equipas de modo a evitar a propagação de Covid-19 e manter o negócio ativo. O presidente do UFC, Dana White, apoiante do ex-presidente Donald Trump, só suspendeu as lutas porque foi obrigado pelas autoridades sanitárias dos Estados Unidos. Mas assim que pôde, recomeçou as lutas e agora até já há (pouco) público nas bancadas.
McGregor chegou aos EAU de iate com a família. É a partir de Abu Dhabi lá que Colin fala com o Expresso sobre o fenómeno dos octógonos que aos 32 anos tenta voltar ao trono de campeão depois da reforma precoce de Nurmagomedov. “Mais do que uma hipótese, o título é uma inevitabilidade”, sustenta Colin. “Conheci-o quando ele começou a treinar MMA na Irlanda. Não era ninguém, mas qualquer um via que tinha qualquer coisa de especial. Este era o destino dele”.